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Pregação robótica: em rituais, máquinas substituem padres e sacerdotes

No Japão, templo budista de 400 anos introduz robô como pregador - Foto: reprodução
No Japão, templo budista de 400 anos introduz robô como pregador Imagem: Foto: reprodução

Do TAB

Em São Paulo

10/09/2019 14h29

Em um templo budista de 400 anos em Kyoto, no Japão, os visitantes são atendidos por Mindar, um robô metálico que anda pelo ambiente dando sermões. O androide foi criado à imagem e semelhança de Kuan Yin, deidade associada à misericórdia no budismo. Apesar de ter custado US$ 1 milhão, a máquina não tem inteligência artificial - ela apenas se movimenta e repete falas previamente programadas sobre o "Sutra do Coração". É a versão robótica do biscoitinho da sorte.

Longe de ser uma exceção, Mindar é mais um exemplo na tendência. Em 2017, indianos usaram um robô para fazer parte de um ritual conhecido como Aarti. Na ocasião, a máquina ficava mexendo uma vela - algo que normalmente seria feito por um sacerdote.

No mesmo ano, em comemoração aos 500 anos da Reforma Protestante, os alemães criaram um robô chamado BlessU-2 para distribuir bênçãos previamente programadas a mais de 10 mil pessoas.

Um designer de robôs na universidade japonesa de Waseda, Gabriele Trovato, criou um robô católico chamado SanTO, que recita trechos da Bíblia. Quando alguém diz à máquina que se sente sozinho, o santo robô cita um versículo do evangelho de Mateus: "Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal".

Em entrevista ao The Wall Streeet Journal, Trovato defende que o robô pode ajudar idosos e pessoas com problemas de movimentação que não podem ir à igreja. Com a tecnologia, eles têm uma representação para conversar sobre sua fé dentro de casa.

Como robôs podem mudar o futuro da religião

Enquanto alguns defendem que as máquinas podem atrair mais devotos e facilitar o acesso a locais onde não há sacerdotes disponíveis, há o temor de que a tecnologia torne o exercício religioso muito impessoal, como nota artigo no site da Vox.

Robôs como o Mindar têm propostas mais ambiciosas: a ideia é usar a tecnologia para atrair mais devotos. Em entrevista ao Washington Post, Tensho Goto, chefe do templo em Kyoto, dizem que no futuro o robô deverá ter inteligência artificial. "Este robô nunca irá morrer; ele irá ficar se atualizando e evoluindo. Com a IA, esperamos que ele se torne mais sábio e ajude as pessoas a lidar com os problemas mais difíceis. Está mudando o budismo", comenta.

Goto comenta que não é estranho ter uma máquina, porque a fé budista "não é uma crença em Deus; é seguir o caminho de Buda. Não faz diferença se é representado por uma máquina, um pedaço de metal ou uma árvore", diz ao jornal.

Embora no Ocidente outras fés sejam mais dualistas, há quem veja semelhanças entre imagens divinas e robôs. É o caso da historiadora Adrienne Mayor que, em entrevista ao TAB, afirmou que, há mais de 2.000 anos, os homens já imaginavam robôs na Grécia e que, na mitologia grega, Zeus teria enviado robôs ao mundo.