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Paz familiar, redes e PT: 'príncipe' reeleito João Campos articula por 2026

A reeleição de João Campos para a Prefeitura do Recife, com 78,11% dos votos válidos, não só quebrou um recorde histórico na capital pernambucana como antecipou o clima da disputa eleitoral de 2026 no estado.

No domingo, João se tornou o terceiro prefeito reeleito na história da cidade, com 725.721 votos.

Embora o prefeito evite falar sobre o assunto, dirigentes do PSB de Pernambuco afirmam que os olhos dele e do partido estão no próximo pleito.

João deve enfrentar a governadora Raquel Lyra (PSDB) pela gestão do Palácio do Campo das Princesas.

Nestas eleições, a tucana apoiou Daniel Coelho (PSD), que alcançou apenas 3,21% dos votos e ficou em quarto lugar.

A gestão de Lyra é reprovada por 42% da população, de acordo com pesquisa Quaest divulgada em julho.

Xadrez com o PT

O primeiro passo que João deu ainda nesta campanha, de olho em 2026, foi a escolha do vice de chapa.

João anunciou no fim de julho o amigo de faculdade e chefe de gabinete Victor Marques, recém-filiado ao PCdoB, para o cargo.

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A escolha contrariou o PT, que o apoiou na reeleição e queria o posto.

"João passa direto ao presidente Lula e não dialoga com o PT de Pernambuco", queixou-se o deputado federal petista João Paulo Lima, em entrevista ao UOL, em julho.

Para o deputado, essa decisão desanimou parte da militância estadual. Ele próprio, discordando da orientação do PT nacional, aderiu à campanha de Dani Portela, candidata do PSOL.

Nem mesmo Lula, apesar de apoiar João Campos, se engajou na campanha. O presidente nem sequer gravou vídeo para o prefeito.

Pazes com Marília

Outro aceno de João para a corrida ao governo do estado foi feito em agosto do ano passado.

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Com ajuda do deputado federal Renildo Calheiros (PCdoB) e do ex-deputado Silvio Costa, ele se reaproximou da prima Marília Arraes, sua adversária em 2020.

A campanha foi além das urnas e expôs rixas pessoais do clã político pernambucano. Reacendeu uma briga, iniciada seis anos antes, quando Marília Arraes, ainda no PSB, rompeu publicamente com Eduardo Campos, seu primo de primeiro grau.

Marília Arraes chegou a chamar João de "frouxo" e, durante um debate, questionou se quem ia "mandar" na cidade era a mãe dele, Renata.

João liderou apertado no primeiro turno, com 233.028 votos (29,17% dos votos válidos), contra 223.248 votos (27,95%) de Marília Arraes (então PT, hoje no Solidariedade).

No segundo turno, entrou enfraquecido, mas logo aderiu ao discurso antipetista para se calibrar. No final, conseguiu ampliar a vantagem para 56,27% dos votos válidos, ante 43,73% da adversária.

As pazes foram seladas em um encontro reservado entre os dois. Na conversa, eles discutiram a possibilidade de Marília apoiar João ao governo, e ele, em troca, apoiá-la ao Senado.

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Pessoas próximas aos dois explicam que o cálculo do apoio leva em consideração a força eleitoral de Marília no interior do estado, o que beneficia João.

A reaproximação foi selada publicamente com um vídeo gravado pelos dois na periferia do Recife. A briga tinha sido "um rompimento doloroso" para parte da família, como diz uma fonte próxima deles.

Uma das mais abaladas foi a avó de João, a ex-ministra do TCU (Tribunal de Contas da União) Ana Arraes, muito ligada a Marília, sua sobrinha.

A articulação, porém, foi a contragosto da mãe do prefeito, Renata, e de líderes do PSB estadual, que não simpatizam com a ex-deputada federal.

Os primos João Campos e Marília Arraes
Os primos João Campos e Marília Arraes Imagem: Reprodução/Instagram

Performance e empréstimos

Herdeiro de um dos principais clãs políticos do Nordeste, os Campos e os Arraes, João Campos costuma dizer que é "obcecado por resultado" e mobiliza a equipe a um trabalho frenético.

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Numa propaganda partidária exibida em Pernambuco, o prefeito aparece correndo pela cidade, fazendo exercício e, ao mesmo tempo, fiscalizando canteiro de obras.

A boa relação com o governo federal, com o legislativo e com setor privado o beneficia. Desde janeiro de 2021, ele já conseguiu mais de R$ 3,3 bilhões em empréstimos para obras na cidade.

O valor é superior à receita tributária anual própria do município e foi motivo de reclamações de adversários na Câmara.

Em maio, o vereador Alcides Cardoso (PL) disse que há um "descontrole das contas" e chamou o prefeito de "irresponsável".

"Em pleno ano eleitoral e diante do cenário claro do desrespeito da gestão do prefeito João Campos ao princípio básico da educação financeira de não gastar mais do que se ganha", afirmou.

O maior aporte, de R$ 2 bilhões, foi negociado com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), com contrato assinado em maio de 2023 nos Estados Unidos.

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O dinheiro tem sido destinado principalmente a obras de contenção de encostas e de urbanização - dois dos principais problemas da capital pernambucana.

Além disso, a gestão investe também na criação de parques e áreas de lazer, a partir de consultas à população.

Ativo nas redes

João Campos alçou o próprio nome nacionalmente, nesses três anos, também graças à sua popularidade nas redes sociais.

Nas ruas da cidade, ele é chamado de "príncipe". Nos bastidores políticos, a comparação com o pai, Eduardo, é frequente.

Até a mãe, a discreta Renata Campos, em conversa reservada com interlocutores, diz que "ele já é maior que o pai", como conta uma pessoa próxima à família.

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"Ele dá um passo à frente de Eduardo", explica outra fonte. "Talvez Eduardo tivesse feito o mesmo se tivesse a mídia social mais protagonista. Por que com as redes sociais você controla quando vai dizer, o que vai dizer. Eduardo fazia o que João faz, só que ele fazia com máquina de escrever, e João faz iphone."

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