Por que tem gente que apaga a foto do WhatsApp quando está triste
Uma carinha sorridente embaixo da outra. Essa provavelmente é a imagem que você vê ao abrir o aplicativo do WhatsApp.
No Twitter as fotos de perfil podem ganhar ares irônicos e cômicos. No LinkedIn são mais quadradonas. No Instagram, costumam ter jeito de capa de revista. Agora, no WhatsApp, a ideia é simplesmente se identificar. Mas não é tão simples assim.
"A imagem na internet está cada vez mais acoplada à própria pessoa", observa a psicóloga Josie Conti ao TAB. "Quanto mais a gente usa, mais conhece os mecanismos e vai se adaptando às maneiras de aparecer online, aos códigos de comunicação indireta."
O que significa, então, não usar uma foto no app? Ou, ainda, apagar a foto de perfil? William De Lucca levantou a questão no Twitter na semana passada: "Gente, no círculo social de vocês as pessoas tiram a foto de perfil no WhatsApp porque estão tristes?". As reações ao post indicavam a William que ele provavelmente tinha levado um block — quando alguém te bloqueia, você deixa de ter acesso à foto da pessoa.
Outros comentaram também que é possível restringir o acesso à foto no app. Nas configurações, dá para deixar a imagem visível apenas para quem está na sua lista de contatos do aparelho.
Não foi block
Aos poucos, os tuiteiros começaram a fazer algumas confissões. Houve quem dissesse que apaga a foto para chamar atenção dos amigos; outros admitem querer provocar algum contatinho específico. Mas muitos afirmaram agir assim quando estão tristes. E não é só "coisa de adolescente", como disseram alguns usuários.
A comerciante e escritora Fatima Oliveira, de 52 anos, conta que fez exatamente isso em junho de 2019, quando ela decidiu tirar a foto do WhatsApp e parar de postar no Instagram. "Estava num período bem complicado da minha vida, meio depressiva, não conseguia lidar com nada — amizades, insatisfação com trabalho. A vontade era mudar de número ou apagar o WhatsApp, mas hoje em dia é impossível", conta.
"Se todo mundo está com a carinha lá e eu não, vou destoar da média e chamar atenção", explica a psicóloga Josie Conti, replicando a psiquê do "apagador" de fotos. "Vai vir gente perguntar o que eu tenho, o que aconteceu, e isso gera o que chamamos de ganho secundário. Não consigo dizer claramente o que estou sentindo, então uso subterfúgios para chamar atenção, conscientemente ou não", avalia a psicóloga.
Vale destacar que "chamar atenção" não é necessariamente negativo ou imaturo. Aliás, Conti ressalta que, desde que não seja um comportamento frequente e banalizado, vale perguntar para aquele amigo que apagou a foto se ele precisa de uma força.
Fatima queria mesmo era delimitar seu espaço pessoal, tirar um tempo para si e não conversar muito. Funcionou. "Imaginei que muita gente ia estranhar, pensei que fossem perguntar. Mas eu senti um respeito do meu círculo de amizades. Eles sabiam que eu estava pensativa e passando por uma fase difícil."
Diga-me o que postas...
Um estudo da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, analisou mais de 66 mil perfis no Twitter para entender se há uma relação entre a personalidade e o tipo de foto dos usuários. Os pesquisadores alimentaram softwares de predição de texto com os tuítes e, a partir dos posts, encaixaram os 66.502 tuiteiros nas cinco personalidades do sistema Big Five — muito usado lá fora, representam tipos humanos divididos em cinco grupos: abertura à experiência, conscienciosidade, extroversão, amabilidade e neuroticismo. Os resultados foram comparados aos de um grupo de controle de 429 usuários que preencheram o questionário do teste de personalidade.
A foto de perfil de todos os participantes foi analisada por inteligência artificial em diversos aspectos: enquadramento, expressão facial, cor, postura, entre outros. Depois, as informações foram cruzadas e a equipe descobriu que consegue prever com um bom nível de precisão a personalidade de alguém apenas analisando sua imagem de perfil. De acordo com o estudo, pessoas que se encaixam no neuroticismo têm forte tendência de não mostrar o rosto.
No entanto, Conti lembra que as redes sociais são também uma projeção de quem gostaríamos de ser, não apenas de quem somos. Então pode ser um pouco complicado definir a personalidade de alguém apenas a partir do que a pessoa publica nas redes. "Tem muita gente que mostra exatamente o contrário. Vemos muito isso após o rompimento de um namoro. As pessoas colocam fotos felizes para mostrar que está tudo bem, e na verdade o sentimento é exatamente o contrário."
Aniquilação pessoal
Sabe quando dá aquela vontade de sumir? Conti explica que isso também pode estar por trás do afastamento das redes e da atitude de apagar algumas fotos. "A gente encontra maneiras simbólicas de se destruir quando não está se sentindo bem. Aniquilamos nossa representação virtual, cada vez mais ligada à vida real", analisa.
Com a superexposição às redes sociais, pode dar ainda mais vontade de tirar um tempo para si, e deletar as fotos pode parecer uma maneira de se proteger desses estímulos. A psicóloga compara esse comportamento a quem vive estourando o limite do cartão de crédito e, em vez de aprender a controlar os gastos, cancela o cartão. "Sempre que a coisa foge do controle, o corte radical é uma maneira de sobrevivência", analisa.
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