'Preciso sentir tesão real': por que Marcia Imperator marcou o pornô BR

Marcia Imperator lembra até hoje, entre gargalhadas, da aventura mais... eletrizante de sua fase como estrela do pornô brasileiro.

Seu par era o ator Mateus Carrieri, que, como ela, tinha migrado da TV aberta para o mercado de filmes de sexo explícito.

A cena aconteceu em um motel. Para a aguardada pegação entre os famosos, foi escolhida como cenário uma pitoresca escada de metal, por onde descia também uma cascata de água.

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A primeira cena era de sexo oral. Mateus encostou na escada para receber a boca de Marcia, que estava um tanto incomodada: durante o boquete, sentiu um estranho "choquinho" nos dentes. Na hora, achou que estava com hipersensibilidade, afinal, havia feito clareamento naquela mesma semana. "Eu ia chupar ele, meu dente dava choque. Eu falei: 'que merda', mas segui."

A gravação continuou como previsto e o casal logo se reorganizou para a cena de penetração. Era Marcia agora que ia precisar encostar na escada cheia d'água, apoiando as mãos e empinando a bunda para o parceiro.

A cena começava com Mateus introduzindo o dedo indicador na atriz, mas algo ainda estava errado. Ele então sussurrou no ouvido de Marcia uma frase difícil de ser imaginada, até mesmo num roteiro de filme pornô: "Teu cu tá elétrico".

Demorou pra alguém perceber que não era viagem: havia uma corrente elétrica passando pela escada, provavelmente causada pelo encontro de um fio desencapado com a água que descia em cachoeiras.

Mas o tesão, como o show, tinha de continuar. Marcia usou um sapato para servir de apoio (e proteção) para as mãos.

"A cena acabou virando risada. A gente teve que mudar o set porque ali estava perigoso, mas, se pesquisar na internet, vai encontrar o 'cu elétrico da Márcia'. A rola dele também estava dando choque."

Musa na TV...

Marcia Imperator, 48, é um dos símbolos do boom da pornografia brasileira nos anos 2000, quando celebridades e subcelebridades apostaram suas fichas no mercado erótico. Ela conversou com o TAB para o podcast "Brasil para Maiores", narrado pelos repórteres do TAB Marie Declercq e Tiago Dias. Os capítulos são lançados todas as quintas-feiras.

O quarto episódio é dedicado à história de Marcia, que começou sua carreira na televisão, criando fantasias na cabeça de marmanjos. Ela era a musa do "Teste de Fidelidade", quadro do programa comandado por João Kléber na Rede TV!.

O esquete era vendido como uma pegadinha sensual. Quem testava a fidelidade dos outros eram os "atores" — uma musa ou um sarado que se insinuavam e seduziam, tirando a roupa aos poucos, toda segunda-feira à noite.

O "Teste de Fidelidade" fez a Rede TV! alcançar o primeiro lugar em audiência: todo mundo queria ver a reação da pessoa traída e, de quebra, checar se a atriz contratada ficaria nua em algum momento. A pegação era tão quente que, para quem estava em casa, chegaria aos "finalmentes" quando o programa passasse da meia-noite — o que nunca aconteceu.

Para a musa do quadro, o sucesso se dava justamente porque a produção brincava com as expectativas do público. "Eu ficava de calcinha e sutiã e o cara de pau duro dentro da cueca, querendo botar para fora, enfiar em você, e não era isso que acontecia", ela descreve. "Acabava quando seria para começar o pornô."

A produtora de filmes adultos Brasileirinhas, que a essa altura já tinha no casting famosos como Alexandre Frota, Rita Cadillac e Gretchen, sacou que aquele furacão sensual não podia ser parado nas preliminares.

"Achavam que eu ia me sair bem por conta da sedução, porque eu deixava os caras no ponto."

Em um de seus primeiros trabalhos no pornô, Marcia contracenou com seu colega do "Teste de Fidelidade", Marcos Oliver, o equivalente à Marcia quando a intenção era seduzir as mulheres.

Os dois nunca chegaram a fazer juntos o mesmo teste de fidelidade, claro, mas a Brasileirinhas entendeu exatamente o que o povo queria. Foi aberto então um portal entre os estúdios da RedeTV! e o da produtora pornô para um "crossover" de personagens — muito além do que a classificação indicativa da TV aberta permitia.

A tensão sexual entre eles já existia nas gravações do pornô, mas nada nunca foi consumado, Marcia garante. Ela conta essa história no podcast à sua maneira, sem pudores ou censura. As caras de prazer registradas no filme "As Mulheres de Oliver" entregam que os dois realmente tinham química. Tanto que Oliver não demorou para queimar a largada nos primeiros minutos da transa.

"O diretor falou 'fodeu', quer dizer, agora 'não fodeu', né? Como que ele vai produzir esperma para a hora da gozada? Aí o Oliver falou: 'não, só um minuto aí, chefe, dá um minuto aí...', e foi para o banheiro. Ficou uns vinte minutos lá e voltou de pau duro, dizendo 'bora, vamos gravar'. Cara, foi uma cena divertida, porque eu enfiei a mão na cara dele quando eu gozei, ele enfiou a mão na minha cara, e a hora que ele gozou saiu tanta porra (...). O diretor se surpreendeu. O Oliver justificou: 'é que eu tinha um saco guardado só pra Marcia, desde o 'Teste de Fidelidade'."

...lenda no pornô

Foram apenas dois anos de Marcia Imperator estrelando filmes adultos. Sua entrega nas cenas é, até hoje, reconhecida por diretores, produtores e espectadores. Ela é até hoje bastante abordada na rua. Ela adora ser reconhecida e não se acanha, desde que o "approach" seja respeitoso.

"Geralmente é molecão, dizendo: 'ah, eu quero bater uma foto'. Sempre digo: 'claro, vem'. Aí o cara vem e já desce a mão pra bunda. Eu falo: 'olha, você tem um segundo pra tirar a mão daí". Puxo a mão e dou um tapa no meio da cara. Já dei tanto na cara de homem, você não tem ideia."

Na época do pornô, ela conta ter ficado ressabiada ao gravar com Alexandre Frota. Pela personalidade esquentada e bruta, a fama do bad boy corria nos bastidores. Ela saberia responder a qualquer gesto desrespeitoso, mas sentia o temor no set durante a gravação. O clima seguiu assim durante a cena de penetração, até que ela sentiu que tinha acabado de menstruar.

"Começou a escorrer sangue no lençol branquinho. A produção ficou num desespero... Falaram: 'agora o Frota vai enlouquecer'. O diretor começou a se explicar: 'Frota, Frota, desculpa, a gente vai ter que parar aqui...' E ele levantou, e como eu tava em cima, ele se levantou comigo no colo e me levou até o banheiro. Ele não falou 'sai daqui', né?"

A marca de Imperator no pornô é inegável - e ela tem um palpite sobre isso:

"Sempre busquei uma química real em cena. Sempre fiquei, no intervalo, buscando os toques. Eu preciso sentir tesão real. Sentir a coceirinha, sabe? Sempre disse: 'eu não estou aqui pra sentir dor, eu estou aqui pra sentir tesão e passar tesão pra quem tá em casa. O meu diferencial nos filmes é que eu tenho orgasmos de verdade, tá?"

Afastada da pornografia desde 2007, ela agora produz o próprio conteúdo da forma como quer.

"Às vezes, se estou com um cliente e ele aceita gravar, faço uma cena com ele, posto no 'close friends' e vou ganhar dinheiro de qualquer maneira. Às vezes, é ele mesmo quem filma, para não aparecer o rosto. Então, aproveito a cena, já estou ali mesmo, já estou no motel, pra mim, gravar uma a mais, uma a menos, tanto faz."

Se o pornô seduziu Marcia pelo cachê - muito superior aos R$ 500 que ganhava por semana no "Teste de Fidelidade" —, ela agora não abre mão da própria liberdade.

"Ganho mais dinheiro hoje do que naquela época. Isso é fruto da minha cara lisa, de ir atrás. Não tenho medo de trabalhar. E foda-se, né, a fama já tá aí. Vão me chamar de puta de qualquer maneira. Hoje em dia, para você ter uma ideia, em duas horas e meia, três horas, tiro no mínimo R$ 6.000. E olha que eu pego cada gato, meu filho, você ficaria com inveja. Ganho beijo nos pés e massagem."