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Cid fez desabafo à família: 'Se o Lula voltar, eu vou ser preso'

Os diálogos do tenente-coronel Mauro Cid mostram diversos desabafos feitos por ele a familiares e pessoas próximas sobre sua situação nas investigações da Polícia Federal.

Em uma série de áudios enviados a uma familiar durante a campanha eleitoral de 2022, Cid fez uma defesa enfática do então presidente Jair Bolsonaro e disse que acabaria preso por "perseguição política" caso o PT vencesse a eleição.

Era uma tentativa de convencer familiares a votar em Bolsonaro na disputa presidencial.

Essas conversas ocorreram meses antes de Cid ser preso e decidir assinar um acordo de delação premiada com a Polícia Federal.

O UOL teve acesso ao conteúdo do celular de Cid. São mais de 20 mil arquivos e, apenas no WhatsApp, 158 mil mensagens.

Uma parte do material se tornou pública após a conclusão das investigações da PF, mas o restante ainda estava sob sigilo.

Procurada pelo UOL, a defesa de Mauro Cid afirmou apenas que ainda não analisou todo o material obtido pela Polícia Federal nos celulares.

Nos áudios, Cid relata a uma parente que estava "vendo o sistema de dentro" e diz que o Brasil "não aguenta mais um governo do PT".

"Se isso voltar pro Brasil, o Brasil não aguenta. O Brasil não aguenta mais um governo do PT, não aguenta mais o que o PT fez no Brasil. O Brasil é muito rico, a gente chegou numa situação, os dados da corrupção entre Petrobras, BNDES e Caixa é R$ 1,5 trilhão nos anos do governo PT", disse em um trecho.

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Em seguida, Cid enviou outro áudio rasgando elogios a Bolsonaro e distorcendo fatos da sua gestão, como a atuação na pandemia.

O tenente-coronel disse que o Brasil "foi um dos primeiros países a bancar o desenvolvimento da vacina".

Ele ainda justificou o atraso na compra das vacinas em um receio com os efeitos colaterais, sem citar ordens diretas de Bolsonaro para impedir a aquisição de imunizantes.

Cid contou ainda um episódio para justificar à sua familiar que Bolsonaro levava um estilo de vida "simples".

"A primeira vez que a gente foi em uma viagem internacional, a gente foi na Suíça, em Davos. Eu não conhecia ele direito, tava no começo do mandato, e aí vamos sair pra jantar. Onde vamos levar, o Itamaraty já assumiu, levou num restaurante. Conta: 150 dólares por pessoa. E ele paga tudo. O cartão corporativo dele, ele pode sacar R$ 18 mil por mês, ele nunca usou um centavo, esse cartão tá comigo até hoje."

"E ele paga, onde ele vai, restaurante tudo, ele que paga. A conta deu 150 dólares. Ele chegou no hotel esbravejando, falou 'Cid eu não quero comer nesse lugar nunca mais na minha vida. Eu não vou gastar dinheiro com esses troços. Absurdo'. A gente fica sem saber né. 'Cid, aonde a segurança tá comendo?'. Num bandejão. 'Então é lá que eu vou'. Aí foi", disse.

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Ao finalizar a conversa, Cid disse estar preocupado com o risco de ser preso caso Lula vencesse a eleição

"Eu tô preocupado, até com a minha segurança, que eu sei que eu vou ser preso se o Lula voltar. Eu sei que eu vou ser preso sem ter culpa nenhuma e ninguém vai segurar a minha onda, eu vou servir de bode expiatório", afirmou.

"Nem o Exército. Agora o Exército me segura porque tá com o presidente, mas depois, ninguém segura. Eu vou ser preso. Se eu não sair do Brasil ou fugir ou alguma coisa, eu vou ser preso. E pelo país. O país vai entrar no que é a Venezuela."

Mauro Cid foi preso pela PF em 3 de maio de 2023, inicialmente por suspeitas de fraudes em certificados de vacina contra a covid-19.

Depois, tornou-se alvo de investigação por suspeita de desvio de joias do patrimônio público no exterior e tentativa de golpe.

Acuado pelas apurações, ele fechou um acordo de delação premiada em setembro de 2023 e revelou, em depoimentos, que Jair Bolsonaro discutiu um plano de golpe com os comandantes das Forças Armadas após a derrota nas eleições.

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Sua colaboração foi um dos elementos de prova da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro sob acusação de tentativa de golpe.

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