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Path discute como psicodélicos e maconha podem revolucionar a medicina

Letícia Naísa

Do TAB, de São Paulo

02/06/2019 18h18

Em vez de passar por um longo tratamento com diversos tipos de medicamento, o futuro que aguarda pacientes psiquiátricos pode ser mais simples do que o imaginado: pequenas doses de psicodélicos, como LSD e MDMA, combinados com psicoterapia.

Os tratamentos que envolvem substâncias psicodélicas ainda não são uma realidade, mas têm sido objetos de pesquisa para se tornarem uma alternativa para ajudar a resolver um dos males do século: a depressão.

A chamada ciência psicodélica foi tema, neste domingo (2), em uma das palestras do Festival Path, maior evento de inovação e criatividade do país. O evento acontece neste fim de semana na região da Avenida Paulista, em São Paulo, e neste ano é apresentado pelo TAB.

Sidarta Ribeiro fala no Path - Iwi Onodera/TAB - Iwi Onodera/TAB
Sidarta Ribeiro fala no Path sobre uso de psicotrópicos e maconha para fins medicinais
Imagem: Iwi Onodera/TAB

Para o professor Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), os psicodélicos e a maconha vão revolucionar a medicina do século 21.

São substâncias de alto potencial terapêutico e muito baixo potencial danoso. Os psicodélicos clássicos não causam dependência, o risco de dependência da maconha é baixo. Do ponto de vista da segurança do uso e do potencial terapêutico é evidente que são substância de interesse médico
Sidarta Ribeiro

Os psicodélicos como alternativa passaram a ser notados a partir do momento em que outros tratamentos encareceram. "Os psicodélicos não têm patente, essa é a vantagem de fazer pesquisa com eles", afirma André Negrão, médico psiquiatra formado pela USP (Universidade de São Paulo).

Na mesa, o psiquiatra Luiz Fernando Tófoli, professor do departamento de psicologia da Unicamp (Universidade de Campinas), explicou que, em doses baixas, os psicodélicos causam relaxamento das "fronteiras do eu" e sensação de bem-estar, além de efeitos anti-inflamatórios. Os efeitos de psicodélicos no cérebro também são notáveis e objeto de pesquisa dos cientistas: as substâncias criam conexões diferentes no cérebro, como áreas sensoriais e áreas de memória.

Essa hiperconectividade parece ser capaz de quebrar padrões de algumas doenças, como depressão e dependência química. Ainda não podemos afirmar com certeza de que vai tratar tudo isso, precisamos de mais estudos.
Luiz Fernando Tófoli

Tófoli também alerta que, apesar de ser um grande avanço, os psicodélicos não são a solução definitiva para o aumento dos casos de doenças relacionada a saúde mental no século. "Os problemas do ser humano e do contexto histórico que a gente vive são mais graves. Os psicodélicos podem ajudar e podem criar um espaço pra gente ver o mundo de outra forma, até mesmo politicamente, mas não resolve tudo."

Preconceito atrasa pesquisas

As pesquisas, no entanto, caminham lentamente no Brasil. Com exceção da ayahuasca, que é possível de ser encontrada no país com mais facilidade para rituais e não é criminalizada, outras substâncias ainda sofrem com estigma e os pesquisadores passam por um longo processo burocrático para conseguir acesso.

"Você precisa de autorizações da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que são caras, é o mesmo valor que cobram da indústria farmacêutica. Não são impossíveis de serem pagas, mas são bem caras e, agora com menos orçamento para pesquisa, isso se torna um desafio", diz. Para baratear este tipo de custo, seria preciso mudar as leis referentes às taxas.

Outro problema enfrentado pelos pesquisadores é o preconceito, apesar de ser em menor escala e contornável conforme o acesso à informação é facilitado. "Tem muita ignorância. As pessoas não sabem direito e então são contra, mas quando elas descobrem que faz efeito, muda tudo", dz Ribeiro.