Quem é Junior Rostirola, criador de um dos podcasts mais ouvidos do país

As mãos são praticamente extensão da voz e se mexem para reforçar o que é dito. O jeito expansivo pouco combina com um alegado passado de personalidade introspectiva. "Eu mal falava com 22 anos", conta o pastor Junior Rostirola, 42, autor de "Café com Deus Pai" — há semanas, o livro mais vendido no Brasil segundo ranking da revista Veja.

A trajetória deste catarinense começa numa tragédia familiar à brasileira — pai alcoólatra, violência doméstica, pobreza — e termina em sucesso, também à brasileira, versão 2.0 — uma igreja evangélica, um podcast, dois livros publicados, um deles com mensagens de autoajuda religiosa. No último mês, seu podcast "Café com Deus Pai" esteve sempre entre os cinco conteúdos narrativos mais ouvidos no Spotify.

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Para dar conta da rotina que o sucesso lhe impôs, Rostirola tem um cotidiano puxado: dorme poucas horas por dia e fica a maior parte do dia na igreja Reviver, em Itajaí (SC) — com participação nos cultos à noite, em dias alternados.

Pela manhã, costuma ainda em casa gravar o podcast. Cada "episódio" tem entre 2 a 5 minutos de duração. O pastor costuma almoçar no próprio trabalho. E, apesar da correria, sempre toma café da tarde com a família, por volta das 18h. "É uma cultura nossa."

Junior encontra brechas na agenda para fazer atividades físicas. Às terças-feiras, joga vôlei. As camisetas justas, usadas nas fotos que aparecem em seu perfil no Instagram, comprovam o esforço dos exercícios no supino, nas aulas de musculação. Normalmente frequenta a academia ao meio-dia, mas há vezes em que está nas barras às 23h. Quando não consegue ir, faz exercícios em casa. "Nada adianta cuidar da mente e espírito sem cuidar do corpo."

Infância difícil

Rostirola recebeu a reportagem do TAB em sua igreja em Itajaí.

Ele conta que, na infância, era aquele aluno ignorado na hora de formar times nas aulas de educação física. A palavra "bullying" mal existia, mas é como ele hoje define o que enfrentava na escola.

Em casa, o menino convivia com um pai alcoólatra e violento, que maltratava a mulher. De tanto apanhar do marido, abortou pelo menos três vezes. Decidida a não engravidar mais, adotou uma menina, a irmã mais velha de Rostirola. O pai prometeu que largaria o vício caso a esposa engravidasse de um menino, mas vieram outras duas meninas antes de Junior nascer. A promessa de paz durou pouco e a família continuou sofrendo.

Aos 13 anos, Junior teve depressão e, na época, afirma ter pensado em suicídio. Mas foi o convite de uma vizinha para ir a uma igreja evangélica que o fez virar a chave. "Tive um encontro com Deus e aquilo transformou minha vida. Naquele dia descobri que tinha um Pai."

As idas à igreja passaram a ficar frequentes, chegando a cinco vezes na semana. Um ano depois, o menino foi batizado. O encontro com a religião, segundo ele, acabou quebrando um ciclo de violência e alcoolismo iniciado por seu bisavô.

Mudança de planos

Com o tempo, a igreja acabou virando sua segunda casa. Foi lá que conheceu Michelle, sua esposa, com a qual teve dois filhos: João Pedro, 19, e Isabella, 13. Ela também é pastora.

Os dois começaram a namorar quando ele tinha 19 anos. Junior estava de olhos fechados, "orando para conhecer a mulher dos seus filhos", e de repente deu de cara com Michelle, à sua frente, também em oração. "A gente se apaixonou naquele dia."

Rostirola afirma que passou a tomar decisões a partir da "voz de Deus". Uma das ocasiões foi quando desistiu do curso de economia na Univali (Universidade do Vale do Itajaí) no 7º semestre. "Deus falou para trancar o curso e fazer teologia", conta o pastor, que foi estudar na FEC (Faculdade Evangélica Catarinense).

O sonho de virar gerente bancário ficou para trás. "Contudo, quanto mais eu caminhava rumo a esse sonho, mais distante ele ficava. Como assim? Era o meu sonho, não o projeto de Deus para mim", conta no livro "Café com Deus Pai".

Em 2007, ele foi convidado a se tornar pastor em Presidente Prudente (SP). Três meses depois, precisou voltar a Itajaí para estar perto do sogro, que tinha problemas de saúde.

"Quando voltamos a morar em Itajaí, o Espírito Santo falou algo por meio da minha esposa: 'Deus vai começar algo novo conosco; nosso tempo mudará'. Tenho essa frase gravada no meu coração até hoje", diz no livro.

A novidade seria a criação da igreja Reviver, em 2010. Na época, Michelle recebeu uma herança polpuda em forma de imóveis de alto valor aquisitivo — a quantia não foi revelada à reportagem. O dinheiro da venda foi revertido integralmente à igreja.

Reviver começou com a participação de oito pessoas na garagem da casa da sogra. Hoje, a igreja tem 6.000 membros e seis templos — a maioria no Rio Grande do Sul e uma unidade no Haiti, aberta em 2017 por um ex-garçom que conheceu Rostirola ao acaso. "Os primeiros dez anos da igreja foram para consolidar a sede. Depois começamos o plano de expansão."

A primeira incursão de Rostirola na área dos livros aconteceu em 2019, quando lançou "Encontrei um pai - a paternidade que você precisa", onde conta a história de sua infância. Dois anos depois, foi a vez de "Café com Deus Pai". O livro é dividido em 365 trechos, um para cada dia do ano, e traz também um "plano de leitura bíblica". A proposta é entregar ao leitor "porções diárias de renovação". Na capa, em vez de símbolos de fé, uma xícara de café.

Ao TAB, o pastor explica que seu intuito é levar o Evangelho a mais pessoas, sem exigir que elas estejam fisicamente numa igreja. Até agora já foram vendidos mais de 500 mil livros e, para 2024, a intenção é traduzir o volume para outros três idiomas (inglês, espanhol e italiano).

Críticas pelo apoio a Bolsonaro

O perfil de Junior Rostirola no Instagram reúne fotos e vídeos pessoais, trechos dos livros e mensagens de fé. Há uma identidade própria na página, que é administrada por duas pessoas — outras quatro fazem trabalhos pontuais. As postagens são diagramadas com capricho: uma imagem horizontal de Rostirola, na frente de um laptop sobre a mesa, foi dividida em dois posts. Parece perfil de um coach.

Dos mais de 1.800 posts publicados até dia 28 de abril, quatro demonstram as inclinações políticas do pastor — todas feitas entre outubro e novembro de 2022, época das eleições.

A que foi publicada em 1º de outubro trazia a legenda "Neste sábado, ore e jejue pelo Brasil". "Apaixonado pelo Brasil", o pastor escreve que quer ver o país transformado "pelo poder da oração", seguido por um trecho bíblico. No vídeo, quem canta é Ana Paula Valadão, filha de Márcio Valadão e dona da igreja Before The Throne Church, em Miami (EUA). A imagem ao fundo é a bandeira do Brasil.

Na postagem de 30 de outubro, dia do segundo turno, a legenda era "Hoje é um dia decisivo para nossa nação, que tanto amamos", com o pedido: "Deus, sara esta nação!".

Já as outras duas publicações são diretas em relação ao posicionamento político do pastor. Postada em 10 de outubro, a foto com Jair Bolsonaro foi tirada no Palácio do Planalto. A legenda: "Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas. Romanos 13:1."

Entre os mais de 600 comentários, há críticas ao pastor. "Deixando de seguir...pena que já encomendei o livro", disse uma mulher. "Terceiro pastor que deixo de seguir", observou outra seguidora. "Esse cara aí do seu lado não é de Deus.... Enquanto um familiar meu estava no hospital morrendo ele estava sorrindo e se alegrando com a morte de todos por covid.....", escreveu um homem.

À reportagem, Rostirola admite que votou em Bolsonaro nas últimas eleições, mas não se considera bolsonarista. O retrato ao lado do ex-presidente foi feito por ocasião de um encontro de pastores em Brasília. "Tiramos foto, tomamos café juntos, eu ouvi ele falar um pouco da experiência dele como presidente. Foi muito bacana."

"Estudando todos os candidatos, foi o que chegou mais perto daquilo que eu acreditava que era melhor para o nosso país. Agora, se ganhou outro candidato, eu torço pelo governo atual, oro pelo governo atual, para que ele faça um excelente trabalho." Sobre o governo Lula, disse que prefere falar "só depois do primeiro semestre".