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Após denúncia anônima, produtor de 'cogumelos mágicos' é preso em Mossoró

Imagem da apreensão em Mossoró (RN) - Polícia Civil/Divulgação
Imagem da apreensão em Mossoró (RN) Imagem: Polícia Civil/Divulgação

Carlos Minuano

Colaboração para o TAB, de São Paulo

31/07/2023 12h03

Um cultivador de cogumelos da espécie Psilocybe cubensis foi preso em Mossoró (RN) na última sexta (28). De acordo com a polícia, uma denúncia anônima deu início a investigação que durou cerca de quatro meses.

Segundo a polícia, o homem de 25 anos, que não teve sua identidade revelada, divulgava a venda dos cogumelos alucinógenos em redes sociais, como usuário e vendedor. O rapaz foi detido em sua casa.

A delegada Isabella Turl, do Denarc (Divisão Estadual de Narcoticos), responsável pela operação, disse ao TAB que o local funcionava como "um laboratório para a produção de psilocibina".

Entretanto, o que foi encontrado e apreendido, além de cogumelos in natura, secos e em cápsulas, foi uma estufa, material orgânico, borrifadores, apetrechos de vidraria, seringas e outros materiais utilizados para cultivo dos fungos, popularmente conhecidos como "cogumelos mágicos".

O caso expõe a confusão em torno da substância que brota naturalmente no esterco bovino (entenda o caso no vídeo acima). A psilocibina, contida em determinadas espécies de fungos, faz parte da lista de substâncias proibidas no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), junto com drogas como a cocaína e a heroína. Mas os cogumelos inteiros (ou in natura), não.

A própria ilegalidade do alucinógeno parece estar com os dias contados. Pesquisas no mundo e no Brasil apontam possibilidades de uso da psilocibina para tratamentos de depressão, ansiedade e vícios. Na Austrália, o uso médico foi autorizado.

Por isso, os sinais de entusiasmo que vem da ciência têm feito o consumo explodir em vários países, inclusive no Brasil -- principalmente na forma de microdoses, para fins terapêuticos e recreativos.

Entretanto, isso também acendeu o interesse de empresários, que começaram a obter lucros e a brigar por mercado promissor, mas ainda marginal, dos "cogumelos mágicos", conforme reportado pelo UOL na sexta-feira (28).

Cultivador em liberdade

O cultivador de fungos alucinógenos, que está sendo acusado de tráfico e produção de drogas, passou por uma audiência de custódia no sábado (29). Ele obteve a liberdade provisória, mas com medidas cautelares, como o monitoramento eletrônico.

"A operação foi acompanhada por uma perícia, que atestou a presença preliminiar de psilocibina nas cápsulas", justifica a delegada.

Mas, segundo Isabella, mesmo que tivessem sido encontrados apenas os cogumelos, haveria um ilicito relacionado ao artigo 34 da Lei de Drogas, que prevê insumos destinados à preparação de drogas.

A defesa do cultivador, ouvida pela reportagem do UOL, questiona o entendimento da polícia e argumenta que não houve ilegalidade. "A psilocibina é proibida quando extraída dos cogumelos", disse o advogado Carlos Dantas. Segundo ele, esse foi o tema central da audiência de custódia, que acatou o pedido de relaxamento da prisão.

"O promotor questionou sobre as cápsulas, mas ressaltamos que o que há nas cápsulas nada mais é do que o cogumelo fracionado in natura, isso não consta na portaria da Anvisa como ilegal."

De acordo com o advogado, o Ministério Público, presente na audiência, concordou com o argumento da defesa, ou seja, de que o laudo preliminar detectou no ambiente apenas os cogumelos.

Um laudo posterior ainda será produzido para constatar se houve ou não extração de psilocibina.

Cartela de LSD é um pôster, diz defesa

A polícia também apreendeu uma folha de papel que desconfia conter LSD, por causa da ilustração: o cartaz mostra um célebre desenho associado ao dia em que o cientista Albert Hoffman experimentou o LSD em seu laboratório na Suíça, em 1943.

"Suspeitamos que seja uma cartela do alucinógeno, porque estava pendurada em um varal, como se estivesse secando", disse a delegada. O advogado nega. "É uma folha de sulfite tamanho A4 que era usada como um pôster, para decoração. A perícia irá comprovar isso."

O advogado afirma que seu cliente desconfia que a denúncia anônima esteja relacionada ao grupo de Rogério Di Girolamo, 48, dono da loja Natureza Divina, um dos primeiros e maiores vendedores de cogumelos mágicos no Brasil.

Conforme noticiado pelo TAB, uma espécie de guerra se instalou no mundo dos cogumelos, envolvendo Di Girolamo.

"O acusado faz parte de grupos de cultivadores e disse que todos estão com muito medo de serem denunciados. Desconfia que seu caso possa ter relação com os outros", conta Dantas.