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Homens viram bomba-relógio depois dos 40. Baixa libido pode ser explicação
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Fui para a praia com a família, dias atrás, e saí com a impressão de que se Charles Darwin quisesse atualizar a sua teoria da evolução das espécies e da seleção natural deveria sentar num daqueles quiosques e observar o fim de tarde num sábado comum no Brasil.
Quem se assusta com o frenesi de crianças num tobogã inflável em festa de quermesse é porque nunca viu o desespero de homens adultos em busca de mais bebida em dia de folga.
A impressão era que se o dono da distribuidora de bebida localizado estrategicamente entre a praia e o bairro de novos condomínios tivesse descoberto petróleo em seu quintal, não lucraria tanto: de seu balcão ele vê jorrar uma fonte inesgotável de recursos etílicos. De longe era possível visualizar uma espécie de tetris humano, com tiozões de meia idade e sunga branca caindo e se acotovelando por um lugar no balcão.
Acompanhar num dia sóbrio o desfecho da bebedeira alheia é um exercício de observação sociológica. O efeito do álcool naquela praia produzia cenas como as de marmanjos caindo e trocando sopapos, meio sério, meio na brincadeira, na frente das crianças e a bronca de uma salva-vidas por ter se deslocado em vão até o local onde um homem simulava um afogamento com um amigo igualmente bêbado.
No fim do dia, a dificuldade da turma para levantar das cadeiras e caminhar na areia até a orla era comovente.
Não tinha elemento naquele quadro poético que não explicasse, em tempo real, por que a expectativa de vida dos homens é tão menor que o das mulheres. Era como se os sobreviventes dos rachas e brigas de rua na saída da balada durante a adolescência promovessem uma repescagem classificatória num esporte parecido com roleta-russa. Vence quem morre antes.
Não seria exagero dizer que parte daqueles caras não voltará a encher as respectivas latas no verão do ano que vem. Quase todos terão sorte se desmaiarem antes das 18h e acordarem sem ressaca para subir a serra rumo às suas cidades.
As cenas lamentáveis contrastavam com os hábitos, digamos, mais intensos dos mais jovens naquele reduto praieiro. Uns surfavam, outros tocavam violão, dançavam, corriam, jogavam bola. E muitos namoravam.
A conclusão meio óbvia é que a libido era um recurso natural limitado e concentrado entre um grupo social privilegiado chamado juventude. E que a falta dela levava os mais velhos, sobretudo homens, a acelerarem, só de desgosto, o próprio fim. Ou seria o contrário?
Uma pesquisa divulgada recentemente por pesquisadores da Universidade de Yamagata, no Japão, dá uma pista para entender o fenômeno.
Publicado no jornal O Globo, o estudo identificou uma associação entre a libido e a longevidade num grupo com 8.558 homens e 12.411 mulheres com mais de 40 anos. A conclusão foi que a falta de desejo sexual aumenta o risco de morte, principalmente ocasionadas por doenças cardiovasculares, no grupo masculino — entre as mulheres a relação não foi identificada.
Uma das hipóteses é que a falta de interesse sexual masculino pode estar relacionada a um estilo de vida pouco saudável.
Se desembarcassem no litoral brasileiro na alta temporada, os pesquisadores teriam um estudo de caso riquíssimo (eles mesmos admitem, em suas considerações, que é preciso ampliar e observar contextos de outras localidades para aprofundar as conclusões).
Parece ironia, mas o negócio é mesmo sério. Tão sério que, na mesma pesquisa, os autores lembram que governos como o do Canadá têm promovido campanhas de saúde pública para incentivar a atividade sexual entre pessoas mais velhas como um caminho para envelhecer bem e de modo saudável.
Vendo o papo de amigos que só agora atravessaram o rubicão da meia idade — um papo centrado em cansaço, decepções, dores, compulsões e recursos a drogas lícitas, receitadas ou condenáveis para segurar essa barra que é não gostar de mais nada, nem do próprio corpo, a certa altura da vida — é possível dizer que urge uma campanha do tipo por aqui.
Não houvesse tanta trava e tanto preconceito em torno do assunto, seria mais fácil discutir, como gente grande e crescida, os riscos assumidos por homens adultos em sua segunda adolescência, quando parecem compensar a finitude e as frustrações em diversos campos, inclusive os sexuais, com os hábitos mais deletérios. Inclusive os hábitos políticos mais arriscados, desses que levam uma multidão a testar a potência de suas motos e convicções no caminho até a igreja para encher a lata e brigar com o padre.
Quem já passou dos 40 sabe o que é abrir uma latinha de cerveja para dar aquela desbaratinada num moedor de carne chamado rotina e acabar como o tiozinho do meme que ouve música sertaneja com ar desolado e cigarro nas mãos.
Resgatar a libido que um dia habitou ali, entre pilhas de garrafas e névoa de nicotina, é comprovadamente uma questão de sobrevivência. E de saúde pública.
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