Topo

Preso novamente em SP, hacker se queixava há um ano de abandono de Lula

Walter Delgatti Neto, o "hacker de Araraquara" - Matheus Pichonelli/UOL
Walter Delgatti Neto, o 'hacker de Araraquara' Imagem: Matheus Pichonelli/UOL

Colaboração para o TAB, de Valinhos (SP)

28/06/2023 15h48

A Polícia Federal prendeu na última terça-feira (27), em São Paulo, o hacker Walter Delgatti Neto. Conhecido como "Hacker de Araraquara", Delgatti é apontado como responsável por invadir perfis no aplicativo Telegram e vazar mensagens trocadas entre procuradores da força-tarefa da Lava Jato e o então juiz Sergio Moro. Publicadas pelo site The Intercept Brasil, em 2019, as mensagens deram origem ao escândalo da Vaza Jato, que mostrou como as autoridades de Curitiba combinavam estratégias para incriminar investigados.

Delgatti foi preso, segundo o jornal O Globo, por descumprir uma determinação judicial que o proibia de acessar a internet desde que passou a responder ao seu processo em liberdade. Ele já havia sido detido em 2019, na esteira da Operação Spoofing, da PF.

A prisão acontece quase um ano depois de o hacker de 34 anos conceder uma entrevista ao TAB para contar sua rotina após se tornar celebridade, sobretudo em grupos de esquerda. Não eram poucos os defensores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que o apontavam como principal responsável pela série de vitórias que o petista obteve na Justiça, após as mensagens vazadas revelarem a parcialidade de Sergio Moro.

Ao lado de seu então advogado, ele conversou com a reportagem em um restaurante à beira de uma rodovia que corta Araraquara. Falou sobre os tempos de prisão, sua rotina como estudante de direito em Ribeirão Preto (SP), seu interesse por política e havia declarado voto em Lula, mesmo dizendo-se decepcionado por uma suposta falta de reconhecimento por parte do atual presidente.

Semanas depois da entrevista, a convite da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), ele viajou a Brasília para um encontro com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e o chefe de seu partido, Valdemar Costa Neto.

No encontro, segundo apurou a reportagem do TAB na época, foi questionada a opinião do hacker sobre segurança das urnas eletrônicas.

A mudança brusca surpreendeu e decepcionou quem o conheceu após a Vaza Jato, entre eles o escritor Fernando Morais, autor de uma biografia de Lula e que dedicou um dos capítulos da obra a uma entrevista com o hacker.

Na época, Delgatti já dava sinais de que não obedecia às determinações judiciais. Apesar de não poder acessar internet, ele foi contratado para administrar o site e as redes sociais de Carla Zambelli. E, mesmo durante a entrevista, mostrava dificuldade para explicar como acompanhava o noticiário e se comunicava com tanta gente sem poder usar celular.

Em fevereiro de 2023, o site The Brazilian Report informou que o hacker tentou invadir o aparelho do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, que na época já presidia o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

De acordo com a PF, Delgatti criou um e-mail, ligado a uma conta bancária, para obter doações por Pix, e também um perfil em um site de compras. Ele também teria criado uma conta em um serviço de backup para enviar selfies e documentos.

Pesou contra ele ainda o fato de não ter sido encontrado nos endereços fornecidos à Justiça.

O hacker conversou com a reportagem do TAB em julho de 2022. Confira a entrevista.