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'Brasil precisa de empatia': eleitoras de Tebet se dividem sobre 2º turno

A cirurgiã dentista Denise Abranches votou em Simone Tebet no 1º turno e deve votar em Lula no 2º - André Porto/UOL
A cirurgiã dentista Denise Abranches votou em Simone Tebet no 1º turno e deve votar em Lula no 2º
Imagem: André Porto/UOL

Claudia Castelo Branco

Colaboração para o TAB, de São Paulo

17/10/2022 04h01

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) conseguiu 1,6 milhão de votos no estado de São Paulo — quase um terço do que obteve em todo o país (4,9 milhões de votos). Na capital, onde Simone conquistou 558.748 votos (8,11%), a maioria dos eleitores que apertaram 15 para presidente moram em bairros ricos.

Na seção do Jardim Paulista (Zona Eleitoral 5), por exemplo, 15,8% dos eleitores apostaram na chapa de Tebet e Mara Gabrilli (PSDB-SP). Esta foi a zona que deu a Simone a maior porcentagem da capital. O bairro tem um dos metros quadrados mais caros do Brasil — com valores acima dos R$ 16 mil — e está próximo à avenida Paulista.

Moradora dos Jardins, Denise Abranches, 47, coordenadora da área de odontologia do Hospital São Paulo, votou em Simone e Mara no primeiro turno. Ela foi a primeira brasileira voluntária a receber a vacina AstraZeneca contra o coronavírus. "Votei pela ciência, que é soberana." A participação de Tebet na CPI da Covid foi fundamental para escolhê-la como candidata, disse a dentista.

No segundo turno, Abranches votará no que chamou de "tríade da vacina" — Lula, Alckmin e Simone. Ela confirmou que foi Nelson Teich, o ex-ministro da Saúde que passou 28 dias no cargo, quem fez o primeiro contato com a Universidade de Oxford, responsável pelo estudo da AstraZeneca do qual fez parte. O critério de escolha para voluntários fora o de exposição ao vírus. "Onde tinha mais vírus? Na boca. Eu digo que estava na 'linha de frente final'." Denise emocionou-se o tempo inteiro ao lembrar do ápice da pandemia no Brasil. "Eu lidava com saliva. Ninguém queria encostar em mim, descer no elevador comigo. Não consigo esquecer."

Na época, não era simples recrutar voluntários para testes clínicos, devido à disputa ideológica travada no Brasil e ao negacionismo pregado pelo governo federal. Mas ela nunca sentiu medo. De férias, ela conta que está "esperando a chuva passar". E, pelas 700 mil pessoas que morreram, não escondeu sua decisão para o segundo turno. "Enquanto morriam, o presidente estava andando de jet ski."

Simone Tebet e Lula, no anúncio do apoio da candidata à candidatura do ex-presidente  - Ricardo Stuckert/Divulgação - Ricardo Stuckert/Divulgação
Simone Tebet e Lula
Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação

Do Cidade Jardim ao Butantã

Ana Luiza Mansour embarcava para a Europa quando atendeu ao telefonema da reportagem do TAB. Moradora do Cidade Jardim, na zona sul, ela também votou em Simone Tebet no primeiro turno, para acabar com a polarização entre Bolsonaro e Lula. "Agora vou anular. Tá difícil."

Mansour é voluntária em projetos sociais. Faz críticas ao presidente, mas apoia Sergio Moro e não consegue votar no PT. "Realmente achei a Simone mais séria, uma pessoa com postura." Com o avião decolando, despediu-se. "Tenho outras amigas que votaram nela também."

Uma delas é Claudia Amado, corretora de "apartamentos de requinte" — prefere não usar o termo "luxo". Formada em publicidade e psicologia, Amado frequenta círculos de gente com alto poder aquisitivo em São Paulo. "Sou um compilado do Brasil."

Nascida no Rio de Janeiro e com família de origem diversa — Sergipe, Bahia e Rio Grande do Sul —, contou não ter gostado das declarações do presidente sobre os nordestinos. Ela vota na Zona Eleitoral 346, que corresponde ao Butantã, na zona oeste, onde a chapa de Tebet obteve 11,70% dos votos.

Amado é pragmática nas falas e não gosta de forasteiros na política. Elogiou Simone Tebet usando os adjetivos "sensata", "inteligente", "estudiosa" e "firme". "Sem grito. Sem berro. Estou cansada de estridência. O fato de ela ter uma história política não é demérito nenhum."

A corretora passou a observar a senadora quando o MDB ventilou seu nome como possível candidata. Ao se cercar de mulheres de renome, como a economista Elena Landau, Amado tomou sua decisão. "O fato de ser mulher pesou também. Ela apresentou propostas para a educação e vi um olhar mais afetivo para o povo brasileiro. São milhões de pessoas passando fome. Ela enxerga isso. O Brasil não é feito só de empresários, concorda?".

Amado, que não gosta do PT e prefere não mencionar o nome de Lula, afirma que, neste momento, seu pensamento está em "total consonância ao de Simone Tebet". "O Brasil precisa de empatia", encerra.