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Segundo estes pesquisadores, até o ano de 2045 seremos imortais

Arthur Lambillotte/Unsplash
Imagem: Arthur Lambillotte/Unsplash

Mateus Araújo

Colaboração para o TAB

28/02/2020 04h00

Chegamos a 2020. Entramos na "segunda ponte" que nos levará à imortalidade — período da revolução biotecnológica, capaz de desenvolver formas para escaparmos de doenças e do envelhecimento. Sim, estamos a caminho do refrão de um sucesso de Sandy & Junior.

Na "primeira ponte", a dos anos 2010, começamos a tal caminhada com as "terapias" de longevidade, que consistem em cuidados com o corpo, a alimentação e a saúde. A "terceira" onda chegará na próxima década, com a nanotecnologia e a capacidade de rejuvenescermos. Se tudo der certo, em 2045 os humanos já poderão decidir entre viver ou morrer.

Isso é o que dizem os cientistas José Luis Cordeiro e David Wood no livro "A morte da morte: a possibilidade científica da imortalidade", lançado no Brasil pela editora LVM. A afirmação deles é baseada em postulados do futurista Ray Kurzweil e do médico Terry Grossman em "Viagem Fantástica" (2004), homônimo ao filme de 1966, e num compilado de informações e pesquisas desenvolvidas nos últimos anos sobre a corrida distópica em busca da vida eterna.

"O primeiro problema da humanidade não é a mudança climática, o terrorismo ou as religiões; é o envelhecimento", afirma Cordeiro, em entrevista ao TAB. Para ele, a imortalidade será a grande transformação da humanidade no futuro e a maior indústria do mundo.

No livro, José Cordeiro e David Wood retratam a preocupação de estudiosos em retardar ou reverter o envelhecimento, causa de 90% das mortes nos Estados Unidos, e o apontam como a principal chave para a revolução científica. Eles defendem, por exemplo, que em vez de investir nas pesquisas para curar doenças relacionadas à velhice ou alternativas paliativas, os países deveriam investir mais em estudos efetivos de rejuvenescimento.

Viver mais, com pique de jovem, resultará em consideráveis benefícios econômicos e sociais, acreditam os autores. Assim, não envelheceremos nem nos debilitaremos; ficaremos menos suscetíveis ao câncer ou a doenças cardiovasculares, além de aumentar a produtividade e diminuir os gastos com saúde. "Hoje em dia, 80% dos nossos gastos médicos são nos últimos dois ou três anos de vida das pessoas. No futuro, gastaremos dinheiro para isso somente no começo de vida, para que você não envelheça", conta Cordeiro. "A imortalidade e o rejuvenescimento resolvem, por exemplo, os problemas de aposentadoria. As pessoas estarão sempre aptas ao trabalho", acrescenta.

A esperança para "curar" o envelhecimento, mostra a dupla de cientistas, está no caminho traçado pelos avanços no tratamento das células do corpo, principalmente nas descobertas de reprogramação genética. É o caso do estudo desenvolvido pelo cientista Shinya Yamanaka, ganhador do Prêmio Nobel em 2012, que demonstrou a possibilidade de fazer uma célula adulta agir como a de um embrião recém-formado (técnica para formação de células-tronco pluripotentes).

Países como Espanha, Estados Unidos e Japão lideram as pesquisas sobre o tema que na América Latina tem representantes na Argentina e no Brasil - neste caso, a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) é, segundo Cordeiro, expoente.

Será fácil assim?

"A morte da morte" é um afago para aqueles que têm pavor à ideia de morrer — não à toa, pode ser vista como uma quase ficção científica. No livro, os autores traçam uma perspectiva de caráter essencialmente projecionista, entusiasmados com os avanços tecnológicos, mas deixam em aberto questões mais pragmáticas, como quanto custará um tratamento de imortalidade e qual o perfil social e econômico dos primeiros imortais, dois pontos críticos da discussão.

Em outubro de 2019, em evento comemorativo dos 5 anos do TAB, a futurista Lidia Zuin alertou sobre as implicações da desigualdade na imortalidade. "A questão da vida estendida pela tecnologia pode ser uma das questões mais perigosas do século. Porque, enquanto for caro, será possível que apenas os ricos vivam pelo tempo que quiserem", disse.

José Cordeiro é mais otimista. Acredita que, muito rapidamente, os cientistas vão conseguir popularizar os tratamentos. "Será como o celular, que hoje todo mundo tem", compara. Ele também diz que a desigualdade não afetará o processo, já que "no futuro, não haverá o capitalismo". "O capitalismo depende da escassez. E no futuro, com robôs, inteligência artificial e nanotecnologia, não haverá escassez", projeta.

Por outro lado, a possibilidade de não mais morrer deverá abalar as estruturas religiosas, de acordo com o pesquisador. "A morte da morte quer dizer a morte da religião, porque a religião vive da morte, elas explicam o que acontece com você quando morre. E acho que vai haver uma transformação. Vamos passar de um tempo de religiões para um pensamento mais espiritual."

Escolha de palavras

O termo "imortalidade" não seria, exatamente, o ideal para se referir ao nosso futuro. "Amortais" resumiria melhor, uma vez que, embora biologicamente infinitos, não estaremos a salvo de acidentes, homicídios e até suicídios. "Quem não quiser viver, pode se suicidar. O suicídio sempre vai existir. Mas acredito que as pessoas não vão querer morrer, elas vão querer viver para sempre", diz José Cordeiro, que, aos 57 anos, já toma metformina, medicamento usado no tratamento da diabetes capaz de retardar o envelhecimento.

Sem beber, fumar e se alimentando bem, o pesquisador acredita que chegará ao ano determinante da "vida eterna". "Mesmo pessoas de 60 anos e talvez de 70 anos, se elas chegarem a 2029, vão poder viver indefinidamente. Ainda vamos envelhecer, mas a medicina do futuro vai permitir que a gente viva mais. Então eu não penso em morrer, e, no ano 2045, vamos ter tecnologia de rejuvenescimento tecnológico", planeja. "Em 2045, penso em ser mais jovem que hoje. Provavelmente, terei uma idade entre 20 e 30 anos."