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Meta promove anúncios danosos às mulheres, aponta relatório do governo

Em 28 dias, mais de 1.500 anúncios circularam em plataformas da Meta promovendo golpes e fraudes que miram saúde e estética e reforçam estereótipos de gênero de mulheres.

É o que aponta relatório encomendado pelo Ministério das Mulheres ao NetLab (Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais) da UFRJ. O documento foi publicado nesta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher.

Entre janeiro e fevereiro, o estudo detectou 550 páginas e perfis responsáveis por publicar anúncios considerados tóxicos pelos pesquisados da NetLab.

Na primeira etapa do relatório "Observatório da indústria da desinformação e violência de gênero nas plataformas digitais", parte da campanha "Brasil sem Misoginia" do Ministério das Mulheres, a análise focou apenas em plataformas da Meta, como o Facebook e o Instagram.

Dos 1.565 anúncios analisados, 1.253 são voltados para o corpo da mulher, comercializando tratamentos duvidosos relacionados a questões estéticas.

Segundo o relatório, 79% desses anúncios tóxicos têm potencial de colocar em risco a saúde da mulher, promovendo dietas, receitas e tratamentos não comprovados, como a soroterapia. Desse grupo, 42% foram categorizados como fraudulentos.

Trecho do relatório produzido pelo Ministério das Mulheres, com exemplos de posts patrocinados
Trecho do relatório produzido pelo Ministério das Mulheres, com exemplos de posts patrocinados Imagem: Divulgação

O relatório também fez um levantamento inédito de um nicho crescente nas redes sociais brasileiras: coaches e influenciadores que disseminam discurso misógino a partir de conteúdos pagos no Facebook e no Instagram.

Páginas de influenciadores de "desenvolvimento masculino" impulsionam conteúdos pagos para promover discursos potencialmente misóginos que pregam a subjugação da mulher e dão "dicas" jurídicas para homens se blindarem de possíveis acusações de ex-parceiras à justiça.

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O documento também aponta que a promoção do discurso misógino não é orgânica, mas sim parte de um universo consolidado que incentiva a formação de comunidades "masculinistas" — movimento que se posiciona contra o avanço dos direitos das mulheres.

A falta de moderação prévia da Meta garante que empresas lucrem com peças prejudiciais à saúde e bem-estar da população feminina. Dos conteúdos pagos categorizados como problemáticos pelo relatório, mais de 98% não foram classificados como sensíveis no sistema de anúncios da Meta.

"A internet virou a maior inimiga da mulher", comentou Cida Gonçalves em entrevista ao UOL. "A publicidade tóxica voltada às mulheres contribui para torná-las mais vulneráveis e se traduz no aumento dos feminicídios e de outras formas de violência de gênero."

Procurada, a Meta respondeu, por meio de nota: "Estamos comprometidos com a segurança das mulheres e usamos uma combinação de tecnologia e revisores humanos para identificar conteúdos que violem nossas políticas. Estamos sempre trabalhando para aprimorar a nossa abordagem em prol de um ambiente seguro para todos".

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