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Subcomunidade no Twitter acompanhou atentado a escola: 'Nosso cria'

Alunos e professores foram esfaqueados dentro de escola na zona oeste - Reprodução/Google Maps
Alunos e professores foram esfaqueados dentro de escola na zona oeste Imagem: Reprodução/Google Maps

Do TAB, em São Paulo

27/03/2023 18h03

Na noite anterior ao ataque à Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, G.R.C.V., 13, fez uma pergunta na sua conta pessoal do Twitter: "Vcs acham que eu faço amanhã e vê o que vai acontecer sem um armamento decente ou não?". Um usuário anônimo, dedicado a publicar vídeos e fotos homenageando os autores de crimes como os massacres de Suzano e de Aracruz perguntou: "Como vc vai fazer isso?"

Horas depois, G.R.C.V publicou: "Irá acontecer hoje esperei por esse momento a vida inteira (...) tomara que consiga alguma kill". Por volta das 7h20, o adolescente atravessou os portões da escola portando uma tesoura e uma faca. O rosto estava parcialmente coberto por uma máscara de caveira, conhecida como "siege mask", a mesma máscara usada por autores de ataques em escolas no mundo inteiro. Ele matou a professora de biologia Elisabeth Tenreiro, 71, e deixou outras cinco pessoas feridas. Duas professoras o imobilizaram.

Nas redes sociais, o mesmo perfil que estava interagindo com G.R.C.V, publicou, 20 minutos após o ataque: "Privar a conta aqui por coisas novas estão por vim [sic] provavelmente".

Menos de duas horas depois que o ataque foi noticiado, o usuário que estava interagindo com o adolescente publicou um vídeo homenageando o crime, usando um vídeo de G.R.C.V sendo levado até o carro de polícia, junto com fotos, usando a máscara de caveira. Antes de a imprensa noticiar detalhes do crime, o perfil já estava compartilhando nome e fotos do autor do atentado.

G.R.C.V. já tinha histórico de violência. Ele foi transferido de outra escola para a Thomazia Montoro por causa de ameaças feitas contra colegas. Na atual, dias antes do ataque, participou de uma briga com outros estudantes. Segundo colegas, o adolescente chamou um colega de "macaco". A briga foi apartada por uma das professoras agredidas no ataque.

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Adolescente autor de ataque anunciou o crime nas redes sociais
Imagem: Reprodução

A Secretaria de Segurança Pública confirmou em coletiva de imprensa feita na tarde de segunda-feira (27) que G.R.C.V. era dono da conta no Twitter.

O perfil está fechado, mas pelas interações entre contas abertas é possível confirmar que ele faz parte de uma subcomunidade virtual centrada em homenagear autores de ataques em escolas. O "ícone" dessa subcomunidade é Guilherme Taucci, um dos autores do massacre de Suzano de 2019. O próprio adolescente autor do ataque usava o sobrenome "taucci" de nickname no Twitter. Foi para esses membros que o crime foi anunciado horas antes.

A subcomunidade está ativa principalmente no Twitter, TikTok e Discord. Para encontrá-la é preciso saber hashtags e termos específicos para interagir com centenas de perfis alimentados principalmente por jovens e adolescentes. Nela, ninguém revela o nome e o rosto, mas há inúmeros tuítes expressando vontade de cometer suicídio ou matar colegas de escola.

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Print de tuíte publicado por usuário que interagiu com autor do ataque horas antes
Imagem: Reprodução/Twitter

Qualquer autor, não importando a gravidade do crime, se torna um mártir na subcomunidade, morrendo ou não. "Nosso cria", responde uma das dezenas de arrobas comemorando o ataque à Escola Estadual Thomazia Montoro.

Escondidas por trás do interesse em crimes reais, existem contas que trocam informações sobre as melhores formas de cometer ataques da mesma natureza. Desde 2022, já foram computados nove ataques em escolas pelo Brasil.