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Apoio a Nunes reforça cacife de Tarcísio para Presidência em 2026

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), encerra o primeiro turno como um dos grandes vencedores das eleições de 2024.

Ele escolheu seu lado na disputa pela Prefeitura de São Paulo quando o ano eleitoral mal tinha começado.

"[O prefeito] Ricardo Nunes é como um irmão pra mim", declarou, em 25 de janeiro, durante evento de comemoração do aniversário da capital.

De lá pra cá, apesar de "algumas contraindicações" ao apoio, como costuma dizer, Tarcísio assumiu o papel de fiador da campanha de Nunes e atuou em várias funções, de estrategista e conselheiro a cabo eleitoral.

Pedir votos para o aliado virou compromisso quase diário quando uma nova ameaça à reeleição de Nunes passou a incomodar nas pesquisas. E, desta vez, no quintal de casa.

Diferentemente de Guilherme Boulos (PSOL), o coach Pablo Marçal assustou a campanha por representar uma opção à direita, especialmente para os bolsonaristas, que não enxergam Nunes como um deles.

Pesquisa Datafolha divulgada no dia 26 de agosto apontou, pela primeira vez, empate técnico entre Nunes, Boulos e Marçal.

Se antes o governador destacava sua apreensão em ter Boulos no comando da capital - inclusive por suas pretensões eleitorais em 2026 -, a ascensão do influencer lhe obrigou a calibrar o discurso para dentro e a trabalhar nos bastidores para impedir uma debandada de aliados do mesmo campo político.

E manter ao lado de Nunes, especialmente, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

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É consenso entre aliados que foi o governador o responsável por impedir que o ex-chefe abandonasse o barco, apesar de Bolsonaro nunca ter entrado de fato na campanha.

Mas o empate técnico entre Nunes, Marçal e Boulos, além da pressão de Tarcísio, levaram Bolsonaro a se posicionar, mesmo que a contragosto.

Em live transmitida na sexta-feira (4), ele apelou aos eleitores de direita que votassem em Nunes para impedir a vitória da "extrema esquerda" e classificou a preferência de seus eleitores com Marçal como um "amor de verão".

Com Nunes no segundo turno, Bolsonaro declarou que iria "entrar de cabeça" em sua campanha.

"Antes havia uma dúvida se eu, entrando de cabeça, poderia atrapalhar. Mas entendo que agora os votos do Marçal, de direita, vão migrar para o Nunes."

Ao lado do coronel Mello Araújo, vice na chapa de Nunes, o ex-presidente chamou o coach de "idiota" e "fofoqueiro" e destacou que o prefeito nunca foi preso, condenado ou indiciado, em crítica indireta a Marçal.

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O "esforço" do ex-presidente na reta final pode até ter ajudado, mas Nunes reconhece Tarcísio, e não Bolsonaro, como seu grande cabo eleitoral na disputa.

"Ele ajudou demais. Comandou reuniões ao longo da campanha, com mais de cem pessoas, às vezes, mesmo sem eu estar presente", afirmou o prefeito ao UOL.

Na terça, 1º, foi além: "Deus me deu um irmão. O Tarcísio é o sujeito mais homem da política que conheci na minha vida".

O prefeito Ricardo Nunes, ao lado do governador Tarcísio de Freitas
O prefeito Ricardo Nunes, ao lado do governador Tarcísio de Freitas Imagem: Adriana Ferraz/UOL

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Cabo eleitoral

Com alta aprovação na capital - cerca de um terço dos moradores consideram a gestão como ótima ou boa -, o governador ainda se dedicou pessoalmente a convencer pastores evangélicos e setores do mercado financeiro a não embarcarem na campanha de Marçal.

No dia 5 de setembro, Tarcísio foi o convidado de honra de um café da manhã na casa do ex-governador Rodrigo Garcia organizado para "alertar" investidores sobre o "risco de Marçal vencer a eleição".

Estavam lá representantes dos bancos de investimentos XP e BTG e Febraban (Federação Brasileira de Bancos), por exemplo.

Naquela ocasião, o coach marcava 22% das intenções de voto, segundo o Datafolha — mesmo índice do prefeito.

Nas semanas seguintes, o governador passou a receber pastores na área residencial do Palácio dos Bandeirantes e a manter um contato mais próximo com líderes de partidos diretamente envolvidos na disputa para alinhar estratégias na reta final.

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Depois ainda se colocou à disposição para pedir a bênção pessoalmente aos líderes das principais igrejas neopentecostais, como Universal, Renascer e Mundial. Também foi a missas e eventos ligados à Igreja Católica.

Presidente nacional do MDB, o deputado federal Baleia Rossi elogiou a disposição do governador.

"Ele esteve envolvido todos os dias praticamente em ações oficiais de governo e de campanha. Há uma empatia entre os dois", afirmou.

Agenda única

Desde 16 de agosto, quando começou oficialmente o período eleitoral, Tarcísio e Nunes se encontram mais de 20 vezes em agendas oficiais e compromissos de campanha.

Na última terça (1º), a dupla esteve com comerciantes do centro para pedir votos e, de novo, ressaltar a importância da parceria.

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"Isso aqui hoje é um time só. As coisas funcionam como música. Às vezes, fazemos mais reuniões com os secretários da prefeitura do que com os nossos", afirmou Tarcísio, que em seguida, afirmou: "Prefiro o cara que não lacra, mas trabalha".

Nunes é só gratidão. "A gente se fala várias vezes ao dia. Ele está sempre disponível a ajudar e até cobra os números dos trekkings (pesquisas internas encomendadas pelos candidatos) para estudar conosco as próximas ações da campanha", contou o prefeito em 30 de setembro.

Tarcísio, aliás, estudou a fundo os resultados da gestão de Nunes à frente da prefeitura.

O governador fez questão de participar, ainda na pré-campanha, dos treinos realizados para debates e sabatinas.

O UOL apurou que Nunes demonstrava bastante nervosismo à época. Estreante em uma eleição majoritária como cabeça de chapa - foi eleito vice em 2020 e assumiu o cargo por causa da morte de Bruno Covas -, o prefeito passou a seguir à risca os conselhos do aliado, que também tem seus interesses na disputa.

De olho em 2026

Apontado como sucessor natural de Bolsonaro na disputa presidencial de 2026 - caso o ex-presidente permaneça inelegível -, Tarcísio teme que uma mudança de rumo na capital resvale em seu governo e em seu potencial eleitoral.

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Tarcísio sobe o tom ao citar uma eventual vitória de Guilherme Boulos, de quem diz ter "ojeriza", segundo interlocutores ouvidos pela reportagem.

Além de representar uma vitória do presidente Lula, potencial adversário de Tarcísio daqui a dois anos, a chegada do deputado do PSOL à prefeitura pode atrapalhar alguns projetos que unem estado e município.

A privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) lidera essa lista.

Apesar de não poder ser cancelado, o negócio será revisto pela prefeitura, segundo promessa de Boulos.

"Não estou pensando em 2026. Meu apoio se dá em função da parceria mesmo e pelos projetos que temos para a capital", afirmou Tarcísio ao UOL.

Não é o que aliados calculam. Em outras regiões do país, o potencial eleitoral do governador tem sido utilizado como "selo de credibilidade", apesar de Tarcísio não ter atuado no cenário eleitoral nacional.

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Em Belém (PA), por exemplo, o candidato do Republicanos, Thiago Araújo, espalhou fotos de Tarcísio para reforçar que ambos são do mesmo partido. Ficou em 4º lugar (7,77%).

Já Flavinha Rodrigues (Republicanos), que disputava a prefeitura de Colíder (MT), recebeu uma gravação exclusiva do governador para ajudar em sua campanha. Ela ficou em 3º lugar (15,85% dos votos).

"Flavinha está comprometida com os nossos ideais, com os nossos valores e tem apreço pelo nosso agronegócio. Conta com o apoio do nosso presidente Bolsonaro e o meu também", destacou Tarcísio em gravação usada na propaganda eleitoral.

Em São Paulo, ao encabeçar a campanha de Nunes - e se sair vencedor até aqui -, o governador paulista se coloca no topo da lista de presidenciáveis para 2026. Mas, para abocanhar a indicação, precisa vencer a esquerda no segundo turno.

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