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Todxs e todes: estudos indicam que a língua neutra diminui preconceitos

Getty Images
Imagem: Getty Images

Do TAB

Em São Paulo

15/08/2019 13h51

Repensar a linguagem para que ela vá além do binarismo homem/mulher e não trate nomes e pronomes masculinos como padrão realmente tem algum efeito na sociedade? Pesquisas indicam que sim.

Estudiosos da Universidade de Washington desenharam bonecos simples, sem gênero, com um balão de pensamento cheio de interrogações e outro cheio de exclamações. Em seguida, separaram 3.900 suecos em três grupos para criarem histórias com os personagens. Um grupo podia usar apenas pronomes femininos, outro apenas masculinos e um terceiro poderia usar termos neutros como "hen", um pronome não-binário usado na Suécia. Os participantes do terceiro grupo criaram histórias menos centradas em palavras masculinas e mais inclusivas com minorias.

O termo "hen" é uma alternativa sem gênero a "hon" (ela) e "han" (ele). Ele ganhou visibilidade no vocabulário sueco em 2012 quando o autor Jesper Lundquist empregou-o no livro infantil "Kivi e o Monstro Cachorro". Na obra, o protagonista não tinha gênero. A palavra "hen" já havia sido criada na década de 1960 e foi inspirada no "hän", dos finlandeses, que cumpre a mesma função.

Após o lançamento da obra, um linguista publicou em um jornal sueco que a vida devia imitar a arte, sugerindo que todos adotassem o pronome. Os suecos passaram a discutir, alguns veículos baniram o termo e outros o abraçaram. Após dois anos de vai e vem, o Conselho da Linguagem Sueco reconheceu oficialmente o pronome sem gênero. Hoje a palavra é comum no país e usada no dia a dia. Ainda há quem se oponha, mas o número é cada vez menor.

Como o termo não era usado antes de 2012, não há como comparar com testes anteriores. Ainda assim, os resultados indicam como criar novos termos ajuda a mudar a cultura. "[Hen] É uma palavra sem associações biológicas. Ela vem do zero. E está funcionando do jeito que disseram que iria funcionar", diz Efrén Pérez, pesquisador de psicologia política na Universidade da Califórnia, à revista Wired. "Essas linguagens podem empurrar as pessoas em direções que alguns consideram dignas".

Pérez publicou um estudo na revista Nacional de Ciências dos Estados Unidos revelando que linguagens mais inclusivas fazem com que opiniões de massa sejam mais igualitárias em relação a gêneros e LGBTs. "Você não percebe diferentes realidades, mas coloca mais ou menos ênfase em diferentes aspectos", diz. Novos termos que abracem outras possibilidade de gênero, como o "hen" sueco ou os "todes" e "todx" em português, funcionam no sentido oposto da censura: em vez de apagar ideias da cultura, simplesmente contribuem trazendo mais opções e alternativas.

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