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A tabela entre parlamentares e imprensa que deu força à queda de Collor

O vazamento para a imprensa de um cheque que viria a ser prova crucial para o impeachment de Fernando Collor de Mello convenceu um parlamentar importante que não havia outra possibilidade a não ser a queda do então presidente.

O jornalista escolhido para receber a informação foi Jorge Bastos Moreno, repórter especial de O Globo, e o cacique a ser convencido era o deputado federal Ulysses Guimarães (PMDB-SP).

Como essa conexão aconteceu é uma das histórias contadas pelo jornalista Luís Costa Pinto no podcast "Trapaça - A Saga do Jornalismo na Política", que fala sobre a atuação da imprensa e os bastidores do impeachment de Collor.

"Trapaça" estreia nesta terça-feira no Spotify, no YouTube Podcasts, no Deezer e na Apple Podcasts.

Ulysses havia sido presidente da Assembleia Nacional Constituinte e, assim como Leonel Brizola (PDT), governador do Rio, e Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente do PT, resistia à ideia do impeachment.

Todos eles, líderes de seus partidos, haviam sido derrotados por Collor na eleição presidencial de 1989.

A estratégia para dobrar Ulysses foi desenhada pelo senador Mário Covas (PSDB-SP) -outro candidato em 1989- e pelo deputado federal Sigmaringa Seixas (PSDB-DF).

Moreno havia sido assessor de Ulysses em 1989. O deputado tinha uma relação paternal com o jornalista e costumava escutar suas ponderações em momentos de alta tensão política.

Os jornalistas Luís Costa Pinto (terno marrom, sem barba) e Augusto Fonseca (terno marrom, de barba) cumprimentam o presidente Fernando Collor e o ministro Jorge Bornhausen
Os jornalistas Luís Costa Pinto (terno marrom, sem barba) e Augusto Fonseca (terno marrom, de barba) cumprimentam o presidente Fernando Collor e o ministro Jorge Bornhausen Imagem: Orlando Britto/Arquivo Pessoal de Luís Costa Pinto
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Covas e Seixas integravam a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investigou o envolvimento de Collor com o esquema de corrupção comandado pelo empresário Paulo César Farias, o PC, que havia sido seu tesoureiro de campanha.

Os parlamentares articularam para que chegasse a Moreno um cheque, sacado das contas de PC Farias e assinado por sua secretária, Rosinete Melanias, em nome de um dos "fantasmas" do esquema.

Outros deputados foram impactados pelo movimento, como Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA).

Mesmo sendo contra o impeachment, ele soube que o documento seria vazado para Moreno antes da publicação da reportagem. Luís Eduardo e o jornalista também eram amigos.

A estratégia de revelar esse cheque, que havia sido usado para quitar um Fiat Elba de Collor, foi fundamental para a oposição apoiar o impeachment.

O furo jornalístico de O Globo levou Ulysses e, em seguida, Leonel Brizola a mudarem de posição e passarem a atuar a favor da saída do presidente.

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A testemunha capital que revelou o elo entre o esquema PC e o presidente foi o motorista Eriberto Freire França, que realizava operações bancárias e pagamentos acatando ordens da secretária de Fernando Collor.

Um mês após a entrevista de Pedro Collor, irmão do presidente, à Veja -que rendeu a capa "Pedro Collor Conta Tudo"—, Eriberto foi descoberto pela principal concorrente, a Istoé.

Prestador de serviços da Radiobrás (hoje EBC), ele confirmou que realizava operações bancárias e pagamentos para a secretária de Collor.

Jornalista deu álibis à fonte

Durante o processo de convencimento de Pedro Collor para falar com a Veja, Luís Costa Pinto se tornou amigo e confidente dele e de Thereza Lyra Collor de Mello.

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O jornalista atendeu a pedidos de Pedro para que dissesse à esposa que os dois estavam juntos enquanto o irmão do presidente ia a festinhas privadas e baladas no Rio.

Luís Costa Pinto também testemunhou investidas de Pedro Collor à comissária Wanya Guerreiro, que havia mantido casos com o irmão do presidente e o empresário PC Farias.

Wanya chegou a ser capa da revista Playboy (à época, da Editora Abril).

O episódio ocorreu enquanto o jornalista voava com Pedro Collor de São Paulo a Recife, para de lá pegarem um jatinho para Maceió.

Ao desembarcarem na capital alagoana, Pedro foi informado de que havia sido destituído do comando das empresas da família e decidiu gravar para a Veja.

Irmão de Collor tentou recuar até a última hora

Após conceder a entrevista com ataques a PC Farias em áudio e vídeo, e de reafirmá-la ante a direção de Veja e do dono da editora Abril, Pedro Collor quis desistir da publicação quando os exemplares estavam sendo impressos.

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Não era só temor de processos que o faziam recuar: o irmão do presidente negociava financeiramente com o Palácio do Planalto uma volta atrás no que havia dito à revista.

Uma negociação tensa entre ele, Thereza e Costa Pinto fizeram-no assinar um documento declarando ter dado a entrevista espontaneamente e "em pleno gozo" de suas faculdades mentais.

Só assim a edição da Veja pôde circular, pois houve ameaça de recolhimento da edição em bancas -algo que só havia ocorrido durante a ditadura militar.

Os bastidores do 1º impeachment presidencial

O podcast "Trapaça - A Saga do Jornalismo na Política" terá oito episódios, dois por semana, publicados às terças e quintas-feiras. A primeira temporada é "A Guerra dos Collor".

O jornalista Luís Costa Pinto mostrará os bastidores da bombástica entrevista que ele fez com Pedro Collor, irmão do presidente, em que o empresário delatou PC Farias.

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A imprensa brasileira entrou de cabeça na cobertura só depois de a revista Veja convencer Pedro Collor a falar.

As denúncias viraram uma bola de neve, com depoimento de um motorista, o vazamento ao jornal O Globo e a criação de uma CPMI no Congresso.

O relatório da comissão deu base ao pedido de impeachment apresentado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), junto à Câmara dos Deputados. Collor deixou o cargo em 1992.

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