Só para assinantesAssine UOL

COP30: 'Quintais' do Marajó vão receber R$ 56 mi de investimento

Quilombos do arquipélago do Marajó (PA) esperam a visita dos "gringos" durante a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que ocorre entre 10 e 21 de novembro em Belém.

Isso porque o Fundo Verde do Clima, iniciativa relacionada à ONU para financiamento de projetos para enfrentamento das mudanças climáticas, está investindo US$ 9,8 milhões (cerca de R$ 56 milhões) num projeto intitulado Marajó Resiliente.

Três cidades do arquipélago foram contempladas no projeto: Soure, Salvaterra e Cachoeira do Ariri.

O objetivo, segundo os organizadores, é até 2028 implementar 800 hectares de sistemas agroflorestais, o que contribuiria para a renda dos agricultores.

Esses sistemas, ligados às tradições históricas no Marajó, são chamados de "quintais".

Cerca de R$ 33 milhões devem ser destinados às famílias participantes do projeto, mediante mudas e sementes, conta Juliana Strobel, da Fundação Avina, organização responsável pelo Marajó Resiliente.

"60% do valor total nós estamos conseguindo fazer chegar na 'ponta'", diz.

Foi feito um edital para escolher 30 "multiplicadores" —integrantes de comunidades de baixa renda que serão beneficiados com o projeto.

A agricultora Roseli Santos, 50, uma das lideranças do quilombo Vila União, de Salvaterra, é uma das multiplicadoras.

Continua após a publicidade

"Nossa agricultura é familiar. A gente nasceu e cresceu fazendo isso", diz.

Segundo Santos, o projeto vai ajudar no aprimoramento financeiro e técnico, pois a área é arenosa e precisa de correções.

"Às vezes, a comunidade não tem dinheiro para comprar calcário para corrigir o solo", exemplifica.

Roseli Santos, uma das líderes do quilombo Vila União, de Salvaterra (PA)
Roseli Santos, uma das líderes do quilombo Vila União, de Salvaterra (PA) Imagem: Fabrício Venâncio/UOL

Ela conta que quer plantar acerola, andiroba, bacuri, banana e pupunha, além dos três "carros-chefe" do projeto: açaí, cacau e cupuaçu.

"Nosso quintal é para criar galinha e porco para o sustento. Também plantamos milho, feijão, abóbora, maxixe, mandioca, abacaxi. E hortaliças, a gente sobrevive delas", diz.

Continua após a publicidade

Impacto

Segundo os organizadores, as práticas tradicionais dos quintais funcionam como soluções de adaptação climática "e também como modelos escaláveis que podem ser ampliados para beneficiar mais e mais pessoas".

"O Marajó é uma região de alto impacto das mudanças climáticas. É a maior ilha flúvio-marítima do mundo", diz Juliana Strobel, da Fundação Avina.

"Nas discussões da COP, as ilhas são um foco especial, porque são muito afetadas. Há países-ilha que podem sumir do mapa por causa das mudanças climáticas", completa.

Segundo um estudo de vulnerabilidade climática de 2022, a região pode ter um aumento de temperatura na casa de 2ºC até 2050, com fenômenos climáticos extremos como tempestades e secas prolongadas.

O projeto será exposto num evento paralelo da COP com autoridades e quilombolas.

Continua após a publicidade

Strobel conta que os organizadores também vão promover uma "Missão Marajó", levando convidados para ver de perto o avanço do projeto. Entre eles, representantes de países que investiram no Fundo Verde.

*Esta série de reportagens foi feita com apoio do Pulitzer Center Rainforest Reporting Grant

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.