Milhões de views, tecnologia e público fiel marcam domingo de shows no Path
A chuva que insistiu em não cair no sábado veio mansa desde a madrugada do domingo. O segundo dia do Festival Path teve um ar de São Paulo antiga, de garoa. A Avenida Paulista, fechada para os carros e aberta aos pedestres, bikes, crianças, cachorros, patinetes e lazer nos lembra que dia é hoje e também transfere um pouco da responsabilidade do trânsito à Alameda Santos.
O som que começou ao meio-dia e continuou entre os shows foi o do DJ Telefone, que iniciou com clássicos da MPB em vinil, como "Pernalonga", de Di Melo, e depois adotou a discotecagem com o Traktor (plataforma digital que é manuseada também com disco de vinil).
Dois DJs e 11 shows completaram quase 16 horas de música ao ar livre, de graça.
O primeiro show do dia 2 de junho, às 14h, foi com o trio paranaense Tuyo. Jean Machado e as irmãs Lio e Lay Soares subiram ao palco diante de uma chuva fina, que ficou forte e depois sumiu, para apresentar seu som indie-post-rock-fofo. "É assustador. A gente não imagina que ia ter essa galera para o show mesmo com esse tempo. O pessoal sabia o que ia acontecer, sabia que ia chover, veio de longe, mas veio estar aqui junto", afirma Jean. Ele também fala sobre o público da capital paulista. "Tem muita gente aqui, tem uma galera muito aberta para o que está acontecendo, que incentiva e faz parte do que está acontecendo. Além do algoritmo, estamos muito no espírito de se jogar no rolê aqui."
O Tuyo saiu do palco com o público cantando apaixonadamente a canção "Solamento".
A plateia, que mesmo em meio à chuva forte se manteve firme na Praça Alexandre de Gusmão, coloriu a paisagem com guarda-chuvas (muitos eram pretos, é bem verdade) e fincou o pé na lama para a apresentação do grupo Melanina MC's, formado por mulheres negras da Grande Vitória, no Espírito Santo. Já na primeira canção o recado foi dado no palco: "Não passo pano". Mary Jane, Geeh, Loli e Afari MC falaram de empoderamento feminino e periférico e mostraram, em rimas, um discurso combativo.
O bloco de rap do meio da tarde foi completado com o show do Quebrada Queer. Os MCs Murilo Zyess, Tchelo Gomez, Guigo, Harlley, Lucas Boombeat e a DJ Apuke trouxeram cor ao dia nublado e um discurso de periferia LGBT que dialoga com apresentações e palestras que aconteceram nos dois dias do Festival Path.
Zyess fala sobre a importância de ocupar espaços como o deste domingo. "Todo mundo é da periferia e preencher e ocupar esses espaços é muito gratificante. As nossas vivências ficaram bem nítidas. Vemos os nossos fãs cantando e toda vez que eles cantam parece que eles estão sentindo de novo igual a gente".
O grupo apareceu há um ano com uma cypher batizada de Quebrada Queer e hoje já ultrapassa os dois milhões de views no YouTube. "Sem internet a gente não iria conseguir fazer com que nossa mensagem se espalhasse", diz o MC. "Nós somos artistas independentes e todo o nosso trabalho digital é feito por nós mesmos."
Um homem chega à praça com uma cadelinha pequena sem raça definida toda pretinha. Ela vem sem coleira e dispara pelo gramado fazendo uma grande volta. Ele, calmamente caminha enquanto ela gasta a energia do domingo chuvoso.
O quarto show deste 2 de junho é da banda curitibana Mulamba, formada só por mulheres: Amanda Pacífico, Cacau de Sá, Caro Pisco, Érica Silva, Fer Koppe e Naíra Debértolis. O grupo trouxe uma estética psicodélica e também um discurso de empoderamento feminino numa formação de bateria, baixo, guitarra e violoncelo. "P.U.T.A", primeiro single e faixa que deu projeção ao sexteto também já passou da casa das duas milhões de visualizações no YouTube.
A noite caiu sem pingos do céu na Praça Alexandre de Gusmão. Para fechar a programação musical - e o Festival Path 2019 - a big band Black Mantra se juntou ao rapper BNegão para um tributo ao álbum triplo de Tim Maia, o clássico "Racional".
Ok, neste momento você deve estar se perguntando qual é a relação de um disco lançado em 1975 com um evento voltado à criatividade e à tecnologia. Caio Leite, baixista da Black Mantra, explica a conexão. "Com certeza o Tim Maia é um cara atemporal, e hoje essas possibilidades de escutar e consumir música fazem com que ele continue sendo atual em diversas plataformas". E ele completa. "Esse disco, que vamos tocar inteiro hoje, é o lançamento mais recente do Tim Maia nas plataformas digitais".
Relançado em abril de 2019, o "Racional", um dos discos de vinil mais raros do Brasil e uma das preciosidades da música produzida no país, ganhou vida com BNegão e a Black Mantra. Bateria, baixo, guitarra, teclado e um naipe com quatro metais. A banda atacou dois temas instrumentais e o MC entrou numa versão mântrica de "You Don't Know, What I Know", seguiu com "Queira ou Não Queira" e por uma hora e 30 minutos brindou o público, que não arredou o pé, até às 19h30.
O Festival Path, Maior evento de inovação e criatividade do país, e apresentado neste ano pelo TAB, teve mais de 200 atividades que passearam pela região da Avenida Paulista. No início da noite, ela voltou a ser aberta para os carros - um lembrete de que o fim de semana está acabando.
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