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Só sobrou o de papelão: após derrota, Bolsonaro deixa Goiânia e candidato

"Ele veio? Ele veio?" Essa era a pergunta que apoiadores faziam enquanto Fred Rodrigues (PL), candidato derrotado à Prefeitura de Goiânia, entrava na sede do PL Goiás, na noite deste domingo (27).

Alguns eleitores não conseguiram esconder um leve desapontamento ao ver que a resposta era não, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não vinha.

Fred chegou por volta das 19h, pouco mais de 30 minutos após o resultado, acompanhado apenas da esposa e do senador Wilder Morais (PL-GO).

Depois de passar todo o domingo de eleição em Goiás, o ex-presidente voltou para Brasília, quando foi confirmada a derrota do bolsonarista.

Fred Rodrigues e Sandro Mabel, que disputaram o segundo turno em Goiânia
Fred Rodrigues e Sandro Mabel, que disputaram o segundo turno em Goiânia Imagem: Alego/Câmara dos Deputados

Briga aberta com Caiado

A eleição goiana ganhou importância pessoal para Bolsonaro, em disputa por território com o governador Ronaldo Caiado (União). Não à toa, das nove capitais onde o PL disputou segundo turno, o ex-presidente tirou o dia para visitar apenas os três maiores colégios eleitorais de Goiás (Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis), as cidades com segundo turno no estado.

No combate direto com Caiado, Bolsonaro levou a pior: Sandro Mabel (União), nome escolhido pelo governador depois de fazer pesquisas qualitativas na cidade, foi eleito com 55% dos votos.

Empresário e ex-deputado, Mabel virou sobre Fred, que passou em primeiro no início de outubro, com seis pontos de vantagem.

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Na manhã de hoje, Bolsonaro se mostrava confiante. Bem-humorado, fez piadas sobre romper com Caiado ("Caiadismo? Não conheço!") e criticou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que autorizou a operação da Polícia Federal contra o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) na sexta-feira ("Sempre ele!").

Bolsonaro não mostrava pressa. Tirou pelo menos cem fotos com apoiadores e aguardou do lado de fora dos locais de votação, conversando com eleitores e imprensa, enquanto seus candidatos votavam.

Questionado na coletiva, Fred desconversou: disse que o presidente tinha uma agenda em Brasília e já estava combinado que só ficaria até as 17h, início da apuração. "Ele cumpriu seu compromisso", garantiu o candidato, que disse ter sido parabenizado pelo ex-presidente.

A reportagem viu, no entanto, o momento em que Bolsonaro deixou a casa do senador Wilder Morais, no Setor Marista, em Goiânia, pouco antes de decretada a derrota, e havia, sim, uma expectativa de que ele só fosse embora depois da coletiva.

Curiosamente, Fred deu a entrevista ao lado de um Bolsonaro de papelão. O modelo, em tamanho real e com bottom do candidato, estava postado ao lado do púlpito de entrevista com o logo do PL na sede. Antes de o candidato chegar, alguns apoiadores tiraram selfies com o boneco impresso.

Fred Rodrígues (PL) ora com apoiadores após derrota em Goiânia
Fred Rodrígues (PL) ora com apoiadores após derrota em Goiânia Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL
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Uma derrota ao vivo: resignação e oração

O clima na sede do PL não era dos melhores, mesmo antes de sacramentado o resultado. Havia uma esperança de vitória entre os peelistas goianos que ia além das pesquisas, que indicavam empate técnico com pequena vantagem para Mabel.

Em quarto nas pesquisas durante toda a campanha do primeiro turno, Fred começou a crescer nos apontamentos da sexta-feira pré-eleição, após o debate da TV Globo e vídeos gravados por Bolsonaro e pelo ex-coach Pablo Marçal (PRTB), então candidato em ascensão em São Paulo.

No primeiro turno, as urnas trouxeram uma notícia ainda mais animadora: ele não só tinha ido para o segundo turno, tirando da jogada a deputada Adriana Accorsi (PT), como passado em primeiro.

Isso trouxe confiança para a campanha e para os apoiadores que — como nesta noite na sede estadual — passaram a rechaçar pesquisas, remetendo, inclusive, à campanha vitoriosa de Bolsonaro em 2018.

À noite, os cerca de quarenta apoiadores que foram ao local próximo à Praça do Sol, no Setor Oeste, olhavam a televisão com resignação. A tela central reproduzia imagens de um computador, logado no site do TRE-GO (Tribunal Regional Eleitoral de Goiás), indicando a vitória de Mabel.

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Decretada a derrota, a televisão passou a mostrar um programa local de política, uma mesa-redonda que comentava os resultados em Goiás. Em dado momento, exibiu o périplo de Caiado e seu candidato vitorioso em meio a apoiadores eufóricos no Palácio das Esmeraldas, sede do governo.

A resignação virou irritação e curiosidade quando Mabel começou a falar. O operador logo trocou a entrevista para uma página do YouTube que exibia o jingle de Fred em looping com uma foto ao lado de Bolsonaro de fundo.

Fred foi recebido a gritos. Apoiadores com camisas do Brasil ou verde-amarelas o parabenizaram por ser "direita de verdade". Ele parecia tranquilo. Respondeu a todas as perguntas da coletiva, fez piada com eleitores e agradeceu ao apoio, que chamou de orgânico.

"Quando fizeram a contagem de gasto por voto, vão ver como fomos vitoriosos", chancelou.

Ele citou ainda Gayer, a quem chamou de "irmão", pelo crescimento eleitoral: de quarto na disputa a prefeito em 2020 a deputado mais votado do estado em 2022.

O deputado, alvo de operação da PF por suspeita de desvio de verba parlamentar, foi o principal responsável pela indicação de Fred dentro do PL goiano, depois de ele mesmo, que liderava as pesquisas, desistir da disputa no início do ano. O candidato disse, no entanto, que não pensa em se candidatar à Câmara.

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Em meio ao toró que começou a cair na capital goiana, Fred passou mais meia hora conversando com os apoiadores, que esperavam, aflitos, a água baixar. Por volta das 20h, decidiu reunir os poucos que restaram para uma oração, convocada pela esposa.

"Até Jesus perdeu uma eleição", justificou ela, em fala breve depois dele, para confortar os apoiadores.

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