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A história de Sylas, a jiboia influencer 'perdida' em Perdizes, em SP

Bruna Magalhães e a jiboia Sylas, em São Paulo - Rogerio Fernandes/UOL
Bruna Magalhães e a jiboia Sylas, em São Paulo
Imagem: Rogerio Fernandes/UOL

Danila Moura

Colaboração para o TAB, de São Paulo

02/07/2022 12h57

Dono de uma arroba de 25 mil seguidores no Instagram, Sylas compartilha sua rotina em casa e momentos triviais como ir ao dentista, festinha de aniversário e de Halloween, um rolê ao lado dos amigos. Após ficar incomunicável por cinco dias, ele ganhou as manchetes de notícias e causou frisson nas redes sociais.

Sylas é considerado o primeiro "snake influencer" do Brasil, mas ficou mais conhecido como a "jiboia de Perdizes", a cobra que foi encontrada escondida no fogão de sua tutora, Bruna Magalhães, 21. O perfil do bichinho foi feito com a intenção de desmistificar o medo em volta da criação de cobras atraindo colecionadores e curiosos que tiram dúvidas sobre o assunto.

Desde 20 de junho, Sylas lida com uma chuva de haters desinformados que o acusam de ser um elemento perigoso capaz de matar. Entretanto, a jiboia não é peçonhenta. E, com dois anos, 2 kg e 1,70 m de comprimento, é um camarada tranquilo e bastante dócil, conforme o TAB viu ao visitar a casa onde vive com Bruna em Perdizes, na zona oeste de São Paulo.

Sylas é uma jiboia arco-íris da Caatinga (Epicrates assisi), nome dado devido ao efeito iridescente quando o sol bate nas suas escamas. É originário da Caatinga, pode atingir 1,6 m e viver até 30 anos. É indicado para iniciantes na jornada de "pai de pet cobra" pela facilidade de manejo e tamanho reduzido. Bruna decidiu adquirir uma jiboia após visitar uma feira de animais "exóticos" em 2016.

Sylas chegou em São Paulo em 2019, com menos de 35 cm e 75 g. Ele chegou num voo dentro de um compartimento especial repleto de cuidados. A paulistana adquiriu o pet pela internet e foi buscá-lo no aeroporto.

Bruna Magalhães e a jiboia Sylas, em São Paulo - Rogerio Fernandes/UOL - Rogerio Fernandes/UOL
Imagem: Rogerio Fernandes/UOL

Trocando de pele

De hábitos noturnos, Sylas gosta de passar o dia dormindo no terrário e sai para andar pela casa durante a noite. Come em intervalos de cerca de um mês — rato congelado é o rango favorito, mas não podem pesar mais do que 10% do peso da jiboia, porque ele engole de uma vez e deixa tudo na boca por cinco dias até digerir ao longo de mais dez dias.

Segundo Bruna, o ponto preferido de Sylas na casa é sua caixa organizadora acoplada embaixo do rack da TV, com esconderijos que parecem uma caatinga cenográfica e onde está instalado um aquecedor especial. O bicho é ectotérmico e não pode encarar menos de 22°C, pois corre o risco de pegar uma pneumonia, que é bem parecida com a dos humanos, com direito a peito chiando e um tipo de catarro.

Mais de 32°C também dá ruim, porque existe o perigo de dano neurológico e aumenta as chances de sofrer com estomatite, diz Bruna. Sem sistema límbico, Sylas não tem emoções complexas, mas a tutora diz que ele fica chateado quando o acusam de ser um bicho totalmente "sem coração" — afinal, ele sente medo, fome, frio e reconhece sua tutora porque ela o alimenta.

Quando Sylas começa a ficar com a barriguinha rosa, olhos opacos e azulados, Bruna sabe que é o momento de troca da pele, que ocorre sem uma periodicidade exata.

Depois de uns dias de jejum por causa da mudança de visual, período em que ele pode regurgitar se alimentado, Sylas resolveu ir até a cozinha ver se tinha alguma coisinha para matar a fome e por lá ficou escondido, para desespero da sua tutora, que destruiu o forro do sofá e da cama atrás dele.

Após avisar na comunidade de Perdizes no Facebook que Sylas tinha sumido e pedir para que não matassem o influencer caso fosse encontrado, Bruna viu sua rotina de trabalho no regime home office ser movimentada pela presença de canais de TV fazendo plantão na porta de casa para saber do pet.

Sylas, a jiboia que estava 'perdida' nas ruas de Perdizes, em São Paulo - Rogerio Fernandes/UOL - Rogerio Fernandes/UOL
Imagem: Rogerio Fernandes/UOL

Tranquilo no fogão

Sylas convive no apartamento com um cachorro e um gato "tranquilamente", segundo Bruna. "Não tem presas nem veneno, só dentinhos pequenos e mordeu de levinho só uma vez quando filhote, ao chegar em casa. Se alguém o encontrasse, dificilmente ele atacaria ou algo do tipo", conta.

A opinião dos moradores do Perdizes em relação à jiboia nos arredores é controversa. Os vizinhos do prédio de Bruna levam numa boa. Mas Tereza, uma senhora que mora em frente, ficou com muito medo e considera a tutora irresponsável por mantê-lo como animal doméstico.

"Vou dizer que tenho uma onça no meu quintal e ela sumiu, quero ver o que vão pensar", disse à reportagem. Os funcionários de um bar ao lado não demonstraram muita preocupação com a possibilidade de Sylas estar dando um rolê pelo quarteirão.

Quando a polícia ambiental bateu na porta para saber da situação de Sylas, Bruna mostrou toda a documentação do animal, que foi adquirido de forma lícita e é originário de um criadouro de cobras em condições apropriadas, o Jiboias Brasil.

Depois de assistir aos vídeos da câmera de segurança em frente à janela, Bruna e o namorado concluíram que Sylas não saiu de casa. No domingo (26), bateu uma crise enorme de choro que a incentivou a dar mais uma vasculhada na casa. Com a lanterna do celular, ela conseguiu ver o influenciador graças ao efeito iridescente. Ele estava tranquilo tirando uma soneca debaixo do fogão.

Hoje, o influencer tem uns "recebidos" na lista de desejos, um sofá, uma geladeira e um fogão novos, presentes para substituir os itens que foram destruídos para encontrar o comilão. Sylas não quis "dar declarações" a respeito do seu sumiço. No Instagram, Bruna se pronunciou por ele, pedindo desculpas pelo "caos" nos arredores: "Estou aliviada de tê-lo recuperado e de que ele está ótimo, como se nada tivesse acontecido."

Sylas, a jiboia que estava 'perdida' nas ruas de Perdizes, em São Paulo - Rogerio Fernandes/UOL - Rogerio Fernandes/UOL
Imagem: Rogerio Fernandes/UOL