Só para assinantesAssine UOL

Brasil reduz 85% do déficit de vacina DTPa em crianças e deixa lista suja

O relatório publicado no último dia 15 pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e OMS (Organização Mundial da Saúde) com dados sobre imunização infantil no mundo mostra que o número de crianças sem ao menos uma dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (a DTP) caiu 85% em dois anos: de 687 mil em 2021 para 103 mil em 2023.

No Brasil, a vacina, também conhecida por tríplice bacteriana, é administrada pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações) como a vacina pentavalente — que ainda protege contra a influenza tipo B e a hepatite B.

Raio-x

A vacina DTP, diz o relatório, é um "indicador chave para a cobertura de imunização global". No mundo, o número de crianças que não receberam uma dose aumentou de 13,9 milhões, em 2022, para 14,5 milhões em 2023, na contramão do desempenho positivo do Brasil.

O relatório mostra que os avanços nas taxas fizeram o país sair da "lista suja", que é o ranking dos 20 países com mais crianças não imunizadas do mundo. Em 2021, o Brasil ocupava o 7º lugar, e em 2023 não faz mais parte dela.

Segundo o documento, o Brasil apresentou avanços em 14 dos 16 imunizantes pesquisados em 2023. Segundo o Ministério da Saúde, eles tiveram, em média, uma alta de pouco mais de 7 pontos percentuais. A que mais cresceu em cobertura, diz, foi o reforço da tríplice bacteriana, passando de 67,4% para 76,7%.

Agora, é fundamental continuar avançando, ainda mais rápido, para encontrar e imunizar meninas e meninos que ainda não receberam as vacinas. Esses esforços devem ultrapassar os muros das unidades básicas de saúde e alcançar outros espaços em que estão crianças e famílias, muitas em situação de vulnerabilidade, incluindo escolas, CRAS e outros espaços e equipamentos públicos.
Luciana Phebo, chefe de Saúde do Unicef no Brasil ao site da entidade

Apesar do bom resultado, ainda há um caminho a percorrer. O relatório aponta que, em 2013, 10 das 13 vacinas do calendário nacional de imunização alcançaram uma cobertura de 90% ou mais. Em 2023, só 4 das 15 vacinas alcançaram uma cobertura de 90% ou mais.

Uma preocupação da Unicef é como as taxas de vacinação estão estagnadas no mundo: a cobertura global de imunização infantil estagnou em 2023, deixando 2,7 milhões de crianças a mais não vacinadas ou com imunização incompleta, em comparação com os níveis pré-pandemia de 2019.

Continua após a publicidade

Entidade comemora, mas quer melhora

A pediatra Flávia Bravo, primeira-secretária e presidente da Comissão de Informação e Orientação da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), afirma que a mudança de curva é uma boa notícia, mesmo que o país ainda esteja longe da meta em alguns casos. "Esse dado é ótimo e motivo de otimismo, mas não é jogo ganho."

Como não atingimos as metas de cobertura ainda, só vamos relaxar quando conseguirmos as metas e, a partir daí, fazer a manutenção. O brasileiro gosta de vacina, mas tem de ter acesso, tem de confiar.
Flávio Bravo

Não é só negacionismo vacinal

Ela afirma que o aumento vem em um momento importante, já que, na pandemia, ganhou força no Brasil um negacionismo vacinal contra a covid-19. "Se você tem informações falsas e desinformações circulando, por diversos motivos, gera hesitação em um primeiro momento."

A questão da vacina contra covid desencadeou uma descrença para as demais. Foi um momento em que se fez campanha para desacreditar, e isso se estendeu a todos os imunizantes. Antes, que mãe queria saber onde era feita a vacina ou se ela tinha DNA? Ninguém tinha interesse, ia vacinar e só. Colocaram medo nas pessoas.
Flávio Bravo

Continua após a publicidade

Contudo, a pediatra diz que a queda não deve ser atribuída somente ao negacionismo e afirma que é preciso pensar estratégias diferentes porque "o Brasil é diverso". "Uma dificuldade de uma cidade grande não é a mesma de uma cidade ribeirinha. Temos aqui as causas mais variadas."

Não é só fakes news, mas o acesso aos locais, os horários de funcionamento das unidades. A falta do medo da doença também é um fator. Precisamos dar consciência às pessoas, melhorar a comunicação. A gente não tem tanto negacionismo no país. Podemos ter os evitantes, aquelas pessoas que não sabem da segurança e da importância da vacina.
Flávio Bravo

Zé Gotinha, símbolo do Programa Nacional de Imunização
Zé Gotinha, símbolo do Programa Nacional de Imunização Imagem: Reprodução/Gov.BR

Ações do governo

Em 2023 o governo lançou o Movimento Nacional pela Vacinação, para "retomar a confiança da população na ciência, no Sistema Único de Saúde (SUS) e nas vacinas".

Continua após a publicidade

Nós adotamos uma estratégia de planejamento local, vendo as dificuldades de cada região, conversando com gestores locais, mobilizando a sociedade de imunologia, de pediatria. Só é possível avançar na vacinação quando nós temos a sociedade integrada também nesse esforço ao lado do governo, e foi isso que aconteceu com múltiplas estratégias.
Nísia Trindade, ministra da Saúde

A pasta diz que aumentou o investimento para apoiar estados e municípios.

De forma inédita, R$ 150 milhões foram repassados por ano aos estados e municípios, em apoio às ações de imunização com foco no microplanejamento, ou seja, nas ações de comunicação regionalizadas. Para 2024, o mesmo valor está sendo destinado aos estados e municípios.
Ministério da Saúde

Também no ano passado foi lançado o programa Saúde com Ciência, "em defesa da vacinação e voltada ao enfrentamento da desinformação." Vários órgãos participam da ação.

A proposta faz parte da estratégia para recuperar as altas coberturas vacinais do Brasil diante de um cenário de retrocesso. A propagação de fake news é um dos fatores que impacta na adesão da população às campanhas de imunização.
Ministério da Saúde

Cinco pontos importantes sobre a importância da vacinação, segundo o Ministério da Saúde:

1- Proteção individual contra doenças - Vacinas são uma das formas mais eficazes de proteção contra doenças infecciosas graves. Manter a Caderneta da Criança atualizada garante que a pessoa esteja protegida contra elas.

Continua após a publicidade

2- Proteção da comunidade - Quando a maioria da população está vacinada, a propagação de doenças é reduzida, protegendo aqueles que não podem ser vacinados, como bebês, pessoas com sistemas imunológicos comprometidos e alérgicos a componentes da vacina.

3- Prevenção de surtos e epidemias - A manutenção de altas e homogêneas coberturas vacinais é essencial para evitar surtos e epidemias de doenças preveníveis por vacinas. Isso é especialmente importante em uma era de mais possibilidade de viagens internacionais frequentes, onde doenças podem se espalhar rapidamente.

4- Redução de custos de saúde - Prevenir doenças por meio da vacinação é muito mais econômico do que tratar infecções. Custos associados a hospitalizações, tratamentos médicos, perda de produtividade e complicações a longo prazo podem ser evitados com um programa de vacinação eficaz.

5- Cumprimento de requisitos legais para viagens - Alguns países exigem determinadas vacinas para permitir a entrada em seu território. O Certificado Internacional de Vacinação, emitido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é o documento brasileiro utilizado para comprovar a vacinação.

Deixe seu comentário

Só para assinantes