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Chegada de Marçal ao PRTB envolveu guerra no Pros e troca por Padre Kelmon

A chegada do atual candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal ao PRTB envolveu brigas e invasões ao diretório nacional do Pros, a substituição de Padre Kelmon na disputa municipal e um passado de acusações de fraudes em Goiânia.

O que aconteceu

A filiação de Marçal ao PRTB aconteceu em meio a uma briga interna na sigla. O empresário chegou ao partido em 5 de abril deste ano, um dia antes do encerramento do prazo para filiação de candidatos às legendas. Antes disso, a ex-dirigente da sigla Rachel Carvalho havia convidado Padre Kelmon, candidato à Presidência em 2022 pelo PTB e hoje filiado ao PL, para disputar a Prefeitura de São Paulo.

Atual presidente do partido, Leonardo Avalanche apostou em Marçal. A briga pelo comando da sigla entre Rachel e Avalanche, que representavam grupos adversários, acabou favorecendo a escolha do empresário para substituir Kelmon.

Rachel Carvalho participou de um evento com políticos de direita para convidar Padre Kelmon a entrar no PRTB. No dia 8 de março, o religioso anunciou a pré-candidatura à prefeitura paulistana pela sigla. Após o convite de Rachel, Avalanche chegou a gravar um vídeo confirmando Kelmon e dando até boas-vindas a ele no partido.

Kelmon diz não ter sido avisado sobre a substituição por Marçal. Pessoas ligadas ao religioso disseram ao UOL que ele soube da troca pela imprensa e que tentou falar com Avalanche, mas não conseguiu. Na avaliação do grupo ligado ao atual presidente da sigla, Marçal tem maior viabilidade eleitoral, além de não ser um nome indicado por Rachel.

Já Marçal buscava um partido após frustração com DC. O ex-coach havia procurado a Democracia Cristã, de José Maria Eymael, e inicialmente havia tido sinal positivo para sua pretensão. Mas dias antes, Eymael o contatou para dizer que o partido não lançaria candidato próprio — atualmente o candidato pelo partido é Bebetto Haddad.

Marçal carregava a frustração da candidatura que não se concretizou em 2022. Naquele ano, ele tentou disputar a Presidência pelo Pros — mas o partido teve a convenção anulada e a direção substituída em meio a brigas internas. A nova gestão escolheu não lançar candidatura e entrou na coligação de Lula (PT).

A aproximação com o PRTB aconteceu por meio do advogado Antônio Amauri Malaquias de Pinho. Conhecido como Amauri Pinho, ele apresentou Avalanche a Marçal, segundo ex-dirigentes do PRTB ouvidos pela reportagem. Antes de 2018, os três moravam em Goiânia, onde se aproximaram e mantiveram uma amizade que começou por meio de conexões políticas locais. Depois, o caminho de Marçal e Amauri se cruzou outra vez em 2022, quando ambos eram filiados ao Pros.

Da esquerda para direita, Amauri Pinho, uma advogada, Pablo Marçal e Leonardo Avalanche
Da esquerda para direita, Amauri Pinho, uma advogada, Pablo Marçal e Leonardo Avalanche Imagem: Reprodução/Instagram
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Questionado sobre como chegou ao PRTB, Marçal não menciona Amauri Pinho e disse que o partido foi indicado a ele pelo publicitário Sérgio Lima. "[Conheço Avalanche] desde agora, das eleições. Foi meu amigo Sérgio Lima que indicou, ele falou: 'Você está sem partido de última hora? E eu entrei de última hora", disse ele em entrevista à GloboNews, na última segunda (26).

Lima foi marqueteiro da campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2022. Ele também era o publicitário do Aliança pelo Brasil, partido que o ex-presidente tentou criar, sem sucesso. Também foi contratado por deputados de extrema direita, como Bia Kicis (PL-DF) e General Girão (PL-RN).

O publicitário confirmou ao UOL a versão de Marçal, mas disse não ter nenhuma relação com o PRTB. Lima afirmou que conheceu Avalanche e outros diretores da sigla em um evento em Brasília, no qual falaram casualmente sobre uma possível candidatura de Marçal. "Eles já estavam buscando um candidato, deviam estar lá em Brasília por isso", disse. "Nunca tive nada com eles, com o PRTB, nem o novo nem o antigo."

As fraudes de Pinho em Goiânia

Amauri Pinho foi preso em novembro de 2017 durante a Operação Mercador de Fumaça, realizada pela Polícia Federal. O advogado, que hoje é vice-presidente do PRTB, foi denunciado pelo Ministério Público por exercer tráfico de influência em decisões proferidas pelo STF e pelo STJ.

As investigações da PF apontaram que Pinho negociava valores com o objetivo de influenciar nas decisões de tribunais. O nome da operação faz referência ao fato de que Pinho "vendia fumaça", ou seja, uma influência não comprovada. Ele é homem de confiança de Avalanche.

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Pinho teria cobrado R$ 2 milhões para reconduzir ao cargo um prefeito afastado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Segundo o advogado, parte dos valores seria utilizada para pagar assessores de ministros dos tribunais superiores para garantir um "retorno rápido" do político às suas funções.

Amauri disse ao UOL, por meio de nota, que foi absolvido pela Justiça. "O advogado Antônio Amauri Malaquias de Pinho, atual vice-presidente Nacional do PRTB, foi absolvido há um ano de acusações que alegavam sua participação em negociações de tráfico de influência junto ao STJ e STF" disse por meio de nota.

Amauri Pinho e Leonardo Avalanche
Amauri Pinho e Leonardo Avalanche Imagem: Reprodução/Instagram

Já contra Avalanche pesam acusações de ex-dirigentes do PRTB de envolvimento em estelionato por criptomoedas e em fraudes de candidaturas femininas. Além disso, o atual presidente do PRTB é suspeito de envolvimento com lideranças da facção PCC (Primeiro Comando da Capital).

Presidente do partido também é acusado de fraudar o estatuto da legenda. Fontes ligadas à sigla afirmam que Avalanche passou a fazer acordos financeiros nos estados e destituiu diretórios regionais de forma unilateral. Também é acusado por ex-integrantes do partido de incluir membros no diretório nacional sem eleições válidas. Ele não respondeu ao pedido de manifestação feito pelo UOL.

Em 2005, Marçal foi condenado por envolvimento com quadrilha de fraudes bancárias pela internet em Goiânia. Segundo a investigação, Marçal captava emails e operava o programa que roubava os dados bancários das vítimas — ele nega e diz que só fazia manutenção dos computadores do chefe do esquema, por precisar de dinheiro. À época, tinha 18 anos. Cinco anos depois, em 2010, ele foi sentenciado a 4 anos e 5 meses de prisão. Ele recorreu até a punição prescrever em 2018.

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Articulador do Pros apresentou Marçal a Avalanche

A primeira investida de Marçal na política foi em 2022. Naquele ano, o influenciador se filiou ao Pros, que vivia uma guerra interna há dois anos entre dois grupos: um comandado por Eurípedes Gomes Júnior, e o outro, por Marcus Vinícius de Holanda. Este último, apoiava a ideia de ter Marçal candidato à presidência naquele ano.

Denúncias de corrupção atingiam ambos lados na briga do Pros. Eurípedes era acusado pelo grupo de Marcus de ser conivente com denúncias de corrupção envolvendo pessoas do partido. Por isso, deveria deixar a presidência da sigla. Já Eurípedes alegava que os métodos de Marcus eram ilegais, e as denúncias, infundadas.

Sob Marcus, Pros fez convenção que oficializou candidatura de Marçal à Presidência em 2022. Logo depois, porém, o TSE devolveu o comando do Pros a Eurípedes. Marcus se manteve na direção do partido graças a uma decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, mas Eurípedes recorreu ao STF, alegando que a Justiça comum não tinha competência para avaliar o caso.

O então ministro do STF Ricardo Lewandowski acatou o recurso. Ele reconduziu Eurípedes à presidência, anulando todos os atos de Marcus — e, assim, a candidatura de Marçal. Eurípedes, que fundiu a sigla ao Solidariedade, foi preso em junho deste ano por suspeitas de desvio de R$ 36 milhões do fundo partidário e eleitoral.

Batalha do Pros virou caso de polícia. As desavenças internas do partidos começaram em 2020, quando um grupo chegou a invadir a sede do Pros em Brasília e fez uma convenção que nomeou Marcus como novo presidente, e Amauri Pinho, como vice. Segundo relatos, o imóvel foi ocupado por cerca de 50 seguranças armados que impediram a entrada do grupo de Eurípedes. O ex-dirigente entrou com um pedido de reintegração de posse na Justiça e conseguiu a desocupação do imóvel.

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Eurípedes Gomes Jr. (à esq.) e Marcus Vinícius de Holanda (à dir.)
Eurípedes Gomes Jr. (à esq.) e Marcus Vinícius de Holanda (à dir.) Imagem: Reprodução/Pros

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, quem contratou o marqueteiro Sérgio Lima foi o deputado General Girão (PL-RN), e não o senador Eduardo Girão (Novo-CE). A informação foi corrigida.

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