Cirurgião plástico de famosos é cassado na Justiça: 'Consciência tranquila'
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Herbert Gauss Júnior, 71, cirurgião plástico condenado a pagar indenizações a pacientes em mais de 20 processos, teve registro cassado e está impedido de atuar como médico.
A decisão foi tomada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região em novembro de 2024, confirmando uma medida do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) tomada há cerca de dez anos.
Procurado, o médico disse se tratar de uma decisão "inapropriada", que suspendeu seus atendimentos, mas já recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) para tentar reverter a cassação.
Em abril de 2024, o UOL publicou uma reportagem mostrando o histórico de processos aos quais Gauss respondia e as reclamações das ex-pacientes. Também conversou com 15 mulheres que afirmam ter sido vítimas do médico.
Processo após participação no Programa do Gugu
O processo que levou à cassação do médico foi aberto pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) em 2006.
Ele havia sido cassado em 2014, mas recorreu da decisão na Justiça e conseguiu revertê-la em primeira instância, alegando que o caso estava prescrito.
O conselho médico recorreu, e a decisão foi revertida em novembro. Agora, diz o médico, o caso escalará para os tribunais superiores.

"Tenho a consciência tranquila. Meu advogado já entrou com os embargos", diz ele.
Gauss afirma que o processo foi aberto após uma participação dele no "Programa do Gugu", e a denúncia teria sido por propaganda de serviços médicos, o que é vetado pelo CFM.
Famoso desde a década de 1990, Gauss já teve entre seus pacientes Hebe Camargo, a cantora e dançarina Gretchen e o cantor Leandro, da dupla com Leonardo.
Na decisão de cassação, o órgão afirma que ele infringiu três artigos do Código de Ética:
- Deixou de cumprir uma requisição, intimação ou notificação;
- fez publicidade indevida, divulgando seu trabalho sem que tivesse caráter exclusivamente de esclarecimento e educação;
- divulgou "informação sobre assunto médico de forma sensacionalista, promocional ou de conteúdo inverídico".
Registro foi cassado duas vezes
As queixas feitas por pacientes contra Gauss na Justiça, como mostrou o UOL em abril do ano passado, citam "erro médico", negligência no pós-operatório, cicatrizes mal feitas, seios desproporcionais e tortos e mamilos assimétricos, entre outros problemas.
Na época, o Cremesp afirmou à reportagem que o registro do médico havia sido cassado em duas ocasiões, mas as decisões foram revertidas na Justiça.
"Ele continua trabalhando por meio de liminares judiciais", disse o órgão, em nota. Havia outros processos em curso, mas todos sob sigilo.
Acusações contra o médico vêm, pelo menos, desde 1999. Os processos apontam outras queixas além dos erros médicos, como procedimentos pagos e não realizados (exemplo: foi colocada prótese de silicone mas as mamas não foram levantadas na mastopexia) e falta de aviso sobre riscos de cirurgias.
As sentenças contra Gauss têm sido contundentes.
Uma delas foi dada pelo juiz Mário Daccache, em março de 2018, ao analisar uma ação de indenização aberta por uma agente administrativa, moradora da zona leste de São Paulo.
"A cirurgia não alcançou sua finalidade; pelo contrário, obteve resultado desastroso, causando dores físicas, emocionais e sequelas estéticas. O dano é evidente", afirmou o juiz, que determinou o pagamento de uma indenização de R$ 27 mil.
Nas defesas apresentadas à Justiça, Gauss afirma que as acusações são "absurdas e ilógicas", que "não possuem embasamento técnico" e que têm o objetivo de obter "lucro fácil".
Segundo ele, a obrigação de um médico é usar de conhecimento científico e de meios técnicos para tentar "eliminar ou reduzir o mal que acomete um paciente".
Mas "não há obrigação de curar o paciente ou garantir a ausência de sequelas", declara.
O médico afirma que sempre agiu com o zelo que os casos necessitavam. "Não há comprovação de culpa, negligência, imperícia ou imprudência."
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