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Radar UOL: Casos e mortes por dengue aceleram; governo faz projeção recorde

O Brasil sofre com a alta de casos e mortes por dengue. O Ministério da Saúde lançou uma campanha de vacinação, mas a medida é insuficiente para reverter o problema no curto prazo.

Raio X

Casos de dengue têm aumento significativo em época de chuvas. É um problema que se repete há cerca de 40 anos. Desta vez, no entanto, a situação está mais acentuada, mostram dados do Ministério da Saúde.

Em 2023, o Brasil registrou 1.094 mortes por dengue. Em sete semanas de 2024, já foram registrados 122 óbitos. Isso significa que, se a proporção for mantida, o país chegaria ao fim deste ano com cerca de 6.000 mortes por dengue.

O cenário piora se considerarmos os "óbitos em investigação". Há 218 mortes em 2023 que ainda estão sendo analisadas e outras 456 em 2024. Ou seja, o total de óbitos em 2023 pode chegar a 1.312, enquanto o de janeiro e fevereiro de 2024 pode já estar em 578.

Volume de casos também está desproporcional. Em 2023, o total de "casos prováveis" chegou a 1,7 milhão. Em menos de dois meses, o ano já totaliza mais de 688 mil —aqui se consideram apenas as pessoas que tiveram os sintomas confirmados.

A dengue matou mais brasileiros no ano passado do que em 2015. Naquele ano, o número de "casos prováveis" bateu recorde na série histórica registrada pelo Ministério da Saúde desde 2003: foram 1.688.688 casos e 986 mortes confirmadas pela doença. Entre 2015 e 2022, foram notificados 8,12 milhões de casos prováveis de dengue, com 4.839 óbitos.

Pandemia derrubou média. A crise do coronavírus em 2020 e em 2021 fez com que milhões de pessoas passassem longos períodos em casa, com exposição reduzida ao mosquito transmissor da dengue. Rafael Galiez, professor de infectologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz ainda que pode ter havido uma subnotificação dos casos ao se confundir os sintomas de dengue com os de covid, além de não fazer exames específicos.

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O governo projeta até 4,2 milhões de casos de dengue em 2024. O dado foi divulgado em 9 de fevereiro e embasa a política adotada pelo ministério.

Vacina só para crianças e jovens. A vacina contra a dengue foi incorporada ao SUS em fevereiro de 2024. O foco da imunização na rede pública vai de 10 a 14 anos.

Idosos ficam para depois. O imunizante não foi estudado em grupos de pessoas com mais de 60 anos.

Explosão de casos no Sudeste e Centro-Oeste. O descontrole do mosquito é observado principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. O Distrito Federal é o local com a maior incidência de dengue na população. No fim de janeiro, o governador Ibaneis Rocha (MDB) exonerou o subsecretário responsável pelas políticas de combate à dengue, decretou situação de emergência na saúde pública e abriu um hospital de campanha.

O que explica a situação

Soma de fatores ao mesmo tempo. Rafael Galiez, da UFRJ, cita quatro tópicos principais para a crise:

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Variedade de sorotipos: há quatro versões do vírus em circulação no país. A vacina só protege contra dois.

Alto número de pessoas contaminadas por dengue nos últimos seis meses. Quem já pegou a doença pode ter o risco de morte aumentado na segunda vez.

Proliferação de mosquitos. A alta densidade do transmissor aumenta a chance de as pessoas serem picadas. O lixo acumulado serve de "berço" para larvas dos mosquitos Aedes aegypti. A OMS (Organização Mundial da Saúde) também alerta para o crescimento populacional desordenado.

Crise climática também aumenta casos. O aumento das temperaturas e a intensidade das chuvas favorecem a proliferação do mosquito: a água acumula, a fêmea coloca ovos e eles geram procriam de forma mais rápida por causa do calor.

Os próximos passos

Governo comprou 5,2 milhões de vacinas para serem entregues entre fevereiro e novembro deste ano. Mas ressalta que o imunizante não funciona como uma bala de prata contra a doença e que a imunidade de rebanho vai demorar para ser atingida.

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Sem doses para todos. O laboratório japonês não tem produção suficiente para imunizar a população brasileira e ainda não há um imunizante produzido no país pronto para ser aplicado. Além disso, a vacina japonesa, que foi comprada pelo SUS, só oferece proteção após duas doses com intervalo de três meses.

Estratégia do governo é o controle do Aedes aegypti como método para a prevenção. Campanhas convocam a população a não acumular lixo e água parada.

A vacina terá um impacto restrito: se observa três meses de intervalo. A gente não pode vender uma ilusão.
Nísia Trindade, ministra da Saúde

As doses começam a chegar à rede pública. São 521 municípios distribuídos em 37 regiões de saúde do país (veja lista).

Outras 9 milhões de doses de vacinas foram adquiridas para 2025. O governo pode fazer novas compras se o fabricante tiver disponibilidade ou outros laboratórios produzirem imunizantes.

Ministério da Saúde aumentou em R$ 1,5 bilhão o repasse para estados e municípios. O dinheiro será usado para ações de vigilância e assistência à população, reforço em ações de prevenção e controle, regularização dos estoques de inseticida, treinamento e formação dos profissionais de saúde e dos agentes de combate às endemias em todo país.

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