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Fora da Curva #24: Habilidades da comunidade negra são trunfo no trabalho

08/10/2020 04h01

No oitavo e último episódio do podcast "Fora da Curva", a empreendedora e criadora de conteúdo Monique Evelle entrevista Roger Cipó, fotógrafo e criador da "Olhar de um Cipó", projeto que documenta terreiros de candomblé, a partir de uma perspectiva afetiva. O tema do bate-papo foi o futuro do trabalho para os negros no Brasil.

Ouça o programa no arquivo acima.

Monique Evelle começou o episódio provocando e lembrou que, pela primeira vez no Brasil, há mais desempregados do que empregados. Nesse cenário, a apresentadora questiona: haverá trabalho no futuro para população negra? (ouça a partir de 3:24).

"Trabalho sempre vai existir, a grande questão é de qual forma, né? Acredito que é possível, nessa sociedade, a gente subverter um pouco dessa lógica do capital e ainda humanizar um tanto as nossas relações de trabalho. (...) Talvez eu seja um tanto pessimista de olhar para esse cenário, para esse novo normal, e entender que a maioria de nós ainda continuará nesse lugar que o racismo e a escravidão determinaram, que é o lugar da servidão", respondeu Cipó.

Mas ele também apontou movimentações positivas que tem acompanhado. "Penso que cada vez mais nós estamos ousando estabelecer a nossa forma de trabalhar e ressignificando, inclusive, dentro da nossa comunidade, o que seriam trabalhos mais humanizados", disse (a partir de 05:51).

Todos os anos somos bombardeados pelas listas que apontam quais serão as habilidades dos profissionais do futuro divulgadas pelo Fórum Econômico Mundial. Monique lembrou que entre as que sempre marcam o espaço estão, por exemplo, a capacidade de resolução de problemas, o pensamento crítico e a criatividade. Desenvolver essas habilidades é uma vantagem do profissional do futuro, ou só isso não basta para a comunidade negra no mercado de trabalho?

Para Roger Cipó, muitos desses aprendizados, vendidos sempre com ares de inovação, já fazem parte da cultura da comunidade negra, e podem ser um diferencial. "Todas essas habilidades (...) estão nas nossas educações pretas. São educações basicamente comunitárias. Do samba, à capoeira, ao terreiro de candomblé, à favela, ao funk (...) Quanto mais conectados nós somos e conscientes do quanto essas habilidades podem fazer sentido no nosso trabalho, (...) e se a gente alinhar essa educação com essa consciência, a gente tem algo aí um tanto diferencial", comentou ele (a partir de 10:51).

Cipó, que estudou comunicação não-violenta, contou que muito do que aprendeu é fruto sua própria comunidade. "Essas ferramentas faziam muito sentido e ajudavam muito. Por exemplo, mediar conflitos dentro da minha comunidade, dialogar com pessoas pretas (...) Tudo isso estava em algum lugar, de alguma cultura africana (...) estava no candomblé a possibilidade de mediar um conflito através de uma cultura de paz", explicou ele.

No entanto, ele lembra que para ter a consciência dessas habilidades e saber como usá-las no mercado de trabalho, é preciso entender para que de fato elas servem. "O que eu faço é também tentar mostrar para as pessoas, para a nossa galera, que tudo isso que o mercado vende como inovação, se a gente olhar um pouco para dentro, a gente tem. Mas a gente só vai conseguir acessar se (...) tiver consciência do que serve, para que isso serve", comentou Cipó (a partir de 13:09).

Roger Cipó é criador da Tindó, série de lives que falam sobre afeto, relacionamento e sexo destinadas ao público negro. Como fotógrafo, seu foco é registrar o cotidiano e as celebrações das comunidades negras.

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