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Sem o filho e com 'medo de ficar sozinho', Brennand levou nora para Dubai

Thiago Brennand deixou o Brasil horas antes de ser denunciado pela primeira vez pelo Ministério Público de São Paulo por lesão corporal e corrupção de menor, por causa da agressão na academia Bodytech. No dia 4 de setembro de 2022, ele embarcou rumo aos Emirados Árabes, onde ficou por oito meses, antes de ser extraditado. A viagem foi organizada em dois dias.

No período em que esteve fora do país, muita coisa aconteceu. Áudios obtidos com exclusividade pelo UOL revelam que o empresário saiu do Brasil acompanhado da nora, H. — alternativa que encontrou para não ficar sozinho, já que o filho dele, L., estava com o passaporte vencido.

"Ele olhou pra mim, me chamou na sala e falou exatamente com essas palavras: 'Minha norinha, será que você pode ir comigo pra me fazer companhia?'", ela contou ao Ministério Público de São Paulo, no fim de setembro de 2022. Trechos inéditos estão no quinto episódio do podcast "Brennand", do UOL Prime, disponível a partir desta quinta-feira (4). Ouça abaixo:

Os dois ficaram hospedados em um hotel de luxo em Abu Dhabi. Segundo H., ela tinha de dormir "na mesma cama que ele, porque ele tem medo de ficar sozinho". "Ele nunca tentou nada comigo, nunca faltou com o respeito — eu falo puxando pro lado sexual mesmo", pondera.

Ela ainda afirmou que era "monitorada" o tempo todo pelo sogro. "Eu não podia ir pro banheiro com o celular, não podia sair do quarto com o meu celular."

"Thiago é uma pessoa que não sabe lidar com solidão, ele tem que estar sempre rodeado de muitas pessoas", explicou H. "E, devido aos problemas do Thiago, que a gente sabe que ele tem problemas psicológicos, a gente ficou com medo dele tomar alguma atitude, de fazer alguma coisa, até porque ele fica usando uma frase que é 'a morte antes da desonra', e isso preocupa a gente, preocupou o L., preocupou todo mundo."

H. tinha 29 anos quando tudo isso aconteceu — 13 anos a mais que L., que na época tinha 16. Segundo o depoimento dela, os dois tinham amigos em comum e se conheceram numa festa. Ela só teria ficado sabendo da idade do menino tempos depois.

H. ficou pouco tempo com Brennand nos Emirados Árabes. Depois de uma briga com o empresário, ela conseguiu articular a volta ao Brasil, com a ajuda de L.

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Mudança

H. deu depoimento ao Ministério Público acompanhada de L. e da mãe dele. Na ocasião, o rapaz também falou do pai. Ele disse que temia pela segurança de sua própria namorada, se ela ficasse próxima de seu pai. "Eu no lugar dela estaria em pânico", afirmou.

"Ela tem total razão de se sentir ameaçada por ele. Acho até que, de todas essas mulheres [referindo-se às que acusam Brennand de agressão e estupro], ela é quem mais tem razão de se sentir ameaçada, porque dentro dele é como se ela estivesse me roubando dele."

L. também deu detalhes da convivência e criticou o pai. "Vou falar a verdade. Se a verdade prejudicar ele, infelizmente eu não posso fazer nada, né? Porque aí é consequência dos atos dele." Contou que cresceu ouvindo que sua mãe o abandonou — e que era uma "drogada", uma "puta" que "rodou a cidade inteira".

O relato, gravado no escritório do advogado Marcio Janjacomo, representante da maioria das mulheres que denunciam Thiago Brennand, foi questionado pela defesa do empresário. Os criminalistas Roberto Podval e Marcelo Rafainni classificaram o depoimento dado por L. como uma "excrescência jurídica", um "ato ilegal e antiético" do MP que desrespeita as regras do processo penal.

No documento enviado ao Tribunal de Justiça de São Paulo, Podval e Rafainni disseram que o jovem foi ouvido "sem o respeito a qualquer formalidade legal, e pior, com a conivência do órgão ministerial".

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Em novo depoimento, em agosto de 2023, desta vez à Justiça, L. voltou atrás. Na condição de informante, além de elogiar o pai, ele disse que "foi levado" ao escritório de Janjacomo pela mãe e que se arrependeu do que falou. "De fato, falei coisas horríveis do meu pai, coisas assim que me deixaram muito tempo sem dormir em paz", reclamou.

O promotor Bruno Rodrigues perguntou a L. sobre a contradição entre o que ele acabara de dizer e o que tinha dito no depoimento anterior à volta de Brennand ao Brasil. O questionamento gerou uma discussão entre os advogados de defesa e Rodrigues, e a oitiva foi encerrada.

Procurada pela reportagem, a defesa de Thiago Brennand diz que está impedida de se manifestar. "Tudo que posso lhe dizer é que os casos estão em segredo de Justiça", explica o advogado Roberto Podval. O escritório de Marcio Janjacomo, que representa diversas denunciantes, não quis se manifestar, também citando o segredo de Justiça.

O podcast narrativo "Brennand" é apresentado pelo jornalista do UOL Mateus Araújo, que divide a reportagem com Juliana Sayuri. Os episódios vão ao ar sempre às quintas-feiras.

"Brennand" está disponível no YouTube do UOL Prime, Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, Deezer e em todas as plataformas de podcast.

'Brennand'

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