Terreiros de candomblé acusam Anielle de 'descaso total' em carta a Lula
Líderes de terreiros de candomblé e outras entidades negras e de matriz africana estão colhendo assinaturas para uma carta com críticas à ministra Anielle Franco (Igualdade Racial), a ser enviada ao presidente Lula na próxima segunda-feira (14).
Em nota, o ministério da Igualdade Racial afirmou que não recebeu a carta formalmente e, por isso, "não tem como garantir a confiabilidade do documento".
Até a tarde desta sexta-feira (11), a carta já contava com cem assinaturas.
Os líderes religiosos dizem que, como ministra, Anielle Franco nunca visitou terreiros de candomblé e desmarcou a participação em dois eventos prontos, no que classificam como "descaso total" e "má vontade" com o segmento.
Também acusam a ministra de desarticular "a possibilidade de retomada" de ações que haviam sido iniciadas nos outros governos do PT.
Sensibilidade e respeito
Babá Pece, babalorixá da Casa de Oxumarê, em Salvador — um dos signatários da carta — disse ao UOL que faltam à Anielle Franco "sensibilidade e respeito" com os terreiros.
"A irmã dela, Marielle, conhecia as causas do nosso povo. Não parece ser o caso dela", disse o babalorixá.
Em nota, o ministério prometeu lançar em breve uma política voltada para "os povos de terreiros das cinco regiões do Brasil".
Polêmicas
Na carta, os representantes dos terreiros pedem uma audiência com Lula para discutir o assunto.
Dentre as críticas apresentadas na carta, consta a "demora" na publicação da política nacional de combate ao racismo religioso.
Os líderes afirmam que a política já foi elaborada pela área técnica do ministério, "porém obstaculizada pelo gabinete da ministra e por sua secretária executiva".
A carta afirma que a ministra se envolveu "em polêmicas que não ajudam o governo Lula" e critica demissões recentes na pasta, como a de Yuri Silva, da secretaria de gestão do Sinapir (Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial).
O ministério afirmou em nota que "é prerrogativa da ministra contratar e exonerar servidores". Nesta sexta, 11, ela nomeou o antropólogo mineiro Clédisson Geraldo dos Santos Júnior para o cargo que era ocupado por Yuri Silva.
Dentre as polêmicas, Babá Pece mencionou a acusação de importunação sexual feita por Anielle Franco que culminou na demissão de Silvio Almeida do ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania — ele afirma que é inocente.
"Foi muito rápido, e sem provas", disse Pece.
Yuri Silva era ligado ao ex-ministro Silvio Almeida. Eles trabalharam no Iree (Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa) no mesmo período. Yuri foi coordenador de Direitos Humanos da entidade, entre 2021 e 2023, e o ex-ministro dirigiu o Centro de Estudos Brasileiros.
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