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Prefeitura de SP entregou cinco piscinões no primeiro mandato de Nunes

A administração do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), entregou cinco piscinões até o fim do primeiro mandato (2021-2024). A meta foi reformulada em 2023, quando passou a contar outras obras, como canalizações, microdrenagens e contenções de áreas.

O que foi prometido

No Programa de Metas de 2021, Nunes acenou que iria construir 14 novos piscinões — a cidade já possui 68. O objetivo é ''reduzir as áreas inundáveis da cidade e diminuir os prejuízos causados à população pelas enchentes''.

Os piscinões são a principal aposta da prefeitura contra alagamentos. Esses reservatórios de concreto, que armazenam temporariamente o excesso de água das chuvas, são defendidos pela gestão municipal no Plano Diretor de Drenagem do município.

O que aconteceu

Dos 14 reservatórios previstos, Nunes entregou cinco. Foram eles: Paciência (zona norte), em dezembro de 2021; Taboão (zona leste) e Aricanduva R3 (zona leste), em março de 2022; Perus R2 e R3 (zona norte), em junho de 2024.

Em abril de 2023, a meta dos piscinões foi alterada para ''230 obras no sistema de drenagem''. As intervenções, então, passaram a incluir reservatórios de armazenamento, canalizações de córregos, contenções em áreas de risco e microdrenagem. Ao final de 2024, foram finalizadas 241 delas.

Com a mudança no programa de metas, a prefeitura alega que executou 87% do previsto e mais de R$ 7 bilhões foram investidos em drenagem entre 2021 e 2025. Gestão disse que a meta ''sofreu transformações para identificar mais claramente os esforços da prefeitura''. As obras de piscinões foram parcialmente mantidas, mas a prefeitura "expandiu o escopo" para reduzir as regiões inundáveis.

Quais os próximos passos da prefeitura

Programa de Matas da segunda gestão (2025-2028) previa a entrega de 8 reservatórios e a construção de outros 6. A prefeitura também prometeu obras de córregos e contenção de encostas em 14 áreas prioritárias para proteger famílias em áreas de alto risco.

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Oito novos piscinões estão em construção. São eles: Morro do S, Lapenna, Mooca 2, Carumbé, dois em Perus, Parque do Carmo e córrego Antonico. A previsão de entrega de todos eles está entre o primeiro semestre deste ano e agosto de 2026.

Outros três novos reservatórios na zona sul tiveram licitação concluída. Com um investimento de R$ 411,5 milhões, estão previstos o Paraguai-Éguas, com capacidade para até 110 mil m³ de água, uma galeria-reservatório no cruzamento das ruas Gaivota e Ibijaú, em Moema, para 24 mil m³, e outro no Córrego Zavuvus, para 130 mil m³ de água.

Uma terceira meta visa mitigar inundações. O programa pretende prolongar a avenida Jornalista Roberto Marinho até a rodovia dos Imigrantes para melhorar o fluxo de veículos e pessoas. Com isso, em meio ao projeto, deve ser construído um ''eixo urbano sustentável'' com obras de drenagem, parque linear com áreas verdes e espaços de lazer.

Piscinão não resolve, dizem especialistas

Piscinões são ''projetos ultrapassados'' e não resolvem a raiz do problema, diz especialista. Para Paulo Renato Mesquita Pellegrino, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, esses reservatórios, apesar de conterem as águas por um curto período, trazem impactos sociais e ambientais, como a degradação de áreas naturais e poluição da água se houver acúmulo de esgoto clandestino. Por isso, não modelos de drenagem "esgotados".

"Temo que a Prefeitura esteja diversificando no sentido errado", avalia professor. "Se ela continuar fazendo essa opção de condução das águas rapidamente para o fundo do vale, se livrando mais rapidamente das águas, não vamos ter solução nenhuma. Vamos continuar com nossos problemas horríveis de inundação, de alagamentos e de péssima qualidade da água dos nossos rios e córregos", diz Pellegrino.

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A prefeitura não está pensando em fazer nada diferente além dos piscinões. Eles percebem que estão chegando no esgotamento desse modelo antigo e que não tem como continuar tocando uma coisa falida.

Ambientalistas defendem o conceito de ''cidade esponja''. O advogado ambientalista Luiz Carlos Aceti Junior afirma que o projeto ideal seria transformar a infraestrutura urbana para que ela funcione como uma esponja, absorvendo e armazenando as águas da chuva desde a sua fonte até o sumidouro.

Cidades da China, dos EUA, da Alemanha e até Curitiba já adotam com sucesso a estratégia. O sistema prevê a criação de áreas verdes (parques, praças, jardins de chuva, telhados verdes e hortas urbanas); calçadas e concretos permeáveis; recuperação de margens de rios e a construção de wetlands (áreas úmidas artificiais).

Problemas centrais das cidades incluem alto grau de impermeabilização do solo e gestão desatualizada das águas pluviais, ressalta Carlos Nobre. Para o renomado climatologista, o conceito de cidade-esponja tem sido uma importante, pois adota soluções baseadas na natureza com resultados positivos significativos.

Adequar uma cidade propensa a inundações faz sentido financeiro, como mostram os prejuízos estimados em quase R$ 100 bilhões da tragédia recente no RS. Ou seja, devemos investir em infraestrutura urbana verde baseada na natureza agora, em vez de lidar com maiores danos no futuro.

MP abriu inquérito sobre planos de contingências às chuvas

MP instaurou em março inquérito mais amplo para apurar omissão frente a "eventos rotineiros de chuvas torrenciais na capital". O órgão pediu informações e documentos sobre planos de contingências e protocolos de emergências para dias de temporais. A promotoria defende que a população está ''exausta'' com a falta de soluções efetivas por parte da Prefeitura de São Paulo e com a demora no reestabelecimento de serviços públicos.

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Morte de taxista motivou a ação. Elton Ferreira de Oliveira, 43, morreu após ser atingido por árvore que caiu sobre seu carro na Sé durante as fortes chuvas do dia 12 de março.

Entre 2021 e 2023, São Paulo registrou a média de 730 ocorrências de alagamentos por ano. A prefeitura informou ao UOL que diminuiu esse número no ano de 2024 - que teve 694 casos de enchentes.

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