Saul Klein acusa família de esconder herança bilionária do pai em offshores

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Saul Klein abriu uma nova frente de batalha contra o irmão Michael Klein e outros familiares na briga pela herança do pai Samuel Klein, fundador das Casas Bahia. Em um processo que envolveu três ações e a contratação de um investigador particular nos EUA, Saul acusa Michael e os demais herdeiros de transferirem bilhões de reais do patrimônio de Samuel para 26 offshores nos meses finais de vida do patriarca.
O plano de partilha oficializado entre os herdeiros depois da morte de Samuel Klein, em 2014, dividiu R$ 500 milhões - era esse o valor que constava no testamento do empresário, e que destinou R$ 82,7 milhões a Saul. O UOL detalhou o documento e o começo da briga pela herança em matéria em 2023. A Michael, couberam R$ 206,7 milhões; à irmã Eva, R$ 82,7 milhões; a Natalie Klein, neta de Samuel e filha de Michael, R$ 124 milhões.
A quantia prevista no testamento não correspondia, entretanto, a todo o patrimônio da família. Antes de sua morte, Samuel já tinha transferido aos filhos Saul, Michael e Eva Klein parte considerável de seus bens. Entre essa partilha anterior e os valores recebidos no testamento, teria cabido a Saul algo em torno de R$ 800 milhões.
Desde 2021, entretanto, ele alega que recebeu muito menos do que teria direito, e que o verdadeiro tamanho do espólio do pai teria sido ocultado pelos irmãos fora do país. Em 2023, ele entrou com ações em três estados nos EUA: Flórida, Nova York e Delaware.
Para essas ações, Saul Klein contratou o investigador particular Mitch Jacobs, ex-policial em Miami e especialista em localizar bens e patrimônio. A investigação dele aponta e nomeia 26 entidades offshore ligadas à família Klein nos EUA e na Nova Zelândia, estimando o patrimônio delas em US$ 3 bilhões, o que seria equivalente a quase 17 bilhões de reais.
No Brasil, representado pelo escritório do advogado Walfrido Warde, Saul acusa a família de, sob a liderança de Michael, ter esvaziado a herança de Samuel por meio de doações e transferências de dinheiro, investimentos e ações das Casas Bahia. Esses valores teriam então sido escoados por meio da rede de empresas e veículos de investimentos no exterior.
No último dia 12 de maio, Saul ajuizou uma ação de produção antecipada de provas contra o irmão. A medida lista e nomeia todas as 26 offshores ligadas à família encontradas na investigação, e exige que Michael e sua irmã, Eva Klein, apresentem todos os documentos relacionados a pagamentos e transferências para cada uma delas, pelo período que se iniciou cinco anos antes da morte de Samuel até hoje.
A medida foi deferida pela 1ª Vara Cível de São Caetano do Sul, mas Michael Klein ainda não foi citado para se pronunciar na ação. Procurado pela reportagem, o escritório Warde Advogados, que representa Saul Klein, disse que não irá se pronunciar. Michael Klein, por meio de sua assessoria, também disse que não comentaria o assunto.
Samuel Klein morreu em novembro de 2014. O plano de partilha da herança, avaliada na ocasião nos R$ 500 milhões que constavam do testamento, nunca foi homologado pela Justiça. O inventário segue aberto desde 2015, com a família de um possível filho de Samuel chamado Moacyr Ramos de Paiva Agustinho pedindo exame de DNA para verificar se tem direito a parte da herança. Moacyr faleceu em 2021, e até hoje o exame não foi feito.
Desde 2021, Saul vem pedindo adiantamentos à Justiça e acusando o irmão, Michael, de fraude. Ele alega que, entre 2012 e 2014, o pai Samuel teria reduzido drasticamente o valor da herança por meio de doações e transferências de bilhões de reais a Michael e sua irmã Eva - e que esse processo teria sido, na verdade, conduzido por Michael, em meio à fragilidade da saúde do pai.
São esses valores que, segundo Saul, teriam sido enviados para fora do país.
Escândalos sexuais e acordo contestado no foco da disputa
Saul Klein é acusado de crimes sexuais nas esferas penal e trabalhista. Ele é alvo de inquérito policial desde 2020, acusado de aliciamento e estupro por 14 mulheres. Em 2023, ele foi condenado ao pagamento de uma multa de R$ 30 milhões por submeter mulheres a escravidão sexual, em ação movida pelo Ministério Público do Trabalho.
O documentário "Saul Klein e o império do abuso", publicado pelo UOL em 2022, detalha como o herdeiro de Samuel operava um esquema que mantinha dezenas de jovens mulheres em suas propriedades em São Paulo e Boituva.
Essas mulheres eram atraídas por promessas de trabalho como modelos, mas depois afirmaram ao Ministério Público que eram submetidas a cárcere privado, estupro e outras violências. A estrutura, que envolvia aliciadoras, cuidadoras, médicos, motoristas e seguranças, custava dezenas de milhares de reais por mês, sempre pagos aos envolvidos em dinheiro vivo.
Em dificuldades financeiras, confirmadas por ele próprio à Justiça em diversas ocasiões, Saul firmou em novembro de 2022 um acordo com uma empresa chamada 360 Graus Intermediação de Negócios Ltda. A reportagem teve acesso a esse contrato, que é contestado judicialmente pelos outros herdeiros.
Nesse documento, a 360 Graus assume o custeio e gestão de todas as iniciativas judiciais movidas por Saul Klein para aumentar o valor por ele recebido na herança de Samuel Klein. Em troca, a empresa passa a ter direito a 50% dos valores eventualmente encontrados no exterior que Saul venha a receber como fruto dos processos, e a 30% dos valores eventualmente encontrados no Brasil.
Além disso, a 360 Graus se compromete por contrato com o que chama de "providências do cotidiano" de Saul Klein - o custeio de suas despesas do dia a dia, inclusive com contratação de "colaboradores pessoais" por ele escolhidos, no valor de R$ 100 mil mensais.
Assista à série documental "Saul Klein e o império do abuso" no canal do youtube de UOL Prime.
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