'Coach do lar': Carol Marçal prega 'submissão' em cursos de até R$ 10 mil
Mulher do candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB), Ana Carolina Marçal também atua como coach, mas num segmento voltado para "mulheres do lar", ao estilo do movimento conservador tradwife.
Casada com Pablo há 15 anos, Carol, como é conhecida nas redes, tem um público cativo de mulheres cristãs dispostas a aprender com ela como criar os filhos, manter o casamento e ainda "ativar o Reino de Deus" em seus lares.
Nas poucas declarações que deu sobre política, ela mostrou-se relutante às candidaturas do marido, mas decidiu apoiar sua decisão por considerar que a disputa seria para Pablo um "chamado de Deus".
"Não há ser algum que possa parar aquilo que Deus quer fazer", escreveu no dia 25 de agosto em seu perfil no Instagram.
No dia anterior, a Justiça havia suspendido as redes sociais do marido por descumprimento da legislação eleitoral.
No lançamento da candidatura, 20 dias antes, a empresária já havia feito um pequeno discurso em tom religioso.
"Se Deus colocou no coração do Pablo para ele ir, ele vai obedecer. Não importa o que aconteça, quantos se levantem contra ou o que falem contra. Nós não obedecemos homens, nós obedecemos ao Rei dos Reis e ao Senhor dos Senhores", disse Ana Carolina ao lado dos quatro filhos, do marido e apoiadores.
Mas o suporte é dado à distância. Ela não costuma acompanhar Pablo em agendas de campanha, como compromissos de rua e debates. Tampouco faz comentários nas redes sobre os embates eleitorais do marido.
Nem mesmo a cadeirada sofrida por Pablo no debate da TV Cultura desviou o foco da empresária, que se apresenta como uma "mulher de princípios e valores cristãos, mãe de três generais e uma princesa".
Nas eleições de 2022, Carol acabou por se envolver de outra maneira: foi condenada por doações ilegais de campanha. Alegou inocência, mas teve que pagar multa de R$ 180.872,66 à Justiça Eleitoral.
Procurada, a assessoria de imprensa do candidato não respondeu ao pedido de entrevista com a empresária, nem se manifestou a respeito da condenação.
'Homem viril, mulher submissa'
Enquanto Pablo oferece mentorias que custam até R$ 300 mil e prometem a inserção dos participantes no mundo do empresariado, Carol Marçal dedica-se às mulheres ou, como gosta de chamar, "princesas".
Assim como o marido, a coach também cobra para compartilhar suas experiências. Pela internet, oferece cursos, livros, diários para ajudar na rotina da casa e palestras ao vivo.
A depender do produto, o valor pode chegar a R$ 10 mil. Foi esse o preço cobrado, por exemplo, das participantes do evento "Imersão - A Mulher do Reino", um encontro presencial de dois dias ocorrido em abril de 2022.
A tônica é reforçar a virilidade do homem e a submissão da mulher nos relacionamentos amorosos, tendo como base trechos bíblicos.
Em parceria com o marido, Ana Carolina também disponibiliza uma plataforma chamada "A base de tudo", por R$ 300 ao ano.
O canal funciona como um streaming de conteúdos produzidos pelo casal e outros coaches sobre as mesmas temáticas: criação dos filhos, casamento, prosperidade financeira e combate ao "marxismo cultural".
A empresária protagoniza ainda o podcast "Café com Carol Marçal", no qual atua como uma líder espiritual, sempre abordando uma passagem bíblica para orientar as seguidoras a como agir diante do marido e dos filhos.
Em uma das edições, o ensinamento é sobre submissão, tema que, segundo Ana Carolina, ainda é regado de polêmicas.
"Mulher, se você tem dificuldade de se submeter ao seu marido, se você fala: 'Carol, ele não me ama, ele não me valoriza, ele faz tanta sacanagem comigo', erga ele no nível mais alto possível que aí vai ser fácil se submeter", explica.
E segue: "Comece a olhá-lo com bons olhos. Comece a ver as qualidades que ele tem. Declare que assim ele é e assim você vai estar levantando-o no nível mais alto, e aí eu te garanto que vai ser muito fácil se submeter a ele".
'Marxismo cultural'
Ana Carolina Marçal costuma relacionar o suposto fracasso das famílias ao que ela chama de "marxismo cultural".
No livro "Família, a base de tudo", a empresária afirma que "a destruição da família é algo intencional, criado por Karl Marx".
Segundo a empresária, o filósofo alemão instaurou a doutrina comunista no dia a dia das famílias para que a sociedade se tornasse igualitária.
"A ideia parecia ser boa, mas não é possível todos serem iguais. Somos todos criados à imagem e semelhança do Criador, porém ele não nos trata da mesma forma. É certo que ele tenha filhos mais íntimos, como Moisés", relata.
Para Ana Carolina, as mulheres não podem querer ser como os homens nem tentar impedir que eles exerçam seu patriarcado, sob o risco de terem filhos rebeldes.
"Tudo isso é fruto do marxismo cultural, que busca ferir a imagem e a autoridade do homem para que ele não proteja mais sua família", afirma, nos primeiros capítulos do livro.
Os exemplos dessa destruição anunciada são "Os Simpsons" e "Peppa Pig". A porquinha inglesa, segundo Ana Carolina, "reduz o poder do pai" e deve ser combatida.
As teorias do casal, no entanto, passam longe da estratégia de campanha de Pablo.
O candidato até combate o que classifica como "consórcio comunista" que tenta chegar ao poder em São Paulo - em referência a todos os adversários praticamente, com destaque para Guilherme Boulos (PSOL), mas, em busca de votos, evita propagar suas ideias sobre casamento, criação de filhos ou feminismo.
A explicação está nas pesquisas de intenção de votos. Segundo o Datafolha, Pablo Marçal é rejeitado por 53% das mulheres em São Paulo.
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