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Polícia vê Guarujá 'sequestrado' pelo PCC em investigação sobre vereadores

A Polícia Civil de São Paulo afirma que a Prefeitura e a Câmara Municipal de Guarujá, cidade da Baixada Santista, foram "sequestradas" pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).

O parecer consta em relatório da Operação Hereditas, que investiga fraudes em licitações que beneficiaram empresas ligadas a integrantes da organização criminosa.

O UOL teve acesso ao documento, que foi enviado ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo).

A investigação indica que ao menos oito contratos da prefeitura e da Câmara podem ter sido fraudados. Somados, eles chegam a R$ 70 milhões.

Três vereadores são investigados. No dia 1º de outubro, os endereços dos suspeitos foram alvos de mandados de busca e apreensão.

Edmar Lima dos Santos (PP), o Juninho Eroso, presidente da Câmara Municipal, é um deles.

Ainda são investigados Mário Lúcio (Cidadania), apontado como um dos principais articuladores do esquema, e Santiago Ângelo (PP).

De acordo com a polícia, esses vereadores são suspeitos de direcionar contratos com o objetivo de desviar dinheiro público em troca de propinas.

Os três foram reeleitos para a Câmara. Procurados pela reportagem, eles não se pronunciaram.

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Pelo menos um candidato a prefeito também aparece entre os investigados: o empresário Cláudio Fernando de Aguiar (Novo). Ele nega qualquer irregularidade.

Outros três vereadores tiveram seus nomes citados no relatório da Polícia Civil, que analisou dados de uma denúncia anônima.

A investigação contra eles não avançou, mas uma fonte do MP-SP disse ao UOL que esses vereadores ainda podem ser oficialmente investigados.

Juninho Eroso, presidente da Câmara Municipal, é um dos investigados
Juninho Eroso, presidente da Câmara Municipal, é um dos investigados Imagem: Câmara Municipal/Assessoria de imprensa

Chefe do PCC ganhou R$ 20 milhões

O presidente da Câmara Municipal, Juninho Eroso, emprega em seu gabinete a viúva de Cristiano Lopes Costa, o Meia Folha, um dos líderes do PCC na Baixada Santista.

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Ele foi morto a tiros em março deste ano. As circunstâncias não foram esclarecidas.

Meia Folha era dono de uma empresa que, entre 2022 e 2024, recebeu quase R$ 20 milhões em contratos assinados com a Câmara e a Prefeitura do Guarujá.

As informações foram levantadas pelo UOL em pesquisa na base de dados do TCE (Tribunal de Contas do Estado).

Os contratos sob suspeita

Um dos contratos sob investigação tinha como objetivo a transmissão de sessões da Câmara em TV aberta, no valor de R$ 6 milhões. A empresa contratada foi a ISTV.

O principal beneficiário desse contrato seria o traficante Caio Fé da Silva, conhecido como Maradona. Ele também é integrante do PCC.

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A ficha criminal de Maradona inclui tráfico de drogas, associação criminosa, posse e porte de arma de fogo e homicídio.

Segundo relatório da Polícia Civil, esse contrato "teria sido uma imposição de Meia Folha à atual mesa diretora da Câmara de Guarujá".

Outros contratos suspeitos são para aluguel de computadores (R$ 3,5 milhões) e aluguel de impressoras (R$ 13 milhões).

De acordo com a investigação, o dinheiro desviado teria como destino integrantes do PCC e serviria como pagamento de mesada aos vereadores.

O contrato por aluguel de impressoras previa o pagamento por 34 milhões de cópias a cada ano de contrato.

"Algo completamente inverossímil, principalmente quando se contextualiza nos tempos atuais em que a maioria dos documentos são digitais, inclusive assinados digitalmente", afirma a polícia no relatório.

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A suspeita é que impressoras e computadores não foram trocados ou renovados. A empresa vencedora da licitação, Simapi, teria Meia Folha como sócio oculto.

Meia Folha ainda fechou um contrato de R$ 2 milhões para serviços de limpeza na Câmara Municipal.

A empresa vencedora, a HC Serviços, estava registrada em nome dele. Após a sua morte, passou a ser administrada por seu filho.

O esquema atingiria a Secretaria Municipal de Educação e teria como articuladores o vereador Mário Lúcio e o ex-secretário Márcio Reis.

As fraudes ocorreram nas licitações para implantação da biblioteca digital, na confecção de livros e no sistema de gestão da educação.

O valor somado desses contratos na Educação chegaria a R$ 42 milhões. Os documentos foram assinados com empresas registradas em nomes de laranjas.

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Márcio Reis ocupa atualmente o cargo de secretário adjunto da Cultura. Ele não respondeu aos contatos do UOL.

Procurada, a Prefeitura do Guarujá informou que não foi notificada sobre o relatório da investigação. O atual prefeito da cidade é Válter Suman (PSB).

Moradores são detidos durante Operação Escudo, no Guarujá
Moradores são detidos durante Operação Escudo, no Guarujá Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

PCC no Guarujá

Com o fortalecimento do PCC na Baixada Santista nos últimos 20 anos, a região se tornou uma das mais importantes para a facção paulista.

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Durante 10 anos, o porto de Santos foi o principal entreposto do tráfico internacional do PCC. Do maior porto do país, saíram toneladas de drogas para Europa, África e Ásia.

Membros do PCC dominaram as regiões próximas, a exemplo do Guarujá e de Cubatão, onde os criminosos guardam parte da droga, escondem foragidos e mantêm a população como escudo contra operações da polícia.

Por outro lado, a segurança pública estadual costuma realizar operações ostensivas na Baixada, com ações violentas e letais da PM, em sobreposição a operações investigativas, que poderiam ser realizadas pela Polícia Civil.

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