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Servidora da Presidência, médium é investigada pelo MP por estelionato

O MP-DFT (Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios) investiga por estelionato a advogada Maira Alexandrina Leobino Freitas Nogueira, assessora do gabinete da Secretaria Especial de Acompanhamento Governamental da Presidência da República.

Além de estelionato, ela é suspeita de cometer outros sete delitos, entre eles coação e crimes contra a administração pública. As acusações envolvem cartas psicografadas por ela em eventos espíritas.

Maira Rocha, como é conhecida, é dirigente da Casa de Caridade Inácio Daniel, fundada em Brasília em 2018.

Um dossiê encaminhado ao MP-DFT, ao qual o UOL teve acesso, aponta indícios de manipulação e exploração emocional de pessoas em situação de vulnerabilidade por parte da médium.

Segundo a denúncia, além de coletar informações em redes sociais previamente para usar em cartas psicografadas, a mulher usou indevidamente seu cargo no governo para obter dados pessoais das vítimas.

O documento cita também um esquema de tráfico de informações envolvendo outros servidores públicos integrantes da Casa Inácio Daniel.

Na quinta-feira (14), o MP-DFT confirmou à reportagem que foi instaurado um procedimento investigativo para apurar a denúncia. "O teor será analisado por uma Promotoria de Justiça Criminal", diz o texto.

Em nota à reportagem, Maira Rocha e o centro espírita negam as acusações e dizem ser "alvo de perseguição e intolerância religiosa".

A assessoria de imprensa da Presidência da República afirmou desconhecer a investigação e informou que a servidora não tem acesso a dados do governo federal.

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Rede de influência

Maira Rocha tem mais de 230 mil inscritos em seu canal no YouTube, e o centro liderado por ela ultrapassa 490 mil seguidores no Instagram.

Vídeos publicados na internet mostram a médium em reuniões públicas lendo cartas atribuídas a pessoas que já morreram. Os eventos ocorrem com a presença de plateia com familiares.

Maira Rocha
Maira Rocha Imagem: Casa da Caridade Inácio Daniel/Reprodução

Os textos lidos por ela nos encontros religiosos seriam baseados em informações coletadas de redes sociais e registros públicos, e não em "mensagens espirituais", diz o relatório apresentado ao MP-DFT.

Fontes ouvidas pelo UOL contam que Maira Rocha exige inscrição antecipada daqueles que desejam participar das sessões de psicografia.

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O centro solicita dados como nome completo e número de telefone — o que, segundo as fontes, facilita na captura de dados.

Os inscritos ainda precisam confirmar a presença via WhatsApp, sob risco de cancelamento.

Segundo autores da denúncia, a médium e a equipe dela acessavam a partir dessas informações, com antecedência, dados pessoais para incluir em mensagens.

Entre os exemplos citados está uma carta atribuída a uma ciclista, com informações supostamente pesquisadas em publicações na internet.

A carta faz referência a expressões utilizadas em redes sociais pela mulher falecida e informações escritas em legendas de fotos.

A mãe da vítima, no entanto, chegou a divulgar um vídeo confirmando a autenticidade da mensagem, em apoio a Maira.

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Outros servidores públicos ligados à médium e à Casa Inácio Daniel também estão na lista de denunciados.

Entre eles estão um procurador, um analista do Tribunal de Justiça e um delegado da Polícia Civil do Distrito Federal.

A suspeita é de que os servidores tenham acesso a informações de inquéritos e processos e repassem esses dados a Maira.

A denúncia relata que familiares teriam sido pressionados e manipulados a fazer contribuições financeiras para a casa religiosa.

Maira Rocha
Maira Rocha Imagem: Casa da Caridade Inácio Daniel/Reprodução

Procuradas pelo UOL, a Casa de Caridade Inácio Daniel e a médium Maira Rocha disseram desconhecer "a existência de qualquer processo de investigação relacionado aos fatos mencionados" e se colocaram "à disposição para colaborar plenamente com as autoridades em quaisquer apurações que se façam necessárias".

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A nota diz que Maira "tem sido alvo de perseguição e intolerância religiosa, tendo como principal instrumento a difamação, em uma tentativa de descredibilizá-la".

Esses casos, dizem, foram registrados na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes de Discriminação Religiosa do Distrito Federal.

A Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República afirmou que "jamais foi informada acerca de qualquer procedimento investigatório do Ministério Público sobre a servidora citada nem recebeu qualquer pedido de informação a respeito da conduta da mesma".

A Presidência também informou que Maira "não tem acesso a nenhum banco de dados do governo federal, exceto àqueles de natureza administrativa afeitas ao desempenho de suas funções profissionais".

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