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Segunda-dama Lu Alckmin faz caridade e contrasta com estilo de Janja

A maratona de visitas começou no dia 27 de junho, em Ceilândia, a 30 km de Brasília. Naquele dia, Maria Lúcia Guimarães Ribeiro Alckmin, conhecida como Lu Alckmin, retomou a rotina de um projeto a que se dedicou por quase 13 anos quando seu marido, o hoje vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, governou São Paulo. Em uma comunidade pobre, atendida por programas sociais da Igreja Católica, ela conheceu os primeiros espaços que poderão abrigar suas padarias artesanais — um projeto para capacitação e geração de renda.

No mesmo dia, a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, postava vídeos sobre o "Desenrola", ação do governo para limpar o nome de pessoas endividadas, e convocava os seguidores para uma live com a youtuber Nath Finanças. Embora nem Janja nem Lu tenham sido eleitas para exercer qualquer cargo público, passados oito meses da terceira gestão Lula, os estilos das damas brasileiras ficam cada vez mais evidentes.

Enquanto Janja se faz presente no dia a dia do poder, sendo escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva até para representá-lo em viagem oficial do governo, Lu Alckmin, a segunda-dama do Brasil, assumiu as funções sociais e de filantropias tradicionalmente esperadas de uma primeira-dama.

Ecumênica: católica praticante, dona Lu incluiu na lista de contemplados com seu projeto de capacitação para padarias artesanais o terreiro de pai Tata Ngunzetala
Ecumênica: católica praticante, dona Lu incluiu na lista de contemplados com seu projeto de capacitação para padarias artesanais o terreiro de pai Tata Ngunzetala Imagem: Reprodução Internet

Paróquia e terreiro de umbanda

Dona Lu tem cumprido uma agenda intensa em áreas pobres do Distrito Federal e suas regiões administrativas, as antigas "cidades-satélite". Acompanhada de lideranças religiosas e sociais, como padres, dirigentes de instituições e pais de santo, ela segue uma rotina padrão, que inclui a apresentação de um vídeo sobre a experiência paulista das padarias artesanais e uma inspeção das cozinhas existentes em salões de paróquias e em entidades da sociedade civil.

Católica praticante, Lu Alckmin tem apostado recentemente no ecumenismo. Na lista de contemplados com o projeto estão ao menos dois terreiros de umbanda e candomblé. Um deles, comandado pelo pai Tata Ngunzetala, apoia 30 famílias de Águas Lindas de Goiás, município goiano do entorno do DF.

"Ela ficou à vontade no nosso espaço, conheceu o terreiro e também a área dedicada às ações sociais. Nossa ideia é aproveitar esse treinamento e os equipamentos para que as pessoas tenham uma fonte de renda", conta pai Tatá, que espera a ocasião de conhecer também a primeira-dama, Janja.

"Fiquei encantada ao visitar a Associação Vida Inteira, um local de espiritualidade, cultura e amor ao próximo", escreveu Lu Alckmin, sobre a visita de 17 de agosto. "Fui recebida com muito carinho pelo seu Tatá. Ele ficou entusiasmado com o projeto da Padaria Artesanal, que contribuirá com seu importante trabalho de acolhimento e atenção às pessoas que mais precisam." Nos últimos três meses, a esposa do vice-presidente já passou por 30 endereços.

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Além de levar consigo um notebook para veicular o vídeo promocional das padarias, ela costuma presentear os anfitriões com seu livro "Amor que Transforma", lançado em 2017, dois anos depois da morte do filho caçula, Thomaz Alckmin, em um acidente de helicóptero. Nele, relata como "o amor, a fé e a união foram fundamentais para transformar a dor em amor ao próximo".

O lançamento do livro foi um dos primeiros momentos em que Lu Alckmin se viu como protagonista. Aos poucos, porém, a professora de formação tem experimentado um envolvimento maior com a política. Na campanha de 2018, quando Geraldo disputou pela segunda vez a Presidência, percorreu o país ao seu lado e arriscou aparecer na TV.

"No ano de 2000, conversando com mulheres muito carentes, uma delas me falou: 'Dona Lu, a gente está com fome, queremos comer pão.' Aquilo me cortou o coração e falei que iríamos desenvolver um projeto para ensinar a população a fazer pães. Foi isso que me pediram e foi assim que começaram as padarias artesanais", contou, em propaganda eleitoral gravada com Ailton Jesus da Silva.

Conhecido hoje como Chef Brown, ele foi um dos alunos da padaria montada no Guarujá, litoral paulista, a convite da então primeira-dama do estado. Hoje professor de culinária, caberá a ele comandar os cursos agendados em Brasília.

Projeto com a bênção de frei Rogério Soares: 'O que falta aos pobres é oportunidade e gente que acredite em seu potencial'
Projeto com a bênção de frei Rogério Soares: 'O que falta aos pobres é oportunidade e gente que acredite em seu potencial' Imagem: Reprodução Internet

Pão de cada dia

A criação do polo de padarias artesanais do Distrito Federal será anunciada em novembro, quando também serão divulgados os apoiadores do projeto. O TAB apurou que o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e a Fecomércio-DF (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal) são alguns deles - assim como a Pastoral do Empreendedor, da Arquidiocese de Brasília.

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Diferentemente de Janja, estreante na função, Lu Alckmin é experiente. Antes de se mudar para o Palácio do Jaburu, foi primeira-dama e segunda-dama do estado e primeira-dama de Pindamonhangaba, onde seu marido nasceu e foi prefeito no interior paulista. Por mais de 20 anos, atuou de forma discreta, mas consistente em seu propósito que, segundo a amiga Lúcia França, é o de fazer caridade.

"É uma mulher que pautou sua vida pela ajuda ao próximo", elogia a mulher do ex-governador Márcio França, atual ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. "Faz caridade na essência da palavra, com um olhar generoso e foco na capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade."

Sucessora de Lu Alckmin na presidência do Fundo Social de Solidariedade de São Paulo, Lúcia diz que as padarias artesanais são as "meninas dos olhos" da segunda-dama. "É um projeto simples, em parceria com a iniciativa privada, de custo baixo e de rápida absorção. A pessoa logo aprende a fazer e a vender o pão produzido. Fico feliz em ver a dona Lu realizando seu sonho de levar as padarias Brasil afora", diz a amiga.

Em vez de ciúmes, elogios públicos de Janja: 'Tenho carinho e admiração imensas pelo seu cuidado com as pessoas'
Em vez de ciúmes, elogios públicos de Janja: 'Tenho carinho e admiração imensas pelo seu cuidado com as pessoas' Imagem: Carlos Elias Junior/ www.fotoarena.com.br

Kits a R$ 9 mil

O kit de equipamentos necessários contém um forno de inox, uma batedeira, um liquidificador, uma balança de precisão, assadeiras de alumínio e um botijão de gás. O custo estimado é de R$ 9 mil, assumidos, por enquanto, pela iniciativa privada.

De acordo com o frei Rogério Soares, pároco da Igreja Paróquia Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora das Mercês, que abrigará a cozinha piloto em Brasília, 20 dos 30 kits já foram doados: "Os pobres já sabem muitas coisas, tenho certeza disso. O que falta a eles é oportunidade e gente que acredite em seu potencial", destaca o religioso.

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A experiência de Brasília deve em seguida ser levada a outros locais. "A dona Lu tem essa intenção e eu estou bem confiante", afirma Soares. Sobre Janja, ele diz que as comparações são inevitáveis. "As pessoas falam, mas cada uma atua numa área, cada uma faz a sua parte, com seu jeito, seu estilo."

Em São Paulo, durante o período em que Lu Alckmin presidiu o Fundo Social por quase 13 anos, foram doados cerca de 10 mil kits da padaria artesanal a entidades, fundos municipais e escolas estaduais. Mais de 100 mil pessoas foram capacitadas.

Nesta quarta, 20, Lu Alckmin usou o mesmo vídeo para apresentar a Padaria Artesanal para um grupo de "cônjuges de chefes de missão", em Brasília. "Ao lado das embaixatrizes, me emocionei ao compartilhar minha experiência", disse, em suas redes sociais. "O grupo se entusiasmou e será parceiro do projeto", comemorou.

Quase no mesmo horário, Janja aplaudia a parceria firmada pelo marido e pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pelos direitos trabalhistas na sede da ONU (Organizações das Nações Unidas), em Nova York. Em seguida, postou um vídeo na Times Square. "O Brasil voltou ao cenário internacional, mostrando para o mundo, pelas grandes telas da Times Square, no coração de Manhattan, a campanha All Amazônia, promovida pelo @BancodoBrasil".

Distantes no estilo, mas pessoalmente próximas, Lu e Janja trocam elogios públicos. Ao completar 72 anos em 12 de julho, a segunda-dama foi cumprimentada pela primeira: "Tenho carinho e admiração imensas pelo seu cuidado com as pessoas."

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