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Japão aprova criação de embriões de animais com órgãos humanos

Imagem mostra tomografia tridimensional de um feto de camundongo depois de dez dias de gestação, - Divulgação/Science
Imagem mostra tomografia tridimensional de um feto de camundongo depois de dez dias de gestação, Imagem: Divulgação/Science

Do TAB

Em São Paulo

26/07/2019 16h45

Hiromitsu Nakauchi, da Universidade de Tóquio e da Universidade Stanford, foi o primeiro cientista a receber autorização e apoio do governo japonês para criar embriões de animais com células humanas, desenvolver órgãos humanos neles. A ideia é depois usá-los para transplantes em pacientes que necessitarem.

Para isso, os cientistas criam embriões animais já sem o gene necessário para a produção de determinado órgão. Na sequência, injetam células tronco pluripotente induzidas (iPS, na sigla em inglês) de humanos no embrião para que ele desenvolva o órgão, mas com células da pessoa. Em seguida, o embrião é colocado no útero de um terceiro animal. Se tudo der certo, ele se desenvolve com o órgão humano, que mais tarde será transplantado para alguém que necessite.

Em 2017, a equipe do cientista fez um teste semelhante envolvendo apenas ratos. Eles injetaram iPS de um rato no embrião de outro, que não conseguiria produzir um pâncreas. O embrião do novo foi transplantado a um terceiro animal, desenvolvido para ter diabetes. O transplante foi bem-sucedido e o órgão controlou o nível de açúcar no sangue.

Até março, no entanto, o Japão proibia o crescimento de embriões animais com células humanas com mais de 14 dias ou o transplante deles para o útero de outros animais. Agora, o experimento de Nakauchi foi aprovado por um comitê do Ministério da Ciência, que também publicou uma série de regras regulamentando a criação de embriões mistos.

Em 2018, Nakauchi e seus colegas anunciaram, em um encontro na Associação Americana para Avanço da Ciência, no Texas, que eles fizeram experimento semelhante ao colocar células humanas em embriões de ovelhas produzidas para não terem pâncreas. Os embriões híbridos cresceram por 28 dias, mas apenas com poucas células humanas e com nenhum órgão funcional.

A explicação do fracasso foi que as ovelhas não são geneticamente muito próximas dos humanos. Em espécies distantes, as células humanas são eliminadas dos embriões muito cedo, concluíram.

Uma das preocupações bioéticas desta abordagem é a possibilidade de células humanas irem além do desenvolvimento do órgão e partirem para o cérebro do animal afetando sua cognição. À revista Nature, Nakauchi diz que tal questão está sendo levada em consideração."Estamos tentando criar geração de órgãos direcionada, para que a célula fique apenas no pâncreas", diz.

"É bom proceder lentamente, com cautela, para permitir um diálogo com o público, que tem se sentido muito ansioso e tem preocupações", disse o pesquisador de políticas de ciência, Tetsuya Ishii da Universidade de Hokkaido, à revista Nature.

O Japão não é o primeiro país a entrar neste campo. Nos Estados Unidos, por exemplo, este tipo de experimento é permitido, mas o Instituto Nacional de Saúde teve moratórias que impediram o financiamento das pesquisas desde 2015.

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