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Extrema direita se comunica melhor, diz prefeito eleito do PT em Fortaleza

Evandro Leitão (PT), prefeito eleito de Fortaleza, se considera parte de uma esquerda moderada — ou, como prefere, de centro-esquerda.

Em entrevista ao UOL no dia seguinte à vitória nas urnas, Leitão afirmou ser contra "todos os extremismos".

"Acredito no diálogo, em ponderar, em ceder em algum momento", disse o prefeito eleito, que até dezembro de 2023 era do PDT.

Durante a campanha acirrada do segundo turno contra André Fernandes (PL), a quem superou por 10.838 votos (0,76% dos votos válidos), ele reforçou para os eleitores a imagem de homem tradicional.

A aproximação com o centro — sua vice, Gabriella Aguiar, é do PSD de Gilberto Kassab — e a fuga da defesa das pautas identitárias são vistas pela campanha como decisivas para a vitória nas urnas.

Na véspera do dia da eleição, ele participou de uma carreata pelo Conjunto Ceará, maior bairro da capital.

O local é visto como a "Pensilvânia de Fortaleza", pela capacidade de decidir uma eleição, a exemplo do estado norte-americano.

Durante a carreata, ele acenava para os eleitores enquanto o locutor do carro de som dizia "Evandro é o candidato da família".

No discurso de vitória, agradeceu a Deus "antes de tudo" e rezou um Pai Nosso e uma Ave Maria puxados pelo ministro da Educação de Lula, Camilo Santana, seu principal cabo eleitoral — Santana governou o Ceará entre 2015 e 2022.

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"Sou católico praticante, toda semana vou à missa", disse ao UOL.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

O presidente Lula (PT) em comício de Evandro Leitão, prefeito eleito de Fortaleza, ao lado do ministro da Educação, Camilo Santana, e do governador Elmano de Freitas
O presidente Lula (PT) em comício de Evandro Leitão, prefeito eleito de Fortaleza, ao lado do ministro da Educação, Camilo Santana, e do governador Elmano de Freitas Imagem: Jarbas Oliveira/Divulgação

Ceará: oásis do PT no Brasil

O Ceará foi o estado onde o PT teve o maior destaque. Fizemos 46 prefeitos, mais a capital. O maior líder político do nosso estado é o ministro da Educação. Essa conjuntura dá uma grande responsabilidade para os líderes locais, mas gosto de desafios.

Único prefeito de capital do PT

É fato que isso nos dá uma visibilidade maior. Mas cada etapa da nossa vida tem que ser muito calculada. Aprendi que humildade nunca é demais. Temos que ter humildade para saber que estamos bem no Ceará, mas, por outro lado, precisamos avançar em outros setores da gestão pública. Precisamos ter calma e paciência. Estamos no começo de uma jornada.

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Avanço da extrema direita no Nordeste

Precisamos nos comunicar melhor com o eleitor, sobretudo com alguns segmentos da sociedade. A extrema direita está tendo uma capacidade de diálogo bem melhor do que a nossa. O Brasil teve muitos avanços nos governos do PT. Só aqui no nosso estado foram 600 mil cearenses que saíram da extrema pobreza.

Os índices da economia melhoraram. Taxa de desemprego caindo assustadoramente, o salário mínimo num crescente, com ganho real. Mas não conseguimos nos comunicar com a população. Precisamos melhorar.

O PT tem que fazer uma reflexão sobre o que tem feito. Falo do PT porque é meu partido. Refletir sobre o que fez nos últimos 15 anos e o motivo do avanço da extrema direita.

André Fernandes (PL), candidato vencido por Leitão em Fortaleza: comunicação forte
André Fernandes (PL), candidato vencido por Leitão em Fortaleza: comunicação forte Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Pauta de costumes

Eleição municipal tem que discutir os problemas da cidade. Não que as pautas de costumes não sejam importantes, mas elas ficam em segundo plano, a meu ver. A população quer saber se o candidato tem propostas que vão impactar diretamente na vida dela — na saúde, na educação, na pavimentação.

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Mas a extrema direita se apropriou do tema de uma maneira que terminou rotulando o campo progressista como se todos fôssemos a favor do aborto. Temos dificuldade em nos comunicar em determinadas pautas, e assim houve um avanço da extrema direita.

O voto religioso

Muito se dizia que os evangélicos estavam com a extrema direita. Mas, a meu ver, hoje não são apenas os evangélicos. O fato é que evangélicos e católicos têm uma dificuldade com o campo progressista. Acho que muito se deve a uma questão de comunicação, de saber dialogar com esses segmentos.

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