'Companheira Simone': o papel de Tebet na vitória de Lula

Simone Tebet (MDB-MS) foi o primeiro nome mencionado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pronunciamento na noite deste domingo (30). "Quero cumprimentar cada companheiro, cada companheira que está aqui atrás, que tiveram um papel importante nessa campanha, sobretudo as pessoas que vieram no segundo turno, como a companheira Simone", disse.

No palco montado pela campanha petista no Hotel Intercontinental, em São Paulo, Tebet, vestindo azul, parecia cansada, mas seu ar era de um tremendo alívio, como alguém confortável com a sua escolha. Manteve-se ao lado de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e Marina Silva (Rede-SP), deputada federal eleita, e aplaudiu poucas vezes. Suas palmas vieram quando Lula mencionou igualdade salarial de homens e mulheres - uma das seis propostas da senadora que foram incorporadas à "Carta para o Brasil do Amanhã" divulgada pelo petista no dia 27. "Lula está encantado por Simone", disse um assessor do presidente que prefere não se identificar.

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Entre integrantes da campanha, ao pé do ouvido se dizia, durante o pronunciamento: "Sem Simone, eu não sei se Lula venceria".

Derrotada no primeiro turno, a senadora percorreu cinco estados nas últimas semanas em campanha para Lula. Foi três vezes a Minas Gerais, duas sozinha e uma com o então presidenciável. Ali, Tebet buscou fazer um contraponto ao apoio do governador Romeu Zema (Novo) a Jair Bolsonaro (PL). Também deu diversas entrevistas à imprensa. "E veja? No segundo turno o Lula teve mais votos em Minas que no primeiro", observou Felipe Soutello, marqueteiro da senadora.

Uma das ideias que Tebet lançou (e a campanha de Lula abraçou) foram os filmes que sinalizavam que não era preciso ser petista para votar 13. Ou vestir vermelho. "Foram decisivas nessa eleição", avaliou Soutello.

Segundo aliados, Tebet se arriscou: ficou à beira de um precipício pois não sabia como seu eleitorado reagiria diante de sua participação na campanha. Amigos de longa data e alguns aliados aplaudiram a atitude.

Às vésperas da vitória

No sábado (29), Tebet fez uma caminhada pela avenida Faria Lima, centro financeiro de São Paulo. No evento, organizado pela presidente do Instituto Política Viva, a empresária Rosângela Lyra, a senadora empunhou o microfone ao lado do deputado federal eleito Alexandre Padilha (PT-SP), interlocutor do partido com o empresariado e cotado para assumir o Ministério da Fazenda.

Padilha estava de branco e assumiu que o partido incluiu na sua agenda uma série de ações com o público que votou em Tebet no primeiro turno.

"Quando encontrei o presidente Lula, a primeira palavra que falei foi 'educação'", declarou Tebet, efusivamente aplaudida. A senadora estava havia três dias sem dormir: antes da Faria Lima, esteve no Rio de Janeiro, onde participou de um ato na Candelária, e acompanhou Lula no debate presidencial da TV Globo.

Ao lado da deputada federal eleita Tabata Amaral (PSB-SP), relembrou os mortos na pandemia e puxou o coro por Lula antes da caminhada no sábado, debaixo de 32ºC. "Ouvi no meu partido que havia um clima de virada do Bolsonaro e tomei rapidamente uma decisão. Mas vamos logo para a caminhada porque quando começo a falar do Bolsonaro eu não paro". A plateia riu e saiu cantando "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".

"Essa blusa branca aqui vai direto pra máquina de lavar", brincou. O branco, segundo Tebet, simboliza a paz. "É a nova cara do Brasil, é a união de todas as cores. Lula será a travessia para um novo tempo, um Brasil generoso e feliz."

Na caminhada, com cerca de 300 pessoas de branco e adesivos de Lula, alguns balançando bandeiras vermelhas, a senadora fez selfies e atendeu ao pedido de uma eleitora paulista: gravar um vídeo para Marilene, uma amiga que votaria nulo. Virou um voto.

Executivas do mercado financeiro há 25 anos, Natalia Dias e Luciana Costa foram de branco à Faria Lima a pedido da senadora. "Simone e Marina trouxeram a garra das mulheres e é incrível porque são mulheres que não são do PT", comentou ao TAB a socióloga Neca Setúbal, herdeira do Itaú. De uma BMW surgiu um grito: "Nossa próxima presidente".

'Candidata certa na hora errada'

No dia anterior (28), o apresentador global Luciano Huck postou uma foto no Instagram ao lado de Tebet, com a legenda: "Remando na mesma direção. Pela democracia e por um Brasil mais afetivo e eficiente". Angélica, por sua vez, declarou: "Domingo deixou de ser sobre um partido, deixou de ser sobre um candidato. É sobre o futuro que deixaremos para nossas crianças, nosso povo e nossa terra. É sobre a defesa da democracia e o resgatar do melhor em nós. Por isso o meu voto é 13".

Para Marta Suplicy (sem partido), ex-prefeita de São Paulo, Tebet já estava predisposta a apoiar Lula antes do final do primeiro turno. "Não foi só uma estratégia. Foi de verdade. Talvez ela não tenha pensado o quão importante e decisivo foi o desempenho dela", disse, ressaltando que também não é petista.

Ex-ministro no governo Dilma Rousseff (PT), o senador Marcelo Castro (MDB-PI) disse ao TAB que errou ao declarar, no dia 22 de julho, que o nome de Tebet "não pegou". "Foi a candidata certa na hora errada. Reconheço meu equívoco. Ela ganhou em todos os debates. Adquiriu uma estatura nacional e pela primeira vez temos um nome com condições de competitividade para uma futura Presidência."

Enquanto Lula discursou no palco, no domingo, Gleisi e Tebet trocavam discretamente figurinhas indicando certa intimidade. "Sim, usar branco foi ideia dela", disse a presidente do partido à reportagem. "Também fortaleceu muito uma proposta que já tínhamos, mas que ela destaca sempre, que é a educação em tempo integral e também a defesa do salário igual para homens e mulheres que ocupam mesmas funções. Isso Lula incorporou com força em seu discurso."

"Ela sai como uma grande liderança dessa eleição. Ela é a grande novidade e vai ter um papel muito importante no Brasil no próximo período", disse Padilha. Lula já elogiou a senadora e chegou a dizer que ela "pode exercer qualquer ministério".

Após o pronunciamento, Tebet foi cercada, mas não quis dar entrevistas. Após insistência, resolveu falar para emissoras de TV, mas foi breve. Ela seguiu para a avenida Paulista e subiu no trio elétrico onde estava Lula. Dessa vez, vestia camisa jeans azul: a senadora usou tanto branco que não sobrou uma peça para o dia da vitória. Estão todas na máquina de lavar.