Mercado Livre acumula recordes de vendas enquanto varejo nacional despenca
Enquanto as principais concorrentes do varejo nacional enfrentam dificuldades em suas operações, o Mercado Livre vem acumulando recordes de vendas.
As receitas da empresa no Brasil aumentaram 45% no quarto trimestre de 2023, ante o mesmo período do ano anterior.
Magazine Luiza teve um lucro inédito no período, após dois anos no vermelho, de R$ 101,5 milhões — mas, no somatório do ano, teve prejuízo de R$ 550,1 milhões.
Casas Bahia tiveram prejuízo de R$ 1 bilhão no quarto trimestre e cortaram 8.600 postos de trabalho em 2023.
'Só vende quem tem preço'
Segundo o Mercado Livre, há 574 mil micro e pequenos empreendedores da América Latina vendendo na plataforma. A empresa afirma empregar e ser a principal fonte de renda para mais de 1,8 milhão de pessoas na região.
Mas há quem ache que o gigantismo do marketplace prejudica os pequenos e médios varejistas.
O engenheiro mecatrônico Bruno Gontijo, de Belo Horizonte, postou um vídeo em seu canal no YouTube intitulado "10 provas [de] que o Mercado Livre está se livrando gradativamente dos pequenos vendedores".
Gontijo, que dá treinamento em e-commerce, diz ao UOL que recentes mudanças na plataforma fizeram micros, pequenos e médios varejistas serem "engolidos" pelos fabricantes.
Segundo ele, os lojistas que compram e revendem "tendem a perder espaço" com as lojas próprias dos fabricantes no Mercado Livre.
"Essa pode ser uma percepção de mercado, mas não enxergamos dessa forma", informou o Mercado Livre.
Impacto nas operações
Em 2019, o Mercado Livre tinha 2.600 colaboradores diretos no Brasil. Hoje, são 24 mil — 15 mil apenas na logística. O número não inclui os terceirizados.
"A corda estoura mais rapidamente em cima do pequeno e do médio empresários. Mas o impacto é nas operações de modo geral, na Magalu, Casas Bahia, grandes redes de supermercados", afirma o professor Cláudio Felisoni, coordenador do programa de estudos em varejo da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP.
A pesquisa "A Vitalidade do Varejo", do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo), situa os hipermercados no campo dos negócios "absolutamente não promissores" — pela concorrência dos atacarejos, das lojas de conveniência e do varejo online.
"O comércio eletrônico é um caminho sem volta. Esta é uma tendência para a qual não vemos retrocesso", afirma Daniel Sakamoto, gerente executivo da CNDL, a Câmara Nacional de Dirigentes Lojistas.
Segundo dados da CNDL, o comércio eletrônico representa entre 10% a 12% do volume do varejo no Brasil — nos Estados Unidos, já responde por 30%; na China, 50%.
"O Mercado Livre saiu na frente, mas ainda temos muito espaço para crescer", diz Sakamoto.
Ivan Tonet, coordenador de iniciativas digitais do Sebrae, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, afirma que, para micros e pequenos, a salvação está em evitar a disputa com os grandes.
Eles recomendam que empreendedores diversifiquem canais de venda e trabalhem para nichos de mercado.
"Se for vender iPhone, vai encontrar 200 empresas oferecendo o mesmo produto", afirma Tonet.
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