Relações humanas e com o planeta são tema do 2° dia no Festival Path
A pandemia mudou nossas relações com o trabalho, com a casa, com a comida, com as telas, e também com os outros e com nós mesmos. Alguns processos foram acelerados, outros nasceram neste novo mundo, objeto de estudo e olhares curiosos dos participantes desta 8ª edição do Festival Path, que neste ano ocorre de forma digital e gratuita até sexta-feira, 27.
"A pandemia trouxe bons aprendizados. Um deles foi rever o uso do nosso tempo", observou o chef Alex Atala na palestra "Tempo, valor e interdependência". Atala comemora quem viu na cozinha um espaço de preencher o novo vazio. Sobre os chefs de quarentena, disse: "acho genial que as pessoas entreguem seu tempo para alimentar alguém, se aproximem do ingrediente, ou do produtor, ou da história daquele ingrediente. A comida começa a ganhar um novo valor".
Esse valor do qual o chef fala não poderia estar mais longe do que estamos acostumados a associar ao termo, ou seja, do dinheiro. Valor nesse contexto é criar uma nova relação com o alimento, que ele diz esperar que tenha vindo para ficar. "A gente joga fora a comida que vale mais que a moeda, que a gente não joga fora. Damos sobrevalor ao dinheiro, ou não reconhecemos o real valor do alimento. E a pandemia está trazendo esses novos valores", refletiu ele.
Rever nossos hábitos alimentares passa por prestar atenção na diversidade da comida. E isso não se limita a um prato colorido com vários legumes. Significa conhecer de onde vêm nossos alimentos e fazer escolhas diversas sobre suas origens, respeitando os ecossistemas nos quais eles estão inseridos.
O chef, que tem parcerias por exemplo com indígenas ianomâmis em todo o processo de produção dos cogumelos que usa em seus pratos, lembra que essa é uma das maneiras de valorizar não só a saúde individual, mas a natureza e a cultura do país. "Se nós não promovermos a biodiversidade, não comermos o que ela nos entrega, a gente vai empobrecer nossa sociobiodiversidade e vai fortalecer os sistemas presentes de biocultivo. O alimento é o maior elo entre a natureza e a cultura", disse Atala. "Me assusta quantas pessoas no planeta Terra não reconhecem um pé de laranja sem uma fruta."
Na palestra "O consumidor do futuro 2022", a consultora da WGSN Brasil Julia Curan lembrou que nossa relação com a natureza é uma das grandes ansiedades do mundo moderno. Em uma pesquisa global da empresa de tendências, 90% dos entrevistados afirmaram que a crise climática faz com que eles se sintam inquietos ao pensar no futuro.
E pensar em um novo planeta, mais sustentável e com equidade, passa por dar voz a narrativas mais diversas. Foi isso que defenderam Vanessa Mathias e Lua Couto no debate "Futuros regenerativos: narrativas rizomáticas emergentes". "A gente acha que é mais fácil colonizar Marte, chegar a outros planetas, antes de discutir nossas formas de vida, nosso estilo de vida aqui", refletiu Mathias. "A gente não pode ter essa ideia de que a tecnologia vai nos salvar de nós mesmos."
Para Atala, a nova relação das pessoas com o meio ambiente começa pela alimentação. "Nós como consumidores temos força e valor. Não compre, não cozinhe, não coma e não sirva o que não está de acordo com a sua ética e com a sua verdade."
Relação individual
Em época de filtros e edições cada vez mais fáceis na imagem que passamos nas redes sociais, a discussão sobre o padrão de beleza também não poderia ficar de fora. Cris Guerra, Alexandra Gurgel e Marina Martins debateram o que é ser feliz com seu próprio corpo na mesa "Beleza é padrão?"
"O padrão é aquilo que a gente não é. Porque o mercado em geral quer que a gente mude, então o padrão está intimamente relacionado à palavra desejo", opinou Guerra. "E o desejo só existe enquanto a gente não tem."
As palestrantes lembram que as pressões estéticas sobre o corpo feminino vêm de uma posição de controle sobre o comportamento das mulheres, e Gurgel relata que o movimento de autoaceitação é o primeiro passo para quebrar essas amarras. "Quando a gente pensa no título dessa discussão, 'beleza é padrão?', para mim não é. Para mim, beleza é justamente ser livre", afirmou ela.
Gurgel comemora o início dessa mudança, mas afirma que ainda estamos em uma primeira fase. "A gente teve muito preconceito na pandemia. O ódio ao corpo gordo se tornou ainda maior, principalmente porque a liberdade do outro incomoda. Se a gente estivesse tentando ser padrão, não incomodaria tanto", disse ela.
Já Martins trouxe sua impressão como mulher negra. "Eu sinto que esse apagamento e a padronização da estética, além de me imporem que eu tenha que parecer uma pessoa branca e magra, para eu caber, existe o desejo de que eu não exista, o desejo do apagamento do meu ser", refletiu. Como caminho, ela sugere espaços de debate e pensamento mais livres. "A gente precisa construir mais esse espaço para ser vulnerável e dizer 'eu não sei', 'eu estou tentando aprender'."
O Festival Path Digital segue até sexta-feira, 27, com 500 horas de programação e esperando atingir 10 milhões de pessoas, nesta que é sua oitava edição.
UOL TAB é parceiro do Festival Path e terá cobertura de todos os dias do evento. Acompanhe pelo nosso site e redes sociais.
Serviço
Festival Path 2020
Data: de 24 a 27 de novembro
Inscrições gratuitas e programação completa: www.pathdigital.com.br
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