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Uso equivocado da internet pode prejudicar democracia

A pesquisadora Ellen de Aquino, palestrante do Festival Path 2019 - Da redação/UOL
A pesquisadora Ellen de Aquino, palestrante do Festival Path 2019 Imagem: Da redação/UOL

Letícia Naísa

do TAB, em São Paulo

01/06/2019 15h37

As eleições de 2018 foram movimentadas nas redes sociais. Pela primeira vez na história da jovem democracia brasileira, postagens da internet ajudaram a definir os rumos da eleição e a eleger de fato um presidente.

Para entender o fenômeno, o Instituto Tecnologia e Equidade (IT&E) produziu uma pesquisa que explora o universo das fake news e os bots usados para propagá-las. Em "Desinformação nas eleições: Desequilíbrios acelerados pela tecnologia", a pesquisadora Ellen Aquino explora as origens, tipos e diversas características nas notícias falsas que circularam durante o período eleitoral.

O tema foi abordado durante o Festival Path neste sábado (1°). O maior evento de inovação e criatividade do país acontece neste fim de semana na região da Avenida Paulista, em São Paulo. Neste ano, o Path é apresentado pelo TAB.

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A pesquisa da equipe de Aquino faz parte do projeto White Paper do instituto, sobre desinformação nas eleições de 2018. Segundo a pesquisadora, desde 2014 é observado um movimento de uso das redes para influenciar a intenção de voto e o voto em si. Por isso, era previsto que, em 2018, quem soubesse usar a tecnologia a seu favor poderia sair na frente.

"Entendemos que a tecnologia ia passar sim por um ponto que ia ser um pilar dentro dessas novas eleições. Ao meu olhar, essas eleições não seriam uma guerra de valores, seria uma guerra de quem melhor utilizasse essa tecnologia", afirma. "A tecnologia não determina uma sociedade, mas ela tem poderes, mecanismos para influenciar o comportamento."

Não vale tudo

Em sua fala, a palestrante do Path relembrou movimentos que surgiram a partir das redes sociais, como a Primavera Árabe (2011) e as ocupações em Wall Street. "A tecnologia é importante para a mobilização, mas é preciso um diálogo entre online e offline", diz.

Quando se trata de eleições, no entanto, é preciso tomar cuidado com o poder gerado pelas palavras e ações na rede. "Não vale tudo, não vale nossos dados custarem dinheiro, não vale usar bot. Não vale tudo quando se trata do meu sufrágio, do meu poder enquanto pessoa", diz Aquino.

Para a pesquisadora, o poder que as redes sociais tiveram nas eleições fragiliza a democracia. "Ela é feita não por máquinas, mas por humanos, por cada um de nós. Virou uma guerra e pouco se falou sobre o conceito de democracia. Está na hora de resgatar esse valor que está sendo perdido."

Para as eleições de 2020, o IT&E está preparando um novo estudo mais focado em ações individuais de combate à influência da tecnologia nas eleições. "Vamos trabalhar pelo lado de como o cidadão informado pelo uso de tecnologia pode criar uma resiliência. Vamos entender como a comunidade se constrói e como o cidadão tem poder", conta.