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Path 2020 encerra nesta sexta com Marina Silva, questões de gênero e humor

Marina Silva na palestra "A crise civilizatória e os desafios do desenvolvimento sustentável" - Festival Path/Reprodução
Marina Silva na palestra 'A crise civilizatória e os desafios do desenvolvimento sustentável' Imagem: Festival Path/Reprodução

27/11/2020 18h49

Inspirar para gerar transformação. Esse foi o propósito do Festival Path Digital, que entregou nos últimos quatro dias debates e ideias inovadoras em mais de 50 painéis e com mais de 150 convidados, de forma gratuita.

Com Marina Silva, debates sobre gênero, cancelamento e sobre a nova cara do humor nas redes sociais — além de muita música, como já é tradição há sete edições no festival e não seria diferente na oitava —, o Path chega ao seu último dia sem perder o fôlego.

"Tivemos um impacto de cerca de dez milhões de pessoas nesses quatro dias de programação. Para uma primeira edição completamente online aprendemos muito", disse Fabio Seixas, fundador e diretor de conteúdo do festival. "A inovação faz parte do DNA do festival, e considerando que estamos em uma semana de aumento de casos na pandemia, semana de segundo turno em eleições municipais, acreditamos que o Path trouxe discussões relevantes, aprendizados e diversos novos olhares, além de trazer conteúdo de qualidade para todos e todas em território nacional."

Já pela manhã nesta sexta, a ex-ministra do Meio Ambiente falou sobre "A crise civilizatória e os desafios do desenvolvimento sustentável". "A natureza da crise que estamos vivendo é de tamanha magnitude que abarca geográfica e demograficamente o planeta inteiro, a humanidade inteira. Por isso, exige o esforço de todos, ao mesmo tempo, para que a gente possa encontrar uma saída", disse ela. "O que está em jogo é a possibilidade de destruirmos as condições que promovem e sustentam a vida no planeta Terra."

Questões ambientais, econômicas e políticas rondam o que a ex-ministra chama de crise civilizatória, resultado de um foco no "ter", e não no "ser". Sem mudanças de comportamento imediatas — das ações individuais quanto ao que comemos e na nossa relação com a natureza até decisões políticas mais amplas de redução de emissão de carbono, por exemplo —, Marina traz dados sobre um cenário de devastação. Para ela, apostamos demais na manutenção do status quo, o que levou a uma inversão de valores.

"Quando o retorno de algo é positivo, a tendência é de repetir a operação que te deu aquele resultado positivo. Só que a repetição tem um prazo de validade. Porque chega um momento em que a repetição leva à estagnação. E isso leva ao que é chamado de princípio do absurdo: quando algo atinge seu limite, ultrapassa esse limite e se transforma no seu contrário", afirma ela.

Uma postura sustentabilista progressista, que faça frente a ideias conservadoras, deve ser adotada, segundo Marina. "A sustentabilidade não é apenas uma maneira de fazer as coisas, é muito mais. É uma maneira de ser, é uma visão de mundo, um ideal de vida, uma forma de nos relacionarmos em outras bases", defende. Para fazer a mudança, a ex-ministra aponta que já temos todas as condições tecnológicas disponíveis.

Com uma mudança de comportamento para o foco no "ser" e decisões políticas que apliquem essas tecnologias a serviço do meio ambiente e das pessoas, ela vê espaço para otimismo. "A esperança é que nós podemos resolver o problema. Eu disse que eu não viria aqui para deixar ninguém deprimido. Ainda bem que há aqueles capazes de ver, ouvir e perceber, e de fazer as coisas antes, para criar um lugar para onde possamos ir."

Gênero e cancelamento

Política também se faz no dia a dia, e isso ficou claro em outros debates no último dia do Festival Path Digital. Da cultura do cancelamento nas redes às questões de gênero envolvendo paternidade e respeito às diferenças, as discussões colocaram em questionamento como nossos comportamentos nas redes e fora delas podem ajudar a criar uma sociedade mais igualitária.

"Eu acredito que, conforme a gente vai alcançando um público maior, a gente tem mais responsabilidade com as informações que publica. Isso é muito sério", disse Cecília Boechat no debate "Cancelamento". Sem se colocar numa posição de "sabe-tudo" ou dono da verdade, é preciso estar aberto a ouvir e debater, defendeu ela. Cancelar, para Boechat e para André Carvalhal, também participante do painel, nem sempre é a melhor solução, pelo menos não da forma como é feito hoje.

"Acho que tem um jeito que isso pode ser feito de forma positiva, para trazer mudanças efetivas. Eu vi transformações reais acontecerem dentro de marcas que não teriam acontecido se grandes confusões tivessem aparecido", relata Carvalhal. "Mas talvez a gente possa discutir como fazer isso da melhor forma possível, de maneira justa."

Aliás, parte dos cancelamentos que ocorrem envolvem questões de gênero. Violência contra a mulher, violência sexual e desrespeito à identidade alheia são alguns pontos que levam à crucificação no tribunal da internet. Na mesa "Para elas, eles e iles", Estela Rocha, Ona Silva, Pedro Memoh e Sabrina Ginga trouxeram à tona a responsabilização de cada um de nós nessas questões.

"Racismo não sou eu que vou resolver, transfobia não sou eu que vou resolver. Espero que vocês estejam à frente dessa conscientização", pediu Silva, dirigindo a palavra a quem tem posição de privilégio na sociedade.

CAOScast e humor

Mais tarde, o público do Festival Path Digital pôde assistir à primeira transmissão ao vivo do CAOScast, que você escuta aqui no TAB todas as quintas-feiras. No episódio extra, o tema foi a tal "adultez flutuante". Millennials estão aprendendo a se virar na vida adulta, mas nem todos estão na mesma fase. Dá para encontrar gente que aos 30 está casado, com filhos e com apartamento financiado, enquanto o amigo está viajando pela Indonésia para se reconectar com sua espiritualidade, e um terceiro mora com os pais porque resolveu largar o emprego fixo e empreender.

"Nas gerações anteriores, nessa idade estava quase todo mundo na mesma linha. O que a geração millennial conquista é essa polifonia de narrativas quando a gente pensa o que é a vida adulta", diz Roale.

E o CAOScast nos fez lembrar que os millennials já estão perdendo o posto de "jovens" para a geração Z, que chega nativa digital e começa a ditar novos comportamentos. Um deles é o humor. Você entende o TikTok? Pois eles, sim. Kaique Brito, que aos 16 anos tem mais de 300 mil seguidores, conversou com Joel Vieira na mesa "Rir pra não chorar!" sobre as novas caras do humor crítico nas redes sociais.

Para seguir no ritmo mais leve, a sexta-feira encerrou com pocket shows de Saullo e Sarah Roston e Gavi, a partir das 17h50 em https://www.pathdigital.com.br/.