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Empresa acusada de elo com PCC paga aluguel à construtora de Milton Leite

A construtora do presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite, recebe pagamentos mensais da empresa de ônibus Transwolff, acusada de lavar dinheiro para a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

O valor, de R$ 812 mil, é referente ao aluguel de um conjunto industrial e de um terreno na zona sul de São Paulo. Esse pagamento é quase três vezes maior que o preço de mercado.

Esses espaços pertencem à construtora Neumax, empresa de Milton Leite e de seus filhos, o deputado estadual Milton Leite Filho e o deputado federal Alexandre Leite. Os três são filiados ao União Brasil.

O UOL teve acesso exclusivo ao contrato de aluguel, que é assinado por Milton Leite e por Luiz Efigênio Pacheco, o Pandora, dono da Transwolff e acusado de ser integrante do PCC.

Pandora também consta como fiador do contrato, que até agosto deste ano transferiu cerca de R$ 20 milhões à construtora de Leite.

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Imagem: Arte/UOL

O documento indica que o vereador mantém negócios com a Transwolff, o que ele sempre negou. O assunto está no radar do MP-SP (Ministério Público de São Paulo).

Leite é investigado na Operação Fim da Linha, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do MP-SP.

Após a publicação da reportagem, a assessoria do vereador procurou o UOL. Em nota, Milton Leite afirma que o contrato em questão "nunca teve validade", pois se tratava de proposta de ampliação da área alugada, o que nunca ocorreu, e que o valor recebido mensalmente pela Neumax é inferior, sem revelar quanto (a íntegra está no final deste texto).

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Imagem: Arte/UOL

A investigação apura a infiltração do PCC no sistema de transporte por ônibus na capital paulista.

Pandora chegou a ser preso na Operação Fim da Linha, mas foi solto após um habeas corpus.

Além do aluguel do conjunto industrial, a Neumax é citada num relatório de auditoria independente das contas da Transwolff como um dos "principais fornecedores" da empresa entre 2021 e 2022.

Segundo o documento, ao qual a reportagem teve acesso, a construtora de Leite recebeu outros R$ 2 milhões da empresa de Pandora.

Questionado sobre seus negócios com a Transwolff, Leite não respondeu. Afirmou via assessoria que o valor do aluguel "é muito menor" do que o citado no contrato.

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"A Neumax comprou a área para outros projetos e, a pedido da viação, alugou parte do imóvel apenas por um curto período. A área ainda será usada para os projetos originais da construtora", declarou em nota.

A defesa de Pandora informou que ele está judicialmente impedido de dar entrevista sobre os autos.

"Somente o Ministério Público, na pessoa de seu titular do Gaeco, pode dar entrevistas em todos meios possíveis de comunicação, sem prévia autorização. Entendemos que não estão sendo respeitados os direitos do investigado, que solicitou uma coletiva junto a imprensa. Não se encontraram respeitadas as paridades de armas, pois o Ministério Público não está sujeito à mesma fiscalização da defesa", afirmou o advogado Roberto Teixeira Leite, que defende Pandora.

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Imagem: Arte/UOL
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Imagem: Arte/UOL

O que diz o contrato

O contrato de aluguel foi assinado em 1º de janeiro de 2022 e se encerra em 31 de dezembro de 2026.

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O documento prevê um desconto de R$ 367 mil no pagamento dos três primeiros meses de aluguel, de janeiro a março de 2022.

Somando os pagamentos até agosto de 2024, e considerando o desconto, a Transwolff já pagou cerca de R$ 20 milhões à construtora de Milton Leite.

O contrato se refere ao aluguel de um "conjunto industrial" na avenida Paulo Guilguer Reimberg e a um terreno que se estende nas ruas Luis Superti e Ruben Dario, na Capela do Socorro.

Trata-se de uma área construída de 18 mil m², num terreno de 60 mil m² ao todo.

Consulta simples com os números de IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana) no site da Prefeitura de São Paulo revela que o valor venal dos imóveis é de R$ 58 milhões.

O aluguel considerado justo no mercado é de 0,5% desse valor, o que daria R$ 290 mil por mês.

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O UOL esteve no endereço e verificou que lá funciona uma das maiores garagens da Transwolff.

Desde que estourou a Operação Fim da Linha, em abril, a empresa de ônibus está sob intervenção da SPTrans, da Prefeitura de São Paulo.

Há comunicados do comitê de intervenção pregados na portaria.

Um deles informa a implantação de vigilância noturna nas garagens. "Mochilas e sacolas poderão ser verificadas de forma aleatória. Essa ação protetiva busca cada vez mais alinhar os costumes da empresa."

Outro comunicado diz que no período eleitoral estão proibidas manifestações de cunho político "que caracterize ato de panfletagem, pedido de voto ou campanha eleitoral", assim como o uso de adesivos, camisetas ou qualquer outro material de propaganda.

Segundo a investigação do MP, Pandora pediu votos para Leite em eleições anteriores. "Nosso representante no Poder Legislativo", escreveu, em email enviado a diversos destinatários.

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Procurada, a SPTrans informou que a medida atende norma da Controladoria Geral do Município "que veda qualquer tipo de customização do traje de serviço em favor de candidato, candidata, partido político ou coligação partidária durante o horário de trabalho".

Garagem da Transwolff na zona sul de SP
Garagem da Transwolff na zona sul de SP Imagem: Juliana Sayuri/UOL

Estreita ou institucional?

O Ministério Público aponta um "estreito relacionamento" entre Milton Leite e a cúpula da Transwolff, conforme revelou o UOL.

O vereador nega e se revolta com a investigação que o liga ao PCC.

No fim de julho, Leite afirmou ao UOL que conhece todos os empresários e sindicalistas do setor de transporte por se tratar, segundo ele, de "uma relação institucional".

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Ele atribuiu as acusações de proximidade especial com a Transwolff ao fato de a garagem dos ônibus ficar a 500 metros do escritório dele na zona sul.

Leite se referia à garagem principal da Transwolff, que fica na avenida Olívia Guedes Penteado, também na Capela do Socorro.

O imóvel foi construído em 2006 e atualmente é a sede da Transwolff.

Já o escritório dos sócios, que Pandora identifica como seu endereço, fica na rua Geraldo Campos Moreira, na região da Berrini, zona sul da capital.

Entre os documentos da Operação Fim da Linha consta um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) de movimentações superiores a R$ 50 mil de Pandora em dinheiro vivo que cita a construtora.

De acordo com a investigação do MP, Leite foi citado em emails e mensagens de WhatsApp entre servidores públicos ligados a ele e dirigentes da Transwolff, entre eles Pandora.

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Segundo mensagens acessadas pelo MP, foi no escritório da Berrini que o PM Alexandre Paulino Vieira, aliado de Leite que já chefiou a assessoria policial-militar da Câmara Municipal, marcou de se encontrar com Cícero de Oliveira, o Té, outro sócio da Transwolff que é réu na Operação Fim da Linha.

A Transwolff, conforme revelou o UOL, também contratou o escritório do advogado Luciano Vitor Engholm Cardoso, que é ligado a Leite desde 2000, para disputar a licitação pública de transporte na capital paulista.


Nota enviada por Milton Leite

"Repudio veementemente que o UOL tenha publicado ilegalmente documentos privados relacionados a um contrato particular que nunca teve validade e que tratava da ampliação de uso daquela área em mais 40 mil metros quadrados, o que nunca ocorreu, muito menos com os valores citados. O valor recebido pela construtora Neumax é muito inferior ao publicado e incluiu não apenas a locação, mas também obras de adequações de grande porte que foram feitas na área construída de 16 mil metros quadrados, necessárias para a operação da garagem. Portanto, ao contrário do que diz a reportagem, os valores estão abaixo dos preços de mercado."

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