Apreensão de botox falsificado no Brasil aumentou 4 vezes em 5 anos
O número de apreensões de botox ilegal no país quadruplicou de 2018 a 2023. Os dados são da Polícia Federal obtidos via Lei de Acesso à Informação.
Uma das ações cita uma apreensão feita pela PF do Mato Grosso do Sul em 2023. Os 191 frascos sequer tinham rótulo.
De 2018 a 2021, a Anvisa também proibiu dois lotes da substância de serem comercializados. Só em 2023 foram outras três proibições.
Botox é o nome comercial da toxina botulínica da Allergan Aesthetics, empresa que faz parte da AbbVie, multinacional da indústria farmacêutica.
A substância tem a capacidade de paralisar músculos. Usada no rosto, atenua rugas e linhas de expressão.
Aplicar botox é o procedimento não-cirúrgico mais procurado no Brasil.
Foram 571 mil aplicações em 2023, segundo a Isaps (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, na sigla em inglês) — quase o dobro do que foi registrado em 2013.
O número diz respeito a aplicações feitas apenas por médicos, portanto é provável que o total seja ainda maior, uma vez que, no Brasil, outros profissionais também aplicam o produto.
Marca proibida tem venda livre pela internet
O cirurgião plástico e educador médico Luiz Gustavo Leite de Oliveira, especialista em injetáveis faciais, explica que há cada vez mais produtos entrando no país sem autorização.
"O mercado está borbulhando e, com isso, as importações ilegais também", diz.
Pela lei brasileira, os produtos têm de seguir regras de identificação. As marcas precisam de aprovação prévia e só é permitida a circulação de produtos com rótulo em língua portuguesa.
Os lotes para comercialização no Brasil são registrados na agência quando chegam ao país, mas as normas são facilmente burladas e é possível comprar botox ilegal pela internet sem qualquer dificuldade.
Ampolas de uma das marcas proibidas pela Anvisa, a Israderm, foram encontradas pela reportagem sendo vendidas em um site brasileiro.
A agência emitiu um alerta em 2021 sobre a proibição após denúncias de que teria causado necrose em pacientes. A polícia apreendeu frascos da marca em Foz do Iguaçu (PR).
Uma ampola ilegal custa R$ 629,90 e contém um líquido com 100 unidades da substância —em média, com 50 unidades é possível aplicar a toxina em toda a face.
A empresa, que diz ser de Israel, trabalha com embalagem rotulada em inglês.
Também é possível encontrar em sites brasileiros caixas do produto da Allergan, mas com rótulo todo em inglês, por R$ 889 (100 unidades).
Problemas que botox falsificado pode causar
A venda e a aplicação de botox falsificado também é um problema para as autoridades sanitárias dos Estados Unidos.
Em abril deste ano, a agência FDA (Food and Drug Administration) emitiu um alerta sobre sintomas causados pelo uso da substância adulterada, após identificar a aplicação do produto em nove estados.
Os efeitos colaterais incluem:
- visão turva ou dupla;
- dificuldade para engolir;
- boca seca;
- constipação;
- incontinência;
- falta de ar.
Segundo a agência, na falsificação pode haver dosagem incorreta por frasco, ingrediente ativo errado e contaminação, entre outros.
Mas o maior problema é que, para baratear os custos, o produto falsificado tem uma toxina botulínica mais potente. Por isso, os sintomas têm relação com o botulismo, doença fatal que acomete uma pessoa quando a substância se espalha pelo corpo.
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