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Alcance e impacto do movimento #MeToo no Twitter viram tema de pesquisa

Mulheres usam a hashtag #MeToo em protesto em Paris contra abuso sexual  - Bertrand Guay/AFP - 29.10.2017
Mulheres usam a hashtag #MeToo em protesto em Paris contra abuso sexual Imagem: Bertrand Guay/AFP - 29.10.2017

Do TAB, em São Paulo

12/09/2019 15h25

Dois anos após a explosão de denúncias de casos de abuso sexual e de assédio nas redes sociais por meio da campanha #MeToo, uma pesquisadora da Universidade de São Francisco, nos Estados Unidos, analisou 12 mil postagens relacionadas ao protesto.

Apesar de o movimento ter viralizado no final do ano de 2017, o Me Too foi fundado há mais de dez anos por Tarana Burke para ajudar vítimas de estupro. Com a hashtag nas redes sociais, houve mais de 1,5 milhão de respostas com histórias de outras mulheres que sofreram abuso, além de mensagens de apoio.

Sepideh Modrek, professora da faculdade de economia da Universidade Estadual de São Francisco, usou uma técnica de inteligência artificial chamada aprendizado de máquina para analisar o conteúdo das primeiras postagens feitas entre 15 e 21 de outubro de 2017 nos Estados Unidos.

A filtragem das mensagens descobriu que 11% dos tuítes singulares (sem retuítes, respostas, links ou fotos) incluem relatos de violência sexual ou abuso. Cerca de 6% dos casos aconteceram com mulheres jovens, com menos de 22 anos.

Outra característica das postagens na plataforma é o perfil de quem tuitou: mulheres brancas, com idade entre 25 e 50 anos. Alguns dos relatos haviam acontecido há quase 30 anos. "Elas ainda se lembram. Há um trauma duradouro claro associado a cada divulgação", diz a pesquisadora.

"Fiquei chocada com o fato de que as pessoas estavam compartilhando detalhes. Escreviam coisas como 'quando eu tinha 15 anos, isso aconteceu'", diz Modrek. "Pude ver detalhes íntimos compartilhados em um fórum público de uma maneira que nunca pensei que as pessoas fariam. Fiquei impressionada e encantada."

Modrek observa no artigo, publicado na revista científica Journal of Medical Internet Research em 3 de setembro de 2019, que outras vozes, como as de mulheres americanas negras, expõem menos detalhes no Twitter, mas elas têm mais chance de passar por situações de abuso e assédio.