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Plano contra enchentes em SP testa 'piscinões' e canalização de rios

O planejamento contra enchentes na cidade de São Paulo aposta em soluções tradicionais, como reservatórios de concreto e canalização de rios, para conter as águas na cidade pelas próximas décadas.

Raio X

As grandes obras de drenagem de São Paulo são previstas a partir do Plano Diretor de Drenagem do município. O documento, criado em 2012 e atualizado pela última vez em 2022, aponta como adequar a cidade para receber as cheias no futuro. O projeto atual cita mais de cem obras que estão nos planos da prefeitura e elenca 56 intervenções como prioritárias.

Enchentes no RS acendem alerta. Após as chuvas no sul que deixaram maioria dos municípios gaúchos alagados, os planos de cada cidade para evitar enchentes entraram no radar dos brasileiros.

Os piscinões são a principal aposta do plano da prefeitura de SP. Das 56 obras prioritárias, dois terços (38) se destinam a estes reservatórios de concreto, que armazenam o excesso de água das chuvas quando rios e córregos não dão conta da vazão. A solução é defendida pela prefeitura, mas sofre críticas de urbanistas e ambientalistas pelos impactos que provoca nas bacias hidrográficas.

O planejamento da prefeitura inclui poucos projetos de infraestrutura verde. No plano de drenagem, a principal proposta alternativa ao piscinão tradicional é uma praça de infiltração a ser construída na Av. Nove de Julho, próximo ao MASP. A obra, quando concluída, vai retardar o escoamento de águas da chuva para minimizar as cheias do córrego Saracura, que nasce na região da Avenida Paulista e corre por baixo do asfalto. Até o momento, porém, a ideia não saiu do papel.

A canalização é outra solução no radar da prefeitura para os próximos anos. A medida é recomendada para aumentar a capacidade de vazão de córregos em áreas sob risco de enchentes, mas aumentam a velocidade das águas, que correriam mais lentamente se estivessem em seu curso natural. Das 56 obras prioritárias do plano diretor, 12 são de canalização.

A estimativa de custo das 56 obras prioritárias é de R$ 4 bilhões. O plano não estabelece prazos para início e término das obras, mas calculou que cada uma deve levar de seis meses a dois anos para ficar pronta. Metade dos projetos prevê custos com desapropriações, o que é um motivo de atrito comum entre moradores e a prefeitura.

A cidade de São Paulo tem, hoje, mais de 50 piscinões em funcionamento. Ao assumir o município, em 2021, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) estabeleceu a meta de concluir mais 14 dessas obras até o fim de 2024. No final de maio, a prefeitura informou que quatro destes piscinões já foram entregues, e outros nove estão em construção.

O que explica a situação

A prefeitura tem defendido a opção pelos piscinões. No final de abril, ao dar início às obras de um piscinão próximo ao estádio do Morumbi, a gestão municipal afirmou que estudos da Siurb e da FCTH (Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica) apontaram que as chamadas "soluções baseadas na natureza", como jardins de chuva, poços de infiltração e mini reservatórios, não são suficientes para o combate às enchentes na região.

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Para especialistas, as soluções alternativas não são suficientes sozinhas, mas deveriam ser mais exploradas. A arquiteta Riciane Pombo, sócia do escritório que projetou uma praça de infiltração prevista para a Av. Nove de Julho, defende um conjunto de medidas de pequeno e grande porte para diminuir a dependência das obras de grande impacto.

Procurada, a prefeitura afirmou que tem trabalhado em outras situações baseadas na natureza. Em nota, a gestão municipal afirmou ao UOL que "trabalha no planejamento e implantação de obras hidráulicas (reservatórios e canais) associados às áreas verdes". Além da praça de infiltração da Av. Nove de Julho, a prefeitura cita reservatórios a serem construídos no ribeirão Perus e novas intervenções nos córregos Ipiranga e Sapateiro.

As soluções baseadas na natureza não resolvem o problema de inundação de uma bacia sem estarem conectadas ao sistema de drenagem tradicional, que a gente tem hoje. Então é preciso achar novos caminhos
Riciane Pombo, arquiteta e sócia do escritório Guajava

Prefeitura tem projeto para uma praça de infiltração na Av. Nove de Julho, mas obra ainda não saiu do papel
Prefeitura tem projeto para uma praça de infiltração na Av. Nove de Julho, mas obra ainda não saiu do papel Imagem: Divulgação / Escritório Guajava

Próximos passos

Segundo a prefeitura, a previsão de conclusão das obras prioritárias do plano é 2036. O planejamento, de acordo com a nota enviada ao UOL, é de três quadriênios (gestões) a partir de 2025. A ordem de prioridade das obras foi definida de acordo com critérios como custo, potencial de evitar danos e impacto social e ambiental.

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A gestão Nunes tem a meta de concluir, até o fim do ano, 230 obras de drenagem. Procurada, a prefeitura informou que já concluiu 217 projetos, mas boa parte deles é de obras emergenciais. O portal Obras Abertas, mantido pela gestão municipal, aponta que mais de 130 intervenções foram de emergência.

As obras emergenciais são criticadas porque, além de não resolverem problemas estruturais, são feitas sem licitação. Em março, o UOL revelou que mais de 70% dos contratos emergenciais fechados pela gestão Nunes, de 2021 a 2023, têm indícios de conluio entre as empresas convidadas a executar os projetos. A prefeitura negou irregularidades.

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