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Caciques do PSB se animam com Tabata, que mantém Prefeitura de SP como meta

Alguns dos principais líderes do PSB ficaram animados com o desempenho da deputada federal Tabata Amaral nas eleições à Prefeitura de São Paulo.

Tabata e parte da cúpula local do partido compartilham da avaliação de que ela atingiu os objetivos da candidatura: se tornou conhecida pela população de São Paulo e saiu politicamente maior do pleito.

Ela ficou em quarto lugar no primeiro turno, com 9,91% dos votos válidos. Em agosto, em pesquisa espontânea do Datafolha, ela tinha 2% das intenções de voto.

A combinação de resultado e repercussão das ações de Tabata deve fortalecer seu nome para a disputa do cargo em 2028.

"Eu tenho um propósito muito grande de ser prefeita de São Paulo e eu acho que o nosso PSB pode fazer muito pela cidade", afirmou a deputada no último domingo.

Esse alinhamento com o partido não significa que Tabata abra mão de algumas posições particulares — ou ao menos do momento de torná-las públicas.

O UOL apurou que a decisão de revelar ainda no domingo o voto em Guilherme Boulos (PSOL) foi tomada por Tabata à revelia de outros integrantes da campanha.

Boulos terá o prefeito Ricardo Nunes (MDB) como adversário no segundo turno.

"Antes mesmo de falar com qualquer pessoa, eu fiz questão de vir aqui dar essa declaração", explicou a deputada.

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"Eu nunca me omiti. Sou muito criticada à esquerda e à direita por isso e eu arco com as consequências de cada decisão que eu tomo", completou.

Mais cedo, logo após acompanhar o voto de Tabata, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) disse que ela "honrou São Paulo" e "elevou o nível da campanha" com suas propostas.

"Fez uma bela campanha", disse ele, destacando "o carinho das pessoas, a espontaneidade das mulheres" em relação à deputada.

Elogios como o do vice-presidente não vieram de graça. Tabata precisou se impor para lançar sua candidatura e conquistar a confiança de correligionários.

O ministro do Empreendedorismo, Márcio França, um dos líderes do PSB, afirmou à CNN em julho que Tabata condicionou a filiação ao partido a ter seu nome como cabeça de chapa nas eleições municipais.

Vereador reeleito de São Paulo, Eliseu Gabriel disse em discurso também em julho que chegou a se questionar sobre a candidatura dela pelo PSB.

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"Agora tenho certeza que ela vai ser uma excelente prefeita. Cada vez que eu ouço ela falar eu vejo que pessoa incrível, um ser humano maravilhoso, determinada", disse.

Tabata acompanhada do vice-presidente Geraldo Alckmin e da vice na chapa dela, a professora Lúcia França
Tabata acompanhada do vice-presidente Geraldo Alckmin e da vice na chapa dela, a professora Lúcia França Imagem: Mateus Araújo/UOL

Estratégia pelos holofotes

Tabata virou o jogo pela visibilidade desejada quando se tornou a primeira candidata a expor sistematicamente o histórico judicial de Pablo Marçal (PRTB).

Ela fez uma série de vídeos, em estilo true crime, revelando processos judiciais que envolvem Marçal e apontando uma suposta relação do presidente do PRTB, partido do ex coach, com o crime organizado.

"Nós que tiramos Marçal do segundo turno", afirmou ela, durante discurso após a apuração dos votos.

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Tabata chegou a ser alvo do adversário com falas machistas e mentiras, como a de que ela havia abandonado o próprio pai no Brasil para viajar aos Estados Unidos.

O pai de Tabata morreu aos 39 anos, pouco antes da viagem da filha, então com 18 anos, para a Universidade de Harvard. Ele era dependente químico.

"Foi uma mulher, da periferia, honesta e corajosa, tudo que ele [Marçal] mais tem medo, a primeira a denunciar, a primeira a pôr sua vida em risco para dizer que um quadrilheiro, criminoso condenado, não tinha espaço aqui em São Paulo", afirmou.

Campanha de Tabata Amaral aposta em confronto mais direto e duro com Marçal
Campanha de Tabata Amaral aposta em confronto mais direto e duro com Marçal Imagem: Reprodução

Reação das ruas

No último dia de campanha, em caminhada pela rua 25 de Março, no centro de São Paulo, havia pessoas incomodadas com a candidata que pedia votos - mas todo mundo sabia quem era ela.

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"Você nem vota em São Paulo!", resmungou um homem de meia idade para a esposa que descia a ladeira Porto Geral, quando encontrou a parlamentar e pediu para tirar uma foto. "Mas eu vejo na televisão", foi a resposta.

Mas Tabata não escapou nas ruas das críticas que sofre há anos nas redes sociais.

A mais frequente delas diz respeito ao voto que deu a favor da Reforma da Previdência, em 2018, quando ainda era do PDT.

Ela foi questionada por uma mulher sobre o episódio. A deputada não respondeu.

Em um vídeo que circula nas redes sociais, numa caminhada dela pela Liberdade, a mesma pergunta foi feita por um homem, que a acusa de ter sido "contra o trabalhador".

Tabata diz que não se arrepende do seu posicionamento.

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Poder e dinheiro

A deputada destacou em seus discursos a origem pobre dela e de sua família: uma filha de empregada doméstica e de um cobrador — ambos nordestinos — criada na periferia.

Entretanto, na zona eleitoral da Vila Missionária, seu bairro de origem, ela ficou em quarto lugar, com 13.254 votos.

Ricardo Nunes (MDB) ganhou na região, com 46.397 votos, seguido de Pablo Marçal (PRTB), com 33.440, e Guilherme Boulos (PSOL), com 32.992.

As votações mais expressivas da deputada ocorreram em Pinheiros (16,81%) e no Jardim Paulista (16,16%).

Essas duas zonas eleitorais ficam em áreas nobres da cidade, por onde passa a avenida Brigadeiro Faria Lima, centro financeiro de São Paulo.

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Tabata tem entre seus principais doadores de campanha integrantes da nata do empresariado brasileiro, como o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o acionista controlador da seguradora Porto, Jayme Garfinkel.

Em uma entrevista à Folha de S.Paulo, Fraga disse que se vê apoiando Tabata "a perder de vista". "Para mim está tudo bem, ela é pouco conhecida, está no início de carreira e é uma política de mão cheia."

* Colaborou Flávio VM Costa

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