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Líder de Pacto Global da ONU no Brasil é acusado de favorecer Alok e ONGs

Profissionais do Pacto Global da ONU no Brasil acusam o diretor Otávio Toledo de usar a instituição para beneficiar outras organizações e firmar acordos sem contratos ou memorandos.

Entre elas estão o Instituto Alok, do DJ Alok Petrillo, de quem Toledo é amigo, e as organizações internacionais Global Citizen e Togetherband.

Funcionários e ex-funcionários do Pacto enviaram uma denúncia que cita o caso ao MPT (Ministério Público do Trabalho), que instaurou inquérito civil.

No documento, eles informaram que discussões sobre a necessidade de transparência resultaram em assédio moral.

O UOL conversou com oito denunciantes e outras testemunhas que trabalham ou trabalharam no Pacto Global que presenciaram as situações relatadas.

Esses profissionais afirmaram que levaram reclamações relacionadas ao cumprimento de políticas do Pacto ao CEO, Carlo Linkevieius Pereira.

Há relatos de conflitos de interesse, falta de transparência e "greenwashing" — estratégia para ajudar empresas que não têm ações sólidas de sustentabilidade a melhorar a imagem pública usando indevidamente a marca "ONU".

Segundo uma das testemunhas ouvidas pelo UOL, ocorre "um faz-de-conta": a organização finge que a empresa está engajada, a empresa melhora a imagem, mas nada muda estruturalmente.

Entre essas empresas, por exemplo, estão uma companhia indiciada por crimes ambientais e outra acusada de apagões.

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De acordo com uma das testemunhas, Toledo orientava decisões da área de captação de recursos apenas pelo dinheiro, sem passar projetos e prospecções pelo crivo da própria casa.

Segundo relatos, o CEO e o diretor respondiam com agressividade quando questionados sobre a falta de transparência de projetos que envolviam potenciais conflitos de interesses.

Um dos gatilhos foi um questionamento sobre a ausência de contrato ou memorando (documento preliminar que formaliza acordo) enquanto se discutia um pedido de patrocínio ao Banco do Brasil, entre fevereiro e abril.

Mais de uma vez, o CEO levantou a voz, segundo relatos: "Quem manda nesse negócio sou eu. A última palavra é minha!".

Os autores da denúncia dizem que também questionaram os projetos pelo temor de serem responsabilizados por violações de políticas.

"O que as vítimas buscam é que sejam resgatadas a transparência e a integridade da organização, para que não seja utilizada para agendas pessoais e em desacordo com seus princípios e diretrizes da ONU", diz a advogada Juliana Bertholdi, que representa o grupo.

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O Pacto é uma iniciativa das Nações Unidas para engajar empresas no desenvolvimento sustentável.

Denunciantes que trabalham ou trabalharam no Pacto recentemente relataram casos de assédio moral ao MPT, conforme revelou o UOL.

Procurado, Pereira afirmou que todos os projetos seguiram rigorosamente os trâmites previstos.

De acordo com sua assessoria, os projetos enviados ao Pacto são submetidos ao comitê executivo, que é formado pelos diretores da organização. Após avaliação e possíveis ajustes, o projeto pode ser recomendado ou não ao conselho de administração, único órgão que pode aprovar um orçamento acima de R$ 400 mil.

Toledo acrescentou que propostas do Pacto requerem sigilo. "Assim, como executivo da instituição, não posso me manifestar sobre elas."

Procurados, Alok, Global Citizen e Togetherband não responderam.

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CEO Carlo Pereira (à esq.) e diretor Otávio Toledo, do Pacto Global da ONU no Brasil
CEO Carlo Pereira (à esq.) e diretor Otávio Toledo, do Pacto Global da ONU no Brasil Imagem: Divulgação

'Uma bela big picture'

De acordo com documentos aos quais a reportagem teve acesso, o Pacto estava prestes a pedir R$ 66 milhões ao Banco do Brasil para ações de outras organizações.

O diretor financeiro foi informado e levantou perguntas.

"Estou tentando entender por que o comitê executivo não foi copiado numa proposta de R$ 66M", escreveu o CFO Rodrigo Favetta, por e-mail. "Convenhamos que R$ 66M é uma bela big picture."

Favetta destacou que a proposta ao Banco do Brasil tinha ações que não são do Pacto, entre elas, o Fundo Ancestrais do Futuro, liderado pelo Instituto Alok.

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Ele frisou que os valores pedidos na proposta eram desproporcionais: R$ 200 mil para ações do próprio Pacto e mais de R$ 20 milhões para projetos de outras organizações.

"Passa a impressão de que o Pacto é só um apêndice dentro da estratégia de venda", escreveu.

Denunciantes também citaram o episódio no documento encaminhado ao MPT.

"O Pacto aparece como mero intermediador de recursos, destinando para seus próprios projetos menos de 10% do valor total solicitado", diz o documento.

Procurado via assessoria de imprensa do Pacto, Favetta não respondeu.

Pereira afirmou, por meio de assessoria de imprensa própria, não vinculada ao Pacto, que o material acessado pela reportagem "era um esboço de projeto".

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Na nota à reportagem, o CEO destacou que o material "nunca foi usado como proposta, formal ou informal, para nenhum parceiro ou possível patrocinador de projetos do Pacto".

Toledo, também por meio de assessoria de imprensa própria, afirmou que não sabe o teor das investigações.

"Não sei do que se trata e, oficialmente, não recebi qualquer informação sobre o teor dessas denúncias", disse.

"Lendo o que foi divulgado pela imprensa, refuto todas as denúncias associadas a meu nome. Quando essas denúncias forem, finalmente, formalizadas, documentos, relatos e testemunhos irão restabelecer a verdade."

Ao UOL o Pacto diz que a proposta ao Banco do Brasil de R$ 66 milhões se referia a "negociações preliminares".

"Ao final, não prosseguiram e o contrato não foi assinado. Sobre as outras instituições [Global Citizen e Togetherband], a apuração ainda está em andamento."

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Imagem
Imagem: Fellipe Abreu/Divulgação

'All Amazônia'

Na proposta que estava sendo discutida, uma das ações destacadas era a campanha "All Amazônia".

Entre as "oportunidades de engajamento" citadas na proposta, o Pacto destacou o projeto "Futuro Ancestral" de Alok e listou:

  • R$ 9 milhões para apresentações na ONU Climate Week e no Grammy;
  • R$ 8 milhões para um evento identificado como "The Esphere (2025)";
  • R$ 2,5 milhões para produção de um documentário e "mídia" na TV Globo;
  • R$ 1,5 milhão para "digitalização dos álbuns indígenas";
  • R$ 1,5 milhão para "turnê no Brasil em 5 capitais".
Proposta citando ações do DJ Alok -- print foi encaminhado ao MPT
Proposta citando ações do DJ Alok -- print foi encaminhado ao MPT Imagem: Reprodução
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O UOL perguntou se o Instituto Alok estava ciente do projeto oferecendo shows do DJ, mas não obteve resposta.

O DJ fez o show "O Futuro é Ancestral" no alto do prédio da ONU em Nova York, enquanto ocorria a 77ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, em setembro de 2022.

Alok fez uma performance ao lado dos artistas indígenas Mapu Huni Kuî, do povo Huni Ku?, no Acre, e Owerá MC, rapper do povo Guarani, em São Paulo.

O Fundo Ancestrais do Futuro foi lançado na ocasião.

Segundo o site oficial do Instituto Alok, a iniciativa pretende apoiar projetos de indígenas em três áreas: produção de música, games, cinema e comunicação web 3.0, formação de jovens indígenas na tecnologia e "uso de tecnologia para o bem viver nas aldeias".

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Ao todo, o evento de Nova York custou R$ 2,6 milhões, segundo relatório da auditoria Grant Thornton.

Denunciantes ouvidos pela reportagem relatam que a falta de contratos foi questionada diversas vezes. Até abril deste ano, o documento ainda estava sendo discutido.

No fim, a proposta ao Banco do Brasil foi alterada — a versão final não cita Alok.

O DJ, inclusive, está no line-up do Global Citizen Now, neste domingo (17), no Rio. O Pacto é um dos parceiros do evento, que deve contar com a presença da primeira-dama Janja.

O Pacto também queria pedir R$ 9,6 milhões para a Togetherbands na proposta ao Banco do Brasil.

Segundo a proposta, trata-se de um "movimento global que atua em prol dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU".

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É uma campanha da marca inglesa Bottletop, que vende pulseiras produzidas por indígenas.

O Pacto não respondeu se há atualmente contratos firmados entre eles e as organizações citadas na reportagem: Alok, Global Citizen e Togetherband.

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