Não serei só mais um, diz Mello Araújo, vice bolsonarista de Nunes
Em entrevista ao UOL em 2017, Ricardo de Mello Araújo (PL), então coronel da Polícia Militar de São Paulo, foi enfático: "Não sou político e não gosto de falar muito sobre política".
Sete anos depois, a resposta parece controversa. Mello Araújo, 53, deixou o comando da Rota para se tornar vice-prefeito eleito da capital paulista e personificação do bolsonarismo no segundo mandato de Ricardo Nunes (MDB).
Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para compor a chapa, Mello Araújo promete participação ativa na gestão. "[Estou] À vontade para trabalhar", disse. "Não estou aqui para ser mais um."
O futuro vice-prefeito usa o currículo multidisciplinar para justificar a intenção de atuar na prefeitura em "qualquer área que possa ajudar a melhorar cada vez mais São Paulo".
Mello Araújo é formado em segurança pública pela Academia do Barro Branco, educação física pela Escola de Educação Física da Polícia Militar e direito pela Faculdade Integrada de Guarulhos.
Ele também fez especialização em fisiologia do exercício pelo Instituto de Ciências Biológicas da USP e obteve um mestrado em ciências policiais e ordem pública no Centro de Altos Estudos da PM.
Em cargos de gestão, foi comandante da Rota entre 2017 e 2019 e presidente da Ceagesp entre 2020 e 2023.
Público e privado
"Então, assim, para mim é indiferente. Subprefeitura, Saúde, Educação? São áreas que eu gosto", afirma Mello Araújo quando compara a gestão pública à administração privada.
Na empresa privada, você tem o 'VP', que é o vice-presidente. Ele não fica com uma pasta, ele ajuda a empresa a ir para a frente. A Prefeitura de São Paulo é como uma empresa: ela leva o serviço para a comunidade, para as pessoas da cidade. Vamos fazer agora como na Polícia Militar: você tem a figura do subcomandante. O que ele faz? Ele ajuda o comandante a fazer com que toda a estrutura funcione para a comunidade. Acho que posso até servir muito mais assim.
Ricardo de Mello Araújo, vice-prefeito eleito de São Paulo
Aliados de Mello Araújo o veem como alguém "inquieto", com perfil para ser como uma peça "curinga" em diversas áreas — entre elas, segurança pública e transportes.
"Ele tem todos os requisitos para assumir uma função de relevância, pelo conhecimento e pela tecnicidade que tem", afirma o vereador coronel Salles (PSD), ex-comandante-geral da PM paulista.
Para Salles, amigo de Mello Araújo há mais de 35 anos, o colega se aproximou da política por um "chamado".
"O trabalho que ele fez no Ceagesp foi brilhante. Tínhamos notícias de prostituição, uso de entorpecentes. Ele trouxe luz aos contratos", completa.
No discurso de vitória, Nunes citou o vice chamando-o de "herói". "Uma indicação preciosa do nosso presidente Jair Bolsonaro", falou.
O prefeito disse que ainda não conversou com o vice sobre suas funções, apenas sinalizou que Mello Araújo pode ter "uma secretaria executiva para cuidar de pontos específicos".
"Ele pode me ajudar na questão da segurança pública, na questão da zeladoria, acompanhar mais de perto algumas políticas públicas que a gente está desenvolvendo e desenvolver algumas mais específicas, que eu chamo de ações prioritárias", disse Nunes.
A abordagem nos Jardins
Quem conviveu com Mello Araújo na campanha afirma que ele não é uma pessoa fácil de se lidar.
Apesar da sugestão dos marqueteiros, ele não aceitou fazer media training — treinamento para responder a jornalistas — para "não parecer quem não é".
O coronel tem em seu histórico uma declaração polêmica sobre segurança pública: disse que a abordagem policial nos Jardins, bairro nobre da cidade, tem de ser diferente daquela que ocorre na periferia.
Ele também não quis manter uma agenda própria de campanha. Acompanhou boa parte da rotina do prefeito, mas quase como um "observador".
No último compromisso oficial do segundo turno, no sábado, permaneceu por mais de 17 minutos, sempre em silêncio, ao lado de Nunes durante a entrevista coletiva.
O prefeito só concedeu a palavra ao companheiro de chapa nos últimos 36 segundos da entrevista e apenas após ser cobrado por um jornalista: "O coronel não vai falar nada?".
Mello Araújo parecia nem fazer questão e, de forma resumida, disse: "Foi minha vez e já entrei pegando essa experiência negativa. No começo parecia mais um teatro, uma tragicomédia", afirmou o coronel, referindo-se aos confrontos nos debates do primeiro turno.
Calado, ele não criou amizades com assessores e muito menos com políticos, de quem faz questão de manter distância — com exceção do ex-presidente Bolsonaro. O coronel tem amizade com o ex-presidente.
Mas, diferentemente dos demais bolsonaristas que já foram policiais, Mello Araújo não tem o costume de comentar seu passado na corporação.
Ele respondeu por oito mortes e não fala de nenhuma demonstrando orgulho, o que chega a incomodar quem trilhou o mesmo caminho.
Com fama de incorruptível entre aliados, já ensaia como "colocar ordem" na cidade.
Ao ser procurado por comerciantes descontentes com os serviços públicos prestados pelo município, ele já se sente confortável para cobrar subprefeitos ou fiscalizar ele próprio o atendimento ofertado.
Mello Araújo comemorou neste ano a aprovação do filho caçula Gabriel, 19, na Academia de Polícia Militar do Barro Branco.
"Vai sair oficial, especialista em segurança pública e com quatro anos de direito. Segue a minha trajetória, do meu pai e do meu avô. É idealismo mesmo", disse o coronel.
O filho mais velho, Pedro, 20, também segue a trilha do pai, que é treinador físico.
"Ele é nadador, atleta profissional, e estuda em Ohio, nos Estados Unidos, com bolsa integral", conta, ao lado da mulher, Valdirene, que acompanha os passos do marido desde o tempo em que o irmão cursou a mesma academia de polícia.
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