Duelo jovem x velho de Fortaleza será tema em 2026, diz cientista política

Tudo o que envolve os 31 anos de diferença entre André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) dá o tom da disputa para a Prefeitura de Fortaleza, a mais acirrada das eleições deste ano.
Para a cientista política Monalisa Soares, professora da Universidade Federal do Ceará, o duelo entre o "jovem" e o "velho" será um assunto relevante na eleição para presidente, em 2026.
"É um tema que ficou posto nas eleições americanas e precisamos ficar de olho nele para a próxima eleição", afirma Soares em entrevista ao UOL.
Os dois candidatos aparecem tecnicamente empatados nas principais pesquisas de intenção de voto — Fernandes com 51% dos votos válidos e Leitão com 49%, no último Datafolha.

O vigor atlético de Fernandes, 26, é destaque na campanha. No debate da afiliada local da TV Globo, ele afirmou que, diante de si, o adversário ficava nervoso. "Chega de velharada", disse, nos momentos finais.
"Você me respeite, tenho idade para ser seu pai", afirmou Leitão, 57, diante de outra provocação feita por Fernandes - de que defenderia traficantes.
Contra a juventude do rival, o petista costuma mencionar seu currículo nas redes sociais.
Economista, bacharel em direito e servidor público concursado, ele é deputado estadual e foi presidente do Ceará Sporting Club, time da Série B do Campeonato Brasileiro.

Eleitores entram nesse jogo nas redes até mesmo para comparar a experiência de Leitão ao passado de Fernandes, que quando era youtuber fez um vídeo ensinando a depilar a região anal.
Ao UOL, Monalisa Soares também avalia os impactos do resultado em Fortaleza para Ciro Gomes, candidato derrotado à presidência, e para Camilo Santana, ministro da Educação de Lula.
O candidato de Ciro, o prefeito José Sarto (PDT), perdeu no primeiro turno. Ciro não declarou apoio explícito a Fernandes, mas seu grupo político, sim. Camilo apoia Leitão.
Para Soares, Ciro Gomes pode ter visibilidade nacional, mas no Ceará tem importância "nula".

A seguir, os principais trechos da entrevista:
Jovens versus velhos
No primeiro turno, a campanha mobilizou a lógica do vigor. O prefeito José Sarto (65 anos, do PDT) fez uma aposta complexa em vincular a imagem à juventude, falando gírias. Capitão Wagner (45 anos, do União Brasil) aparecia nas propagandas correndo. Fernandes personifica esse vigor, com vídeos em cima de caixa de som, também correndo.
Isso tem a ver com o tom da campanha, muito marcada pela lógica da mudança e da renovação. Fernandes condensa os elementos que, do ponto de vista etário, representam essa ideia.
Assim, o contraste dele com Evandro Leitão ficou muito forte. Um candidato jovem versus um candidato mais velho representa, em alguma medida, essa ideia que Fernandes busca apresentar da velha política versus a nova.
O petista tentou traduzir isso em outro binarismo: experiência versus inexperiência.
Esse será um tema relevante se pensarmos nos desdobramentos da política brasileira. Isso foi posto nas eleições americanas e tem sido apontado pelo debate público como importante para a disputa nacional em 2026.
Escondendo o bolsonarismo
André Fernandes não fez uma campanha de direita. Fez uma campanha moderada. Disse várias vezes que queria apresentar propostas e não ficar preso a temas da polarização. Fez isso porque sabia que a polarização o prejudicaria.
O acirramento da linguagem bolsonarista ocorreu mais na reta final do segundo turno, com o alto grau de competitividade, quando Fernandes precisou explorar os pontos de rejeição à campanha petista.
Ciro Gomes
Ciro foi um personagem completamente ausente. Não foi mencionado ou acionado em nenhum momento da disputa. Isso tem a ver com a péssima imagem que ele tem em Fortaleza.

Não sei por qual caminho passa a sobrevida de Ciro. No caso de uma vitória de Fernandes, seria tomar demais do empréstimo uma vitória que não passou de modo nenhum pela mão dele.
O lugar que ele terá à mesa na formação de um projeto oposicionista no Ceará será concedido pelos bolsonaristas, uma posição de coadjuvante.
Ciro nem é mais um personagem tão central assim. Ele foi candidato a presidente, é uma figura que tem visibilidade nacional. Mas, na política local, sua incidência eleitoral é praticamente nula.
Isso ficou muito evidenciado quando o próprio candidato do seu grupo no segundo turno (André Fernandes) nem sequer o mencionou para qualquer coisa.
Camilo Santana
O nível de competitividade da campanha de Evandro Leitão é uma vitória e mostra a força de Camilo Santana. Leitão é um candidato recém-ingresso no PT (era do PDT), completamente desconhecido, que chega no primeiro turno com 34% dos votos.
Se Leitão vencer, vamos ter a consolidação mais do que atestada da imensa força política do ministro. E a projeção de uma relevância ainda maior para a definição dos rumos da política no Ceará.
Em última instância, ele terá sido a liderança que emprestou todo o seu capital e conseguiu derrotar todos os opositores juntos.
Por outro lado, se Leitão for derrotado, é um baque, porque é uma candidatura diretamente ligada a ele, mas não compromete o prestígio do ministro na política cearense.
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