Rompimento entre Emicida e Fióti teve acusação de desvio de R$ 6 milhões
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Uma disputa milionária ocasionou o rompimento artístico e familiar entre os músicos e irmãos Emicida e Fióti, mostra um processo civil que corre na 2ª Vara de Empresarial e Conflitos de Arbitragem de São Paulo.
O UOL teve acesso à documentação, em que Emicida diz que o irmão desviou, nos últimos nove meses, R$ 6 milhões das contas da empresa Laboratório Fantasma Produção Ltda, gerenciada pelos dois desde 2010.
Emicida também afirma que o irmão reclamava do salário mensal, de R$ 40 mil.
Fióti diz no processo ter feito um acordo para deixar a produtora com Emicida e que se surpreendeu ao ter o acesso negado às contas da Laboratório Fantasma.
Os autos, mesmo com pedidos das defesas de que estivessem sob sigilo, estavam disponíveis para consulta desde a manhã de hoje.
O caso veio à tona no último dia 28, quando Emicida anunciou em suas redes sociais que o irmão não representava mais os interesses de sua carreira.
A relação entre eles já vinha se deteriorando nos últimos tempos.
A versão de Fióti
Até 2010, cada um dos irmãos tinha 50% das quotas sociais da empresa, diz a defesa de Fióti.
Em 2014, a Laboratório Fantasma se transformou em Eireli (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada), permanecendo assim até 2024.
Em 2024, Fióti voltou ao quadro social da empresa detendo 10% das quotas sociais, enquanto Emicida mantinha 90% do total.
Uma das sociedades do grupo, a Laboratório Fantasma Comércio de Roupas Ltda tem participação societária exclusiva de Fióti, mas dividida em proporções iguais.
Em 22 de novembro de 2024, Emicida teria explicitado o desejo de separação da sociedade.
Um acordo foi assinado em cartório para que o rompimento ocorresse de maneira "equilibrada" entre os irmãos.
A defesa de Fióti afirmou à Justiça em 12 de março de 2025 que Emicida cometeu atitudes "descabidas", "ilegais" e "irresponsáveis", impedindo que Fióti participasse da administração das empresas.
Fióti afirma que ficou surpreso ao se deparar com um bloqueio de acesso a todas as contas das empresas.
Ao questionar o banco, Fióti teria recebido a resposta de que Emicida revogou a procuração assinada anteriormente, também em cartório.
Assim, Emicida teria passado a ter acesso exclusivo às contas das empresas.
A versão de Emicida
Emicida afirmou que iniciou sua carreira musical em 2005. E que, em 2010, quando decidiu criar sua própria gravadora, convidou Fióti por entender que o irmão tinha uma visão apurada de negócios.
À época, segundo Emicida, houve um acordo verbal que delimitaria em 70% dos ganhos para ele, enquanto Fióti ficaria com 30%.
A defesa de Emicida afirma que 80% dos ativos da empresa provêm da carreira do rapper. E que, por conveniência, manteve "expressiva parte" de seus faturamentos nas contas da empresa.
Emicida explicou à Justiça que há uma divergência com Fióti, porque o irmão entende que sua remuneração, de R$ 40 mil por mês, não seria o suficiente.
Também disse que assinou o acordo no cartório porque tinha como principal objetivo não ter mais sua carreira atrelada ao irmão.
No entanto, Emicida disse que se surpreendeu ao perceber, em janeiro de 2025, uma transferência de R$ 1 milhão da conta da empresa para Fióti. Em fevereiro, outra transferência ocorreu para Fióti, de mesmo valor.
Emicida afirma que, desde meados de fevereiro de 2025, o irmão decidiu se afastar da empresa, dedicando apenas 2 horas por dia aos assuntos da empresa.
Emicida justifica que a revogação em cartório do acordo ocorreu por essas transferências.
No entanto, após auditoria interna feita em março de 2025, a defesa de Emicida informou que descobriu que Fióti transferiu para suas contas pessoais, entre junho e julho de 2024, outros R$ 4 milhões.
"[Fióti], lamentavelmente, promoveu o saque de R$ 6 milhões nos últimos nove meses, sem a ciência prévia ou a autorização do [Emicida], que possui 90% das quotas da requerida Laboratório Fantasma Produções Ltda e é o administrador da sociedade", diz a defesa.
Foram anexados ao processo os prints das transferências bancárias.
À Justiça a defesa de Fióti afirmou que as transferências mencionadas foram acordadas anteriormente para "equalizar a disparidade histórica nas retiradas feitas exclusivamente por [Emicida]".
O fim
Fióti, junto de seu advogado Paulo Cassio Nicolellis, decidiu processar Emicida em 14 de março de 2025.
A defesa de Fióti pediu bloqueio de contas das empresas que dividem, que não haja nova assinaturas de contratos e que Emicida seja impedido de se apresentar como único sócio.
Um dia antes, Fióti convocou e realizou uma reunião com os colaboradores da Laboratório Fantasma Produção Ltda, que havia sido lançada em 2010.
Fióti expôs sua versão sobre seu afastamento das funções gerenciais e desqualificou a decisão tomada por Emicida de afastá-lo da empresa.
Na mesma reunião, Emicida expôs sua versão aos colaboradores e ratificou sua intenção de exercer a administração da sociedade, conforme ato societário.
Em 27 de março, uma nova reunião, convocada por Emicida, ocorreu. Nela, ele expôs as divergências societárias divergentes e anunciou a revogação de poderes que Fióti tinha anteriormente.
No dia seguinte, Emicida anunciou em suas redes sociais o rompimento com Fióti.
No final da tarde de hoje, o juiz Guilherme de Paula Nascente Nunes indeferiu os pedidos de tutela cautelar de Fióti contra Emicida e Laboratório Fantasma. Agora, Fióti tem cinco dias para se posicionar nos autos.
Já no início da noite, Fióti afirmou em suas redes sociais que nunca desviou qualquer valor e que todas as movimentações foram "transparentes, registradas e seguindo os procedimentos financeiros adotados pelos gestores".
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